Volta Belchior!

Boa parte do que aprendi, em minha adolescência, foi através das músicas que ouvi em uma pequena vitrola. Caetano, Chico, Gonzaguinha, Ivan Lins, Milton, Elis, Bethânia, foram fundamentais na minha formação. Cresci acreditando “que uma nova mudança em breve irá acontecer…E o que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo e que precisamos todos rejuvenescer…

Um dos responsáveis por parte do que penso e sou, Belchior, de 70 anos, morreu na madrugada deste domingo (30/4) em Santa Cruz do Sul (RS).
Belchior apareceu no Festival Universitário da TV Tupi, em 1971, com a música “Hora do Almoço” que acabou ganhando o primeiro lugar do concurso.

O cantor e compositor consolidou sua carreira com três discos geniais, lançados de 1974 a 1977.

Há dez anos sumido da vida pública, foi um artista, que para alguns, optou em viver a liberdade que cantava. Músico de sucesso na década de 70, ficou recluso, se ausentando dos palcos. Abandonou tudo.

Há outros intelectuais, não muitos, que optaram pela misantropia: J.D. Salinger de “O apanhador no campo de centeio”, rompeu com o mundo e foi se esconder no interior dos Estados Unidos. O Poeta francês Rimbaud parou de escrever e passou o restante da vida viajando.

Na onda dos blocos temáticos, no carnaval deste ano, 2017,os fãs do cantor cearense criaram em Belo Horizonte o “Volta Belchior.”

De acordo com o idealizador do bloco, Kerison Lopes, o cordão tem por objetivo homenagear o “filósofo da música popular brasileira”. “Ele é um dos principais compositores que trata de questões sociais em suas letras. Não tem uma letra que não ensina algo, cada verso dele é carregado de poesia e de significado“, afirma.

Ao ser perguntado o que achava do sumiço do cantor, Pedro Martins, outro fundador da agremiação, respondeu: “Achamos espetacular. Numa época que todos estão super expostos, com redes sociais e selfies banais, um artista respeitado, como o Belchior, decide se isolar, fugir do mainstream e viver a vida dele é um exemplo. A vontade sincera nossa era ir junto com ele. Alguns até brincam que o bloco deveria chamar “me leva, Belchior”.

Entretanto, uma outra versão sobre o desaparecimento do bardo de Sobral circula: saídas disfarçadas em hotéis sem pagamentos de diárias, malas retidas, inadimplência no pagamento de pensões aos filhos, mais fugas, dívidas milionárias, roupas e materiais de trabalho abandonados às pressas passaram a ser a rotina do cantor e sua nova companheira no sul do Brasil.

Misantropia? Um pensador que quis romper com seu passado ou a louca escapada de um mau pagador? Em dias onde uma narrativa criada vale mais que a verdade propriamente dita, prefiro ficar com a memória do ídolo dos tempos da adolescência que se apresentava como um rapaz latino americano, sem dinheiro no bolso sem parentes importantes…e que se recusava a envelhecer, guardado por Deus, contando o vil metal..

Obrigado pelas belas canções. Valeu Belchior!

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