O ÚLTIMO CARNAVAL DE JERRY LEWIS

Não sei se Jerry Lewis gostava de carnaval. Não há registro de sua presença no “baile de Gala da Cidade do Rio de Janeiro” que atraía celebridades hollywoodianas nos anos em que o comediante brilhava nas telas de cinema.

Há indícios que Jerry o homem, não o artista, era conservador e cheio de preconceitos. Talvez achasse a folia momesca algo um tanto quanto grotesco.

O cômico Lewis este sim, tenho certeza que fez uma tremenda farra ao lado da nossa “pequena notável”, no filme Scared Stiff (Morrendo de Medo,1953). Acompanhando os protagonistas Jerry Lewis e Dean Martin nos números musicais, está Carmen Miranda.

O enredo do filme narra as aventuras de um cantor e seu parceiro atrapalhado que são perseguidos por um gângster ciumento. Na fuga, são ajudados por uma herdeira de uma grande propriedade em Cuba. Quando a herdeira está para pegar o navio para tomar posse de sua herança, o cantor descobre que ela vem sendo ameaçada de morte. Além disso, a propriedade, um castelo medieval, tem fama de ser mal assombrada. Os dois resolvem ir para a Cuba com a moça, e entram para o show da cantora Carmelita Castinha, apresentado a bordo.

Carmen Miranda era Carmelita Castinha, de nacionalidade indefinida, apesar de algumas frases em português. Ela praticamente não participa da história, é uma peça decorativa, sem nenhuma função na trama. Aparece na condição de estrela em dois números musicais ao lado de Dean e Jerry, que também imita a cantora.
Na biografia de Carmem, Ruy Castro afirma que a cantora: filmou mais um número, que teria sido cortado, porque Jerry Lewis não admitia dar espaço a ninguém em um filme. (mesmo Dean Martin tinha de lutar pelo seu).

Rui Castro ressalta que Carmem Miranda aos 44 anos, com excesso de peso e sem fôlego, parece lançar mão de suas últimas reservas físicas e mentais para obedecer às marcações do coreógrafo e sobretudo à hiperatividade de Jerry Lewis na interpretação das canções “The bongo bingo” e “The enchilada man”, deixando transparecer em seu rosto a satisfação de haver conseguido concluir os seus números. Foi o último e pior filme da artista luso-brasileira, que morreria dois anos depois.

No show apresentado no navio, Jerry Lewis se traveste de Carmen Miranda, com os tradicionais tamancos e chapéu de frutas. Ele canta em português a canção Mamãe eu quero (de Vicente Amorim e Jararaca, 1937), comendo uma banana que apanhou do citado chapéu.

O artista Jerry era sublime, mas o homem Lewis, era egoísta, vingativo, preconceituoso. Não era estimado como pessoa.

O jornalista Guilherme Genestreti no jornal Folha de São Paulo citou alguns exemplos da homofobia e misoginia do nosso astro: Em 2000, num evento de humor, disse não gostar de comediantes do sexo feminino. “Penso nelas como máquinas de produzir bebês”. Durante uma maratona beneficente realizada em 2007, o ator fez piada com um parente imaginário seu, que ele chamou de “Jesse, The Illiterate Faggot” (algo como “Jesse, o viado analfabeto”). Lewis teve que se desculpar publicamente pelo comentário.

Em 2015, Lewis criticou o então presidente Barack Obama (“nunca foi um líder”), disse que refugiados deveriam ficar “na puta que o pariu onde estão” e elogiou a candidatura de Donald Trump: “Ele é ótimo porque é um ‘showman’. E nunca tivemos um na cadeira presidencial.”
Em seu testamento deixou claro que os seus seis filhos e seus descendentes não colocariam as mãos em sua fortuna. As únicas contempladas foram sua última mulher, SanDee e a filha adotiva Danielle. O primogênito, Gary Lewis, acusou seu pai de crueldade.

Jerry Lewis, um dos maiores comediantes do mundo, morreu no último 20 de agosto, aos 91 anos.

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