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Muitos Carnavais – Página: 3 – Sonhos de Carnavais

Mangueira uma escola com partido

A bandeira estendida ao final do desfile, com seu dístico transmutado, não deixou dúvida com relação ao posicionamento político da verde e rosa. Está do lado dos “pobres, negros e índios “.

Nos seu primeiros meses de governo, o presidente Bolsonaro criou sua própria agenda de dificuldades. Seu maior inimigo foi ele mesmo. Nem mesmo os partidos que prometiam “resistência” a manifestaram. O desfile da Mangueira foi o maior ato de repúdio ao atual governo, até agora. Pode parecer inacreditável , e é! Mas, nenhum partido de esquerda conseguiu se manifestar de forma tão contundente quanto a Estação Primeira.

Com o enredo “História para ninar gente grande”, a escola de Cartola não fez por menos, apontou seu surdo de primeira, na direção de uma das principais bandeiras do atual governo: a “escola sem partido”, e desenvolveu seu carnaval.

A crítica política que caracteriza o enredo vem ganhando espaço nas agremiações do grupo especial.

Em 2018, a reforma trabalhista foi impiedosamente criticada pela Paraíso do Tuiuti No mesmo ano, com uma estética sem filtros, empunhando a bandeira da luta contra a corrupção, violência, intolerância de gênero e racial a Beija Flor venceu a disputa.

O enredo da Mangueira tomou partido contrário ao projeto estapafúrdio que, a princípio, defende que se ensine conteúdos de forma imparcial. Ideia que na verdade esconde o objetivo de impor o “viés ideológico” do grupo dque governa.

Não existe conhecimento imune a posicionamentos A partir desse princípio, a Mangueira apresentou o embate entre a chamada história oficial e sua versão crítica. Sai: Anchieta, Caxias, princesa Isabel, Deodoro, D. Pedro I, e entram: Luisa Mahin, Dandara, Chico de Matilde.

Assumem o protagonismo personagens negligenciados da história: negros na luta pela liberdade, tamoios que lutaram contra o branco usurpador, aqueles que morreram enfrentado a ditadura militar. Os heróis dos barracões, nunca lembrados. Todos em cortejo, desfilaram na verde e rosa. Inevitavelmente, alguns nomes foram esquecidos: João Candido, o “Almirante negro” da Revolta da Chibata”, por exemplo.Um inequívoco “herói”negro.Nada que tirasse o brilho do desfile.

Ao remexer os baús da dita história oficial, as flechas da verde e rosa melindraram posicionamentos. Alguns historiadores, militares saíram em defesa dos ditos heróis constituídos. Caxias não foi bem aquilo que o texto publicado em um dos carros alegóricos da escola. Muito menos a princesa Isabel merecia a irrelevância total no processo da Abolição. Entretanto, o contraditório valorizou ainda mais a proposta do carnavalesco.

É preciso ressaltar, entretanto, que o resgate de heróis esquecidos pela história, há algum tempo foi incorporado ao ensino da história. Há algumas décadas a formação do docente de historia tem essa orientação. Desde dos anos setenta, do século passado, registramos a publicação de livros didáticos com essa orientação.

Nem como enredo de escola de samba podemos afirmar que o tema da Mangueira foi propriamente uma inovação do carnavalesco Leandro Vieira. Em 1960, o Salgueiro revolucionou o carnaval carioca contando a história Zumbi dos Palmares. Em 1963, “Xica da Silva”, 1965, “Chico Rei”. Em 1969, a vermelho e branco, “foi de aço nos anos de chumbo”, em plena ditadura militar, sob a batuta do grande carnavalesco Fernando Pamplona, “História da liberdade no Brasil” colocava o dedo na ferida.

Infelizmente, a atual conjuntura tornou necessário, mais uma vez, “tirar a poeira dos porões”. O assassinato de Marielle Franco foi o elo entre o passado e o presente. Além da presença de sua companheira no desfile, a vereadora foi citada no samba(o mais lindo do ano) e na comissão de frente. Uma heroína sob medida para o enredo da Estação Primeira.

Uma narrativa certa na hora certa. Não deu pra ninguém. Parabéns Mangueira!

Um país sem alvará

O carro “Um rio que era Doce” foi um dos grandes momentos do desfile da Portela , em 2017. Totalmente em barro, um pescador em pranto, chorava a tragédia de Mariana, ocorrida em novembro de 2015. Mal poderíamos imaginar, que quatro anos depois, a lama jorraria, outra vez, sobre outra cidade mineira Brumadinho.

Ao invés da participação de varias pessoas no carro, a “alegoria viva”, dessa vez Paulo Barros, optou em colocar somente um ator, Alexandre Maguolo. Uma homenagem aos pescadores do Rio Doce, que ficou imerso em lama depois do rompimento da barragem.

O enredo da escola falava sobre a importância dos rios na vida humana, desde a formação das civilizações, o comercio e a urbanização. A necessidade de preservação estava explicitada de forma genial através do carro citado.

Um sucessão de tragédias/crimes estão aos poucos destruindo o que chamo de Brasil.

Que o grito do pescador recriado de forma genial, para o desfile campeão da azul e branco de Madureira, acorde o nosso povo!

Odile, uma vida só não basta

Odile que nasceu Bérard, mas escolheu ser Rodine, e depois Rubirosa, marinho, talvez Moss, e no final, voltou ao começo: Bérard de novo. Cada nome um ciclo de vida. Muitas vidas em uma só Odile.

O Rodin foi devido à beleza de seu corpo, comparado por escritores franceses dos anos 1950 às esculturas do mestre francês. Virou, por curto espaço de tempo o nome artístico.

Ela teve uma carreira curta, atuou em apenas dois filmes, A Mais Linda Vedete (Futures Vedettes, 1955), com Brigitte Bardot, e Se Paris Contasse… (Si Paris nous était conté, 1956), com Danielle Darrieux.

Logo, Odile abandonou a carreira de atriz para casar-se com Porfírio Rubirosa, aos 17 anos.

O “Casanova” da República Dominicana, não resisitiu a beleza da jovem francesa. Porfírio namorou nada menos que Marilyn Monroe, Ava Gardner, Rita Hayworth, Kim Novak, dentre muitas beldades do século passado.

Odile passa assinar, com o sobrenome, Rubirosa. Se torna, então, uma das maiores locomotivas do jet set internacional. Só para lebrar: Jet set (em inglês, literalmente, “conjunto de pessoas que se deslocam de avião a jato”). Milionários que cruzavam os oceanos em buscas de festas.

O Rio de Janeiro e seu glaumoroso carnaval fazia parte desse cirucuito. Em 1965, ela visita pela primeira vez a cidade, e diz em entrevista dada a revista “O Cruzeiro”, de 28 de março de 1973:

“Esta foi a segunda vez que passei o carnaval no Rio. A primeira foi com o meu marido. Há oito anos. Já havia gostado, mas agora gostei muito mais. Pude sentir melhor o carnaval brasileiro. Aliás, não se deve dizer carnaval brasileiro, porque só há mesmo um carnaval. O resto – o de Nice, Colônia e outros mais – simplesmente não existe. Onde já se viu tamanha loucura? Tenho dentro dos ouvidos os ruídos dos instrumentos de percussão…”

Porfírio, veio a falecer em julho do mesmo ano que esteve no Rio de Janeiro. Foi o primeiro carnaval de Odile e o último de Porfirio.

O segundo e definitivo contato da atriz francesa com os festejos carioca foi em 1973. É o reencontro com a cidade onde vai viver os seus próximos vinte anos.

Voltou ao Rio com tudo, desfilou pela primeira vez numa escola de samba, e afirmou: “…Desfilar na escola de samba foi uma glória. Achei os bailes formidáveis, mas nada igual à escola de samba. Desfilei na Portela porque fui convidada por ela. Não foi uma escolha minha. Aceitaria o convite de qualquer uma. Não tenho preferências. Minha preferência é pelo samba, de um modo geral. É uma loucura esse ritmo de vocês. Fala de Selva, de alguma coisa que corre no sangue. Tem a força da natividade. Dificilmente perderei, nos próximos anos, um carnaval aqui.”

A fantasia, uma ideia dela, era um pequeno biquíni azul, todo bordado de pedras e véus caindo pelos lados. Saiu na Ala dos Demolidores. Quebrou tudo! só deu ela.

No mesmo ano, a alegre viúva encontrou um novo amor nos trópicos, Paulo Marinho, corretor da bolsa, com quem veio a se casar. Paulo tinha 21 anos quando conheceu Odile, que aos 36 anos, ainda era estonteante. Odile passa assinar “Marinho”.

No final dos 80, já separada de Paulo, passou a viver num sítio em Visconde de Mauá. Casou-se, pela terceira vez, com um americano, James Moss, que conheceu no Rock in Rio em 1985.

Odile abriu uma casa de chás e passou a se dedicar a um novo hobby, a pintura. Passou a assinar seus quadroscom seu nome de solteira, Odile Bérard.

Em 1997, passou a viver reclusa, longe das badaloções, em uma cabana de madeira, em New Hampshire, nos Estados Unidos.

Em dezembro de 2018, Odile Bérard, morreu aos 81 anos, após passar três semanas internada numa clínica para tratamento de um câncer.

Júlio Machado, o Xangô do Salgueiro

Em 1969, no desfile campeão do Salgueiro, “Bahia de todos os Deuses “, pela primeira vez Xangô incorporou durante o desfile da vermelho e branco tijucana.

Para o professor Júlio Machado era isso mesmo, o cortejo de uma escola de samba nada mais é, do que uma representação de um culto africano. A Escola de Samba é um culto afro-brasileiro, uma procissão. “O Mestre Sala é Ogum protegendo e cortejando a Porta Bandeira. A Ala das Crianças os Erês soltos na avenida. As Pretas Velhas a ala das baianas, que na maioria são rezadeiras, benzedeiras, catimbozeiras. Na bateria estão os ogãs rufando os atabaques. As mulheres e os homens nus, são os “compadres e comadres”, os Exus soltos na Avenida.” (texto extraído do site geocites,texto de Lygia Godoy).
Com a conquista do título pelo Salgueiro, Júlio passou a desfilar todos os anos como Xangô, até 2007, ano da sua morte.
Qualquer que fosse o enredo, Xangô estava lá, abençoando o culto salgueirense.

Este ano, 2019, o Salgueiro, levará para avenida o enredo: Xangô. Diz a sinopse: “Hoje os meus olhos estão brilhando, minha querida Bahia, terra abençoada pelos deuses. Felicidade também mora no Salgueiro. Naquela manhã de 1969, o saudoso professor, na escola tijucana, se incorporou pela primeira vez, ao se trajar como o orixá. E daí à eternidade, consagrado como o Xangô do Salgueiro”.

Dividido em cinco momentos diferentes, um dos setores da escola homenageará o Xangô do professor Júlio Machado.

Na foto reproduzida neste blog, Júlio Machado, em 1999, brilhou com “Xangô de ouro sol do carnaval”

Júlio morreu, aos 67 anos, em 2007.
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Me dá um dinheiro aí

No final dos anos cinquenta, a TV Rio exibia, um programa chamado “Rio, te adoro”. Um dos quadros do programa era A “Praça da Alegria” onde Moacyr Franco participava fazendo algumas piadas e um ou outro número musical. Certo dia, ele recebeu o texto de uma piada curta escrita por Glauco Ferreira. Nessa piada, o ator Iran Lima interpretava um marido que comentava com a esposa sobre o fato de haver muitos mendigos pedindo esmola na rua. A mulher dizia que era um exagero. Mas quando Iran foi abrir a porta de um armário de lá dentro saía Moacyr, de mendigo, dizendo o bordão “ei, você aí! me dá um dinheiro aí!”. A plateia veio abaixo em risos. Foi um sucesso imediato.*

Daí nasceu o primeiro fruto do bem sucedido bordão. Glauco Ferreira e seus irmãos Homero e Ivan, compuseram uma marchinha, gravada por Moacyr Franco, A música tornou-se o maior sucesso do carnaval de 1960.

Em 1958, o agora refrão de um dos maiores clássicos do carnaval, quase gerou uma crise política.

Neste ano, o secretário de Estado americano John Foster Dulles veio em missão diplomática ao nosso país. Reunido com o Presidente Juscelino Kubistchek no Palácio das Laranjeiras, em agosto de 1958, se empenhavam na redação de uma nota conjunta. Dulles insistia numa declaração contra o comunismo e queria que o Brasil oficializasse a presença da CIA, a agência central de inteligência americana, no país. Juscelino relutava.

“Que homem terrível!”, desabafou JK ao sair da reunião. “Frio como gelo e obcecado até a medula pelo ‘perigo comunista'”, afirmou o presidente brasileiro.

Antes de iniciar as penosas conversações, JK e Dulles aguardavam que os fotógrafos terminassem seu trabalho. Um deles, Antônio Andrade, conseguiu um flagrante que no dia seguinte, 6 de agosto, estaria na primeira página do Jornal do Brasil: com cara de poucos amigos, o americano já se sentou à mesa; em frente a ele, de pé, JK estende as mãos espalmadas e tem no rosto uma expressão de quem suplica. JK estaria pedindo a Dulles que se levantasse para aperto de mãos sugerido pelos fotógrafos. O secretário norte-americano, que por sua vez parece que está abrindo uma carteira à cata de dinheiro”.

JK foi tomado pelo ódio. Seu governo se notabilizou por buscar uma política externa mais autônoma em relação às diretrizes emanadas de Washington. Entretanto, o episodio deu munição aos seus adversários, que não perderam a chance de espicaçá-lo, a começar pelo deputado Carlos Lacerda, que o acusou de “subserviência”.

Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro fez “continência” para John Bolton, conselheiro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Repetiu o gesto para o primeiro ministro israelense, Benjamim Netanyahu, que veio assistir a sua posse.

Reza o protocolo que um militar deve bater continência ao seu superior, e não ao contrário. Alguns, todavia, afirmam que a continência é um tipo de saudação quando um militar encontra qualquer civil ou autoridade. E tem um significado de um cumprimento. Talvez, o bom e velho aperto de mão fosse suficiente e blindado de polêmicas.

Difícil mesmo, será arrumar alguma justificativa para deputado Otávio Mangabeira, que em 1946, se ajoelhou e beijou a mão do presidente americano Truman em visita ao Brasil.

Os episódios descritos mostram a importância dos protocolos, que devem ser seguidos pelas autoridades em seus cargos.

O bordão, por sua vez, não para de render frutos: o enredo da escola de samba, Imperatriz Leopoldinense, para o carnaval de 2019, será – “Me dá um dinheiro aí!” Infelizmente, a partir leitura da sinopse do seu enredo, pode-se concluir que os carnavalescos nada irão aproveitar da rica trajetória da marchinha composta no mesmo ano da fundação da agremiação. Vão contar a história do dinheiro. Boa sorte para a verde branco da Leopoldina.

* O primeiro parágrafo foi baseado num texto publicado na wickepedia.

A Vizinha do Presidente

Dona Adélia, moradora da casa 5, na vila onde passei minha infância, era uma senhora disruptiva. A saber, disruptivo é aquele que interrompe, de forma súbita, o segmento normal de um processo.

Ao longo do ano, vetusta, fechada, nos dias de carnaval se transformava brutalmente. Escolhia as fantasias mais improváveis para cair na folia. Teve um ano, que saiu de bebê! E daí? Nos anos sessenta, não era nada comum que uma senhora , nos seus cinquentas anos, lançasse mão de tamanho empoderamento. Alvo da língua ferina dos vizinhos da vila, ela não estava nem aí.

Alguns condomínios de casa, da emergente Barra da Tijuca, se assemelham, de certa forma, às antigas vilas. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, mora num condomínio da Barra, o “Vivendas”.

Espécie de vila moderna, reúne 150 casas de veraneio da década de 60. Provavelmente, repleto de moradores egressos de bairros da zona norte. Muitos tijucanos, quando melhoram de vida, logo compram um apartamento, ou casa, perto do mar, na Barra da Tijuca.

Segundo a revista Veja, “Bolsonaro desembolsa 1100 reais por mês de condomínio. Convive com milionários? A única vizinha conhecida(famosos são praticamente um fator de valorização dos imóveis da Barra) é a veterana cantora Rosemary. Nome que só diz mais aos idosos”, afirma a reportagem de onde extraí essas informações.

Na plenitude dos meus 58 anos, me incluo no grupo, identificado pela revista, capaz de reconhecer a vizinha do presidente.

Não acompanhei a carreira de Rosemary como cantora da jovem guarda. Entretanto, sempre achei incrível a desenvoltura com que a “Fada Loura da Juventude”, desfila (sim, ela ainda desfila) como passista defendendo as cores de sua querida Mangueira.

Há quem considere a cantora como a “primeira estrela a desfilar como destaque no chão de uma escola no carnaval carioca”.

Pois é, a animadíssima Rosemary é vizinha do “mito”.

No condomínio, o capitão sempre se comportou de maneira discreta, a única exceção foi quando resolveu lançar rojões na direção do gerador de um hotel, ao lado do seu condomínio, cujo barulho o incomodava, afirmam na mesma matéria, as jornalistas Fernanda Thedim e Luisa Bustamente.

O hotel instalou um gerador de energia. Faltava luz toda hora. Bolsonaro reclamou do barulho. Disse que ninguém conseguia dormir na casa dele. O capitão acendeu morteiros que disparam fogos de artifícios e mirou em direção ao hotel. A gerencia desligou o gerador na mesma hora.

Mas há outros momentos surpreendentes do futuro morador do planalto, e isso todo o Brasil teve a oportunidade de presenciar, Bolsonaro já foi flagrado dando uma coletiva com microfones colocados sobre uma prancha de bodyboard, comendo pão com leite condensado, fazendo discurso com um varal de roupas ao fundo, ou com uma bandeira do Brasil colada com fita crepe na parede, nem um pouco apegado ao protocolo, me pergunto: será que o disruptivo Bolsonaro tem uma convivência pacífica com a passista vizinha ? Será que ele gosta de samba? Será que acompanha as peripécias da já setentona cabrocha?

Não importa. A única certeza que temos é que dona Adélia vive, e dona Adélia é quem sabia viver – era livre.

Obs1. Na foto de 1971, Rosemary desfilava o enredo: “Modernos Bandeirantes”, uma homenagem, da Mangueira, a Santos Dumont e aos pioneiros da aviação brasileira. Em 2018, o enredo foi “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”.

Obs2. Recentemente, um outro vizinho do presidente ganhou projeção na mídia. Ronnie Lessa, acusado de assinar a vereadora Marielle Franco e seu motorista.

Quem queima seu filme?

Em 2018, os políticos não foram bem vistos nas passarelas do samba. Sobrou para o então prefeito de São Paulo, João Doria. Ao tentar tirar uma foto com Zeca Pagodinho, no sambódromo do Anhembi encontrou resistência por parte do sambista carioca.

Zeca, um dos principais convidados do Bar Brahma, teria tentado ao máximo não tirar fotos ao lado do alcaide. A assessoria do sambista informou que ele não tem por hábito associar sua imagem à de políticos. Na verdade, parece que a história não foi bem essa: na verdade a resistência foi dos assessores, não do cantor.

Independente da sua equipe, Zeca declarou para a coluna da Monica Bergamo: “Eu tiro foto com um monte de gente que não conheço. Eu não peço documento pra ninguém”. Eu nem conheço ele (Doria). Foto é foto. Apoio é outra coisa. Eu não voto em ninguém. Fazer o quê? Eu não confio em ninguém!”

A resistência gerou um desconforto, mas a foto foi tirada. Doria só não conseguiu ficar ao lado do artista: amigos empurraram o ex-jogador Amaral para ficar entre o tucano e o cantor.

Aos jornalistas, Doria disse que não percebeu nenhuma saia-justa e elogiou o carnaval paulistano.

Quem quase teve sua imagem “torrada” durante a campanha foi o ex-prefeito, não o cantor.

Bombou nas redes um vídeo onde Doria supostamente participava de uma suruba. Tudo comprovadamente “fake”, pura maldade…

O episódio da passarela do samba paulista talvez tenha sido um sinal do desgosto da população para com seus representantes, prenúncio da grande depuração ocorrida nas eleições desse ano – metade do Congresso foi demitido pelo povo. O povo quis a mudança.

Nada disso, contudo, foi determinante na cabeça do eleitor da terra dos bandeirantes, o prefeito “quase” rejeitado, ganhou as eleições para governador do maior estado da federação.

A foto não deve ter contribuído em nada para o bom resultado do tucano nas urnas. Parece mesmo que a influência não é mais tão decisiva assim.

Grandes nomes da nossa música, atores e atrizes de sucesso, celebridades e subcelebridades participaram de comícios e gravaram declarações de apoio ao candidato de esquerda, que não foi bem sucedido. Com dez milhões de votos a mais, e com poucas adesões no meio artístico, o postulante de direita, foi eleito presidente da república.

Cada um no seu quadrado – e nenhum cidadão abrindo mão de ser o dono do seu voto – essa foi uma das mensagens das urnas. Pouco importa se o ídolo apoiou beltrano ou sicrano, se tirou ou não uma self com algum candidato, ninguém abriu mão de fazer a sua escolha.

Pelo visto, não só os políticos estão em baixa.

Fragmentos de Angela

Em 2018, os políticos não foram bem vistos nas passarelas do samba. Sobrou para o então prefeito de São Paulo, João Doria. Ao tentar tirar uma foto com Zeca Pagodinho, no sambódromo do Anhembi encontrou resistência por parte do sambista carioca.

Zeca, um dos principais convidados do Bar Brahma, teria tentado ao máximo não tirar fotos ao lado do alcaide. A assessoria do sambista informou que ele não tem por hábito associar sua imagem à de políticos. Na verdade, parece que a história não foi bem essa: na verdade a resistência foi dos assessores, não do cantor.

Independente da sua equipe, Zeca declarou para a coluna da Monica Bergamo: “Eu tiro foto com um monte de gente que não conheço. Eu não peço documento pra ninguém”. Eu nem conheço ele (Doria). Foto é foto. Apoio é outra coisa. Eu não voto em ninguém. Fazer o quê? Eu não confio em ninguém!”

A resistência gerou um desconforto, mas a foto foi tirada. Doria só não conseguiu ficar ao lado do artista: amigos empurraram o ex-jogador Amaral para ficar entre o tucano e o cantor.

Aos jornalistas, Doria disse que não percebeu nenhuma saia-justa e elogiou o carnaval paulistano.

Quem quase teve sua imagem “torrada” durante a campanha foi o ex-prefeito, não o cantor.

Bombou nas redes um vídeo onde Doria supostamente participava de uma suruba. Tudo comprovadamente “fake”, pura maldade…

O episódio da passarela do samba paulista talvez tenha sido um sinal do desgosto da população para com seus representantes, prenúncio da grande depuração ocorrida nas eleições desse ano – metade do Congresso foi demitido pelo povo. O povo quis a mudança.

Nada disso, contudo, foi determinante na cabeça do eleitor da terra dos bandeirantes, o prefeito “quase” rejeitado, ganhou as eleições para governador do maior estado da federação.

A foto não deve ter contribuído em nada para o bom resultado do tucano nas urnas. Parece mesmo que o apoio de intelectuais e artistas não é mais tão decisivo assim.

Grandes nomes da nossa música, atores e atrizes de sucesso, celebridades e subcelebridades participaram de comícios e gravaram declarações de apoio ao candidato de esquerda, que não foi bem sucedido. Com dez milhões de votos a mais, e com poucas adesões no meio artístico, o postulante de direita, foi eleito presidente da república.

Cada um no seu quadrado – e nenhum cidadão abrindo mão de ser o dono do seu voto – essa foi uma das mensagens das urnas. Pouco importa se o ídolo apoiou beltrano ou sicrano, se tirou ou não uma self com algum candidato, se assinou manifestos, ninguém abriu mão de fazer a sua escolha.

Pelo visto, não só os políticos estão em baixa.

Uma noite de horror no Museu Nacional – Queimou tudo!

Sem palavras para dar a dimensão da dor de ver nossa memória virar cinza. A queima do museu nos coloca num limbo temporal. Nem o passado nos resta.

Se já não nos era permitido sonhar, se o presente é quase insuportável, até o passado nos é negado.

Neste ano, a Imperatriz Leopoldinense realizou um réquiem involuntário para o nosso primeiro museu. Com o enredo “Uma Noite no Museu Nacional”, exaltou os duzentos anos da instituição de São Cristóvão.

“…Dinossauros, borboletas/Brilham os cristais/O canto da cigarra em sintonia/Relembrou aqueles dias que não voltarão jamais…” Não voltarão mesmo, infelizmente! Uma catástrofe, um incêndio devastou os 20 milhões de itens do museu. Quase tudo foi destruído, no ano das comemorações do seu bicentenário.

De tudo um pouco: múmia, meteorito, vestimentas indígenas, trono do rei do Daomé, a mais importante coleção greco-romana da América do Sul. Tudo junto e misturado.

Objetos pessoais e cartas da imperatriz Leopoldina, que deu nome à escola, foram perdidos.

Todas as 700 peças da coleção egípcia também não existem mais. “…A brisa me levou para o Egito/Onde um solfejo lindo da cantora de Amon/Ecoa sob a lua e o sereno/Perfumando a deusa vênus sem jamais sair do tom…” O samba fazia referência a Sha-Amon-em-su, múmia da sacerdotisa cantora do deus Amon, fechada em seu magnífico sarcófago dourado.

Kherima, era a outra embalsamada. Uma das cinco múmias romanas no mundo, valia dezenas de milhões de dólares. Foi incinerada pela incompetência e abandono de autoridades e gestores.

Em 2018, predominaram temas políticos na Sapucaí. Algumas escolas de samba manifestaram seu desagrado com relação a corrupção, ao prefeito Crivella, ao governo Temer. A escolha da escola de Ramos pareceu fora desse contexto.

Entretanto, ali estava a denúncia mais negligenciada de todas. Ninguém percebeu a urgência da homenagem.

O panfleto não é o único caminho para manifestação política. A simples comemoração do bicentenário de uma instituição cultural esquecida por todos os seus gestores já é um protesto.

O hino da escola deixa claro a relevância da instituição :“…Onde a musa inspira a poesia/A cultura irradia o cantar da Imperatriz/É um palácio, emoldura a beleza/Abrigou a realeza, patrimônio é raiz/Que germinou e floresceu na colina/A obra-prima viu o meu Brasil nascer…”

Até mesmo a precariedade de algumas alegorias estavam afinadas com as péssimas condições da instituição cantada pela agremiação. A coroa do carro abre-alas não foi erguida para o topo e passou escondida. Há de se ressaltar que o diálogo sem retoques com a realidade decidiu o título. A Beija Flor fez um desfile sem metáforas.

Os carros alegóricos com falhas de forração, poderiam ter sido interpretados como expressão da penúria a que estava submetido o Museu Nacional. Não foram. A escola ficou em oitavo na classificação final.

Parabéns ao carnavalesco Cahê Rodrigues e a Imperatriz Leopoldinense pela sensibilidade em escolher como tema uma instituição, que durante dois séculos contribuiu para a construção da nossa identidade.

Hoje tudo virou cinzas.

Eu não vim para explicar, vim para confundir

O destinos de duas agremiações do carnaval carioca, Grande Rio e Império Serrano se cruzaram com o do mais tropicalista dos comunicadores brasileiro: Chacrinha.

No carnaval de 1987, o Império Serrano, com seu enredo “Com a boca no mundo, quem não se comunica se trumbica”, sugerido por Fernando Pamplona e desenvolvido por Ney Ayan, teve o apresentador Abelardo Barbosa como uma de suas referências.

O comunicador, acompanhado de suas chacretes e Elke Maravilha, estreou na passarela do samba, como figura central do carro alegórico que encerrava o desfile. Foi sua primeira e única participação na passarela do samba. Chacrinha morreria um ano e meio após esse desfile.

Houve críticas a irregularidade da concepção dos carros alegóricos, mas de uma maneira geral a escola da serrinha mereceu a boa classificação: terceiro lugar.

Trina e um anos depois, o genial apresentador voltou a inspirar o carnaval da Sapucaí. A Acadêmicos do Grande Rio desenvolveu o enredo “Vai Para o Trono ou Não Vai?”.

Contando com a experiente dupla Renato e Márcia Lage, no seu primeiro carnaval na escola, a Grande Rio entrou para levar o título. Mas devido ao seu desfile caótico quase ganhou o troféu abacaxi, ficou em penúltimo lugar, “caindo” para a série A.

Um carro empacado na concentração destruiria os planos da escola. A última alegoria, que mostrava a infância de Chacrinha em Pernambuco, quebrou. O enredo contou de trás para frente a história de Abelardo Barbosa nos veículos de comunicação. Diante do problema os componentes pararam atrasando a evolução. Os cinco minutos do tempo estourado por conta do problema custaram cinco décimos na pontuação. E foi justamente no quesito alegorias e adereços que a Grande Rio perdeu mais pontos. Não houve nenhum 10. As notas de harmonia, alegoria e adereços, descredenciaram a permanência da agremiação no grupo especial.

A coirmã da Serrinha, que na década de oitenta, conseguiu um merecido terceiro lugar com o mesmo homenageado, ficou em último lugar. Após oito anos no grupo de acesso fez um desfile que apostava na emoção, mas que não sensibilizou muito os juízes. Além de uma profusão de notas baixas, a verde e branco foi punida pela apresentação curta, com 63 minutos, quando são 65 no mínimo.

Entretanto, Grande Rio e Império, caíram, mas não caíram! Um pouco confuso, não? Em vinte e oito de fevereiro, uma virada de mesa: os dirigentes das escolas de samba, em plenária na sede da Liesa, decidiram que as duas escolas teriam seu rebaixamento cancelado. A entidade alegou ter tomado a medida considerando as dificuldades financeiras pelas quais passaram todas as agremiações devido aos cortes nos repasses de verba pela prefeitura do Rio.

Para pedir a exclusão do rebaixamento, a Grande Rio se baseou no precedente aberto em 2017, quando a Unidos da Tijuca foi poupada do descenso devido a um acidente com uma de suas alegorias. Apenas Mangueira e Portela não apoiaram a mudança do regulamento na plenária. O carnaval de 2019, do Grupo Especial, terá quatorze agremiações.

O Ministério Público, no entanto, exigiu que a Liga assinasse um termo de ajustamento de conduta, para impedir uma próxima “virada de mesa”.

Subiu, caiu e acabou permanecendo. Confuso? Como dizia o velho guerreiro: “Eu não viu para explicar, vim para confundir”