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Muitos Carnavais – Página: 5 – Sonhos de Carnavais

Eva Tudor, Rainha das Atrizes – 1935/1937

1935, Hitler promulgava as Leis de Nuremberg, código que interditava aos judeus alemães o status de cidadão. Foi o início de um processo que culminaria, alguns anos depois, com o extermínio em massa dos judeus europeus, o holocausto.

No mesmo ano, do lado de cá do atlântico uma judia foi eleita Rainha das Atrizes do carnaval carioca.

Bailarina, chegou a dançar na Ópera Real de Budapeste, veio com a família para o Brasil em 1929. Eva era húngara e nasceu em 9 de novembro de 1919, em Budapeste. Sua mãe era designer de moda e seu pai era comerciante de tecidos finos. Todos eram muito ligados em arte, por isso, matricularam a menina, ainda com quatro anos, na Ópera Real da Hungria, onde ela aprendeu a dançar balé clássico. Aqui, Eva continuou as aulas de balé e aos nove anos já havia se apresentado em espetáculo de dança solo, no Teatro Municipal de São Paulo. Eva Tudor foi eleita rainha, com apenas 15 anos, e reeleita dois anos depois.

Em 1933, a Casa dos Artistas, à procura de meios que lhe ajudassem a se manter, instituiu o Baile das Atrizes, no qual era declarada a Rainha das Atrizes do ano. O primeiro realizou-se sob enorme publicidade e sob o patrocínio do Correio da Noite, jornal diário dirigido por Mário Magalhães.

A Rainha das Atrizes era eleita de acordo com o número de votos que conseguisse vender. O baile virou tradição.

Em 2014, Eva foi diagnosticada com Parkinson. No começo de 2017 foi internada com pneumonia. Morreu no dia 10 de dezembro, do mesmo ano, aos 98 anos, por complicações dessa doença.

Kevin Spacey, o passado te condena

Estreante no Carnaval carioca,no ano de 2009, o ator norte-americano Kevin Spacey chegou à Sapucaí acompanhado por um amigo e três assessores.

Spacey foi direto assistir ao desfile das escolas de samba. Kevin passou cinco dias no Brasil, foi sua primeira e única visita ao País.

Foi direto do aeroporto para o camarote da Brahma, na Marquês de Sapucaí. Levado à varanda para conferir a passagem da Grande Rio no sambódromo, “ele ficou visivelmente boquiaberto com a performance dos sambistas.”

Depois de observar a apresentação, foi atrás de uma cerveja e seguiu para o restaurante para jantar. Lá, pediu para não ser incomodado.

O ator, duas vezes vencedor do Oscar muito assediado durante sua passagem pelo carnaval carioca, foi acusado de ter assediado, sexualmente, o ator Anthony Rapp, quando este tinha apenas 14 anos de idade, há 30 anos atrás. Spacey, então com 26 anos, convidou o menor de idade, para uma festa em sua casa, esperou que os outros fossem embora e tentou seduzir o jovem à força. O jovem trancou-se no banheiro e nada aconteceu. Uma grave denúncia.

Parece muito tempo para a maioria das pessoas, mas para Rapp, não. Segundo Einstein: “A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.” Talvez para Anthony, os ditos momentos de terror, sejam recorrentes no seu pensamento, algo que ainda é presente.

A denúncia do ator de Star Trek abriu a porteira. Outros esqueletos no armário foram descobertos: Uma mãe de Massachusetts acusou Spacey, nesta semana, de ter abusado sexualmente de seu filho de 18 anos na ilha de Nantucket no ano passado. Oito membros da equipe de House of Cards afirmaram ser vítimas do ator, assim como o filho do ator Richard Dreyfuss, que revelou que Kevin o “apalpou” quanto ele tinha 18 anos. O cineasta Tony Montana disse que foi agarrado pelo ator em um bar de Los Angeles, em 2003.

Relatos semelhantes envolvendo outras celebridades hollywoodianas vieram à tona.

Dustin Hoffman foi acusado pela produtora Wendy Riss de tê-la assediado em 1991, o que teria sido para ela uma “fonte de tormentos.”

Em uma entrevista dada à revista “Times” em 1979, a atriz Meryl Streep acusou, o mesmo ator, Dustin Hoffman, de assédio no dia em que se conheceram.” Ele veio até mim e disse: Eu sou Dustin(arrotou) e colocou a mão dele no meu seio.”

A roteirista Jessica Teich acusou o ator Richard Dreyfuss de assédio sexual durante três anos da década de 1980.

Todos esses relatos são verdadeiros? Podemos inventar, também o passado. recriá-lo com conveniência. Se houve algum tipo de reciprocidade? Nunca saberemos, tudo pode ser manipulado.

Spacey soltou um comunicado pedindo “sinceras desculpas”, dizendo que não se lembrava do caso. Se desculpou por algo que não se lembrava?! E ainda buscou ajuda psicológica. Foi internado em um luxuoso centro de reabilitação na vila Wickenburg, no Arizona.

Spacey estaria pagando U$ 36 mil (cerca de R$ 118 mil) por mês no local, que seria considerado o melhor programa contra vício em sexo dos Estados Unidos. Por lá passaram celebridades como Tiger Woods, Elle MacPherson, Kate Moss.

Em janeiro de 2018, um grupo de cem francesas, entre elas, a atriz Catherine Deneuve, publicou um artigo com o objetivo de defender a liberdade dos homens de “importunar. ” O texto pretende contrapor o que chamaram de campanha de “delações” ou “caça as bruxas.”

Para Deneuve e as demais personalidades, as “delações” não servem à autonomia das mulheres, mas a inimigos da liberdade sexual, a extremistas religiosos, a reacionários e a quem vê o sexo feminino ” como uma criança que pede proteção. ”

Memórias de dor? Indenizações milionárias em jogo? Caça às bruxas? Busca de notoriedade? Passado falsificado? Qual o limite de uma abordagem?

Talvez no futuro, que assim como o passado – é uma ficção, encontremos as respostas, para as acusações que condenaram ao ostracismo um dos maiores atores da atualidade.

Com a ajuda dos santos eu terei uma vida doce

Cosme e Damião, santos gêmeos, nasceram na Arábia e seus nomes de batismo eram Acta e Passio. Médicos, tratavam os enfermos sem cobrar e curavam através de suas orações, pela fé incrível que praticavam. Por exercerem o cristianismo, foram presos, levados a tribunal e acusados de se entregarem à prática de feitiçaria e de usar meios diabólicos para disfarçar as curas que realizavam. Em 303, o Imperador Diocleciano decretou que fossem condenados à morte .

Na umbanda um terceiro personagem transforma a dupla de gêmeos em trio: Dom Um. Foi o que não nasceu, morreu. aquele que não veio. Um espírito protetor , um erê. Dom Um serve de consolo quando uma criança morre.

No ano de 2017 a Mangueira fantasiou suas baianas com saquinhos de Cosme e Damião.Um dos momentos mais belos do sensacional desfile da verde e rosa.

A pele que habito

O juiz federal da 14ª Vara do Distrito Federal concedeu liminar que abre brecha para que psicólogos ofereçam a terapia de reversão sexual, conhecida como ‘cura gay’, tratamento proibido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) desde 1999.

Evelyn e Carolyne ao sair do Baile do Arco Íris, estupefatas com a notícia, correram para o SUS mais próximo, ainda de madrugada, em busca de um milagre.

Finalmente, cientistas brasileiros descobriram uma terapia que transformaria suas vidas num “anúncio de margarina”. Algo bem diferente da trajetória de adversidades enfrentadas por nossas duas guerreiras.

Evelyn foi expulsa de casa, perdeu família, amigos de infância, teve de reconstruir sua vida do nada. Sem apoio de ninguém, formou-se em direito, hoje trabalha num dos maiores escritórios de advocacia do Rio de janeiro e é reconhecida por todos os seus pares.

Carolyne a tudo enfrentou. Trabalha como maquiadora na Rede Globo e é aclamada como a melhor síndica que o edifício Rajá já teve. Famoso prédio, na praia de Botafogo, onde nossa esteticista comprou um conjugado,com vista para o Pão de açúcar.

Uma mãe acolhedora e uma irmã parceira possibilitaram uma trajetória mais amena para ela. Entretanto, como todas as suas contemporâneas, era vítima de uma “consentida” violência cotidiana.

Filas enormes se formaram, a PM foi convocada, milhares de gays e lésbicas em busca da reversão. Afinal, quem quer viver assim?

A longa espera por uma senha redentora diluiu a esperança de se livrar do opressivo preconceito e fez com que se dessem conta que quem precisa de “cura” são aqueles que ainda não entenderam que ninguém escolhe o objeto do desejo e muito menos ser um pária da sociedade.

Oferecer tratamento para homossexualidade, que não é uma doença, só faz crescer as estatísticas, no país que é campeão em crimes ligados a homofobia.

Quem precisa de terapia de reversão são os políticos corruptos, gente canalha, pastores oportunistas, presidentes mafiosos, empresários sanguessugas, e claro… psicólogos malucos!

Obs. Evelyn e Carolyne estavam saindo do Baile do Arco Íris, em 1958.Quase sessenta anos e o mesmo obscurantismo!

Rogéria – Se eu não achar um caminho, eu faço um

Numa recente polêmica o cantor Johnny Hooker criticou a seguinte afirmação feita por Ney Matogrosso: ‘Que gay o caralho, eu sou um ser humano’. Para o Johnny “É inconcebível a afirmação feita por Ney Matogrosso, no país que mais mata LGBTs do MUNDO(!!)”.
Hooker pode discordar e argumentar o que quiser. O que falou, inclusive, faz bastante sentido. Entretanto, a carreira do hipster cantor pernambucano não o credencia a antagonista de alguém que lhe abriu o caminho.

Ney além de excelente cantor, construiu uma carreira em anos de chumbo, e resiste a passagem do tempo devido ao seu incontestável talento. Hooker ainda não disse a que veio.
Rogéria foi outra que pavimentou uma estrada de possibilidades. Se hoje nosso país se destaca pela violência contra homossexuais, imagine nos anos sessenta e setenta do século passado.

A Marylin gay atuou no primeiro espetáculo de travestis, “ les girls” encenado no nosso país. Filmou com grandes cineastas, Foi premiada por sua atuação no teatro com o Troféu Mambembe, foi jurada em programa de auditório na época em que travesti na TV era uma novidade, enfim ocupou espaços.

Gostava de se proclamar Johnny “O travesti da família brasileira” – e, de fato, alcançou uma aprovação inimaginável.

Numa declaração parecida com a de Matogrosso, Rogéria afirmava: – “Engajada? ” Eu preciso ser engajada? Eu sou o engajamento em pessoa! Se as outras travestis estão aí, agradeçam a mim, que sou uma bandeira.

Liniker, Pablo Vittar, Hooker tem muito a aprender com aqueles que menos preocupados em construir uma imagem com declarações politicamente corretas experimentaram com valentia a solidão dos pioneiros.

Aos setenta e quatro anos , no dia 4 de setembro, morreu , de infecção urinária, Rogéria.

O ÚLTIMO CARNAVAL DE JERRY LEWIS

Não sei se Jerry Lewis gostava de carnaval. Não há registro de sua presença no “baile de Gala da Cidade do Rio de Janeiro” que atraía celebridades hollywoodianas nos anos em que o comediante brilhava nas telas de cinema.

Há indícios que Jerry o homem, não o artista, era conservador e cheio de preconceitos. Talvez achasse a folia momesca algo um tanto quanto grotesco.

O cômico Lewis este sim, tenho certeza que fez uma tremenda farra ao lado da nossa “pequena notável”, no filme Scared Stiff (Morrendo de Medo,1953). Acompanhando os protagonistas Jerry Lewis e Dean Martin nos números musicais, está Carmen Miranda.

O enredo do filme narra as aventuras de um cantor e seu parceiro atrapalhado que são perseguidos por um gângster ciumento. Na fuga, são ajudados por uma herdeira de uma grande propriedade em Cuba. Quando a herdeira está para pegar o navio para tomar posse de sua herança, o cantor descobre que ela vem sendo ameaçada de morte. Além disso, a propriedade, um castelo medieval, tem fama de ser mal assombrada. Os dois resolvem ir para a Cuba com a moça, e entram para o show da cantora Carmelita Castinha, apresentado a bordo.

Carmen Miranda era Carmelita Castinha, de nacionalidade indefinida, apesar de algumas frases em português. Ela praticamente não participa da história, é uma peça decorativa, sem nenhuma função na trama. Aparece na condição de estrela em dois números musicais ao lado de Dean e Jerry, que também imita a cantora.
Na biografia de Carmem, Ruy Castro afirma que a cantora: filmou mais um número, que teria sido cortado, porque Jerry Lewis não admitia dar espaço a ninguém em um filme. (mesmo Dean Martin tinha de lutar pelo seu).

Rui Castro ressalta que Carmem Miranda aos 44 anos, com excesso de peso e sem fôlego, parece lançar mão de suas últimas reservas físicas e mentais para obedecer às marcações do coreógrafo e sobretudo à hiperatividade de Jerry Lewis na interpretação das canções “The bongo bingo” e “The enchilada man”, deixando transparecer em seu rosto a satisfação de haver conseguido concluir os seus números. Foi o último e pior filme da artista luso-brasileira, que morreria dois anos depois.

No show apresentado no navio, Jerry Lewis se traveste de Carmen Miranda, com os tradicionais tamancos e chapéu de frutas. Ele canta em português a canção Mamãe eu quero (de Vicente Amorim e Jararaca, 1937), comendo uma banana que apanhou do citado chapéu.

O artista Jerry era sublime, mas o homem Lewis, era egoísta, vingativo, preconceituoso. Não era estimado como pessoa.

O jornalista Guilherme Genestreti no jornal Folha de São Paulo citou alguns exemplos da homofobia e misoginia do nosso astro: Em 2000, num evento de humor, disse não gostar de comediantes do sexo feminino. “Penso nelas como máquinas de produzir bebês”. Durante uma maratona beneficente realizada em 2007, o ator fez piada com um parente imaginário seu, que ele chamou de “Jesse, The Illiterate Faggot” (algo como “Jesse, o viado analfabeto”). Lewis teve que se desculpar publicamente pelo comentário.

Em 2015, Lewis criticou o então presidente Barack Obama (“nunca foi um líder”), disse que refugiados deveriam ficar “na puta que o pariu onde estão” e elogiou a candidatura de Donald Trump: “Ele é ótimo porque é um ‘showman’. E nunca tivemos um na cadeira presidencial.”
Em seu testamento deixou claro que os seus seis filhos e seus descendentes não colocariam as mãos em sua fortuna. As únicas contempladas foram sua última mulher, SanDee e a filha adotiva Danielle. O primogênito, Gary Lewis, acusou seu pai de crueldade.

Jerry Lewis, um dos maiores comediantes do mundo, morreu no último 20 de agosto, aos 91 anos.

Elsa Martinelli, a mulher mais estilosa do mundo, nos anos 1960

Nascida em 1935, em Grosseto, na Toscana, sétima filha de uma família de oito filhos, a bela atriz era modelo antes que o ator americano Kirk Douglas a visse em uma fotografia na revista “Life” e a contratasse para seu western “A Um Passo da Morte”, de 1955.

Reconhecida por sua beleza e talento, espécie de Audrey Hepburn italiana, foi considerada por Vittorio De Sica a “mulher mais estilosa do mundo ” nos anos 1960.

Em 1957, casou-se com o milionário conde Franco Mancinelli, com quem teve uma filha, antes de se divorciar e se casar com o fotógrafo/repórter Willy Rizzo.

Em 1962 esteve no Rio de janeiro em companhia do conde. Ao retornar no carnaval de 1964 veio acompanhada do então namorido Willy Rizzo.

A revista Fatos e Fotos afirmava: “Ambos gostam de viajar, detestam a artificialidade dos estúdios e os ambientes sofisticados de Roma e Paris. Por isso escolheram o carnaval do Rio como palco de sua lua de mel.”

Contrariando o modelo das voluptuosas mamas italianas, a esguia e elegante Martinelli antecipava um estética que se tornaria padrão somente algumas décadas mais tarde.

Como se não fosse suficiente o glamour da “Hepburn” italiana marcaram presença no carnaval carioca em 1964: Françoise Dorléac, irmã de Catherine Deneuve e Brigitte Bardot acompanhada do namorado marroquino-brasileiro Bob Zagury.

Martinelli divide a foto publicada na postagem com um ícone da beleza local a miss Brasil 1958, Adalgisa Colombo. No Miss Universo, realizado em Long Beach, ficou em segundo lugar

Elsa morreu em Roma em 8 de julho de 2017, aos 82 anos.

Luiz Melodia, o poeta do Estácio

… “Palmeira do Mangue não nasce na areia de Copacabana”… já afirmava Noel Rosa. Talvez um substrato fertilíssimo vindo do canal que capta o esgoto dos bairros circunvizinhos, ou da antiga zona de meretrício, também conhecida pelo mesmo nome explique a força dessas palmeiras. Ou quem sabe a forte herança cultural dos primeiros moradores do centro do Rio de Janeiro, desalojados pela política higienista do prefeito Pereira Passos, para morros, como o de São Carlos? Ou para pioneiros conjuntos habitacionais como o ainda de pé da rua Salvador de Sá?

Teria sido a energia dos baianos e baianas que criaram o samba a partir de suas batucadas na limítrofe Praça Onze?

Não se sabe ao certo o porquê desse pequeno bairro do centro do Rio de Janeiro ser o celeiro de bambas da música e da poesia. Todos inventando e reinventando a batida perfeita. O morro de São Carlos/Estácio que nos deu a primeira escola de samba, também nos legou Ismael Silva, Moreira da Silva, Ângela Maria, Dominguinhos do Estácio, Gonzaguinha, Luiz Melodia, que com sua sensibilidade sofisticada, através de construções poéticas de extrema complexidade, traduziu, como ninguém, de forma amorosa a gratidão pelo seu bairro de origem: “Se alguém quer matar-me de amor/Que me mate no Estácio/Bem no compasso, bem junto ao passo/Do passista da escola de samba/Do Largo do Estácio. ”

Chegou a frequentar programas de calouro. Mas tudo aconteceu para ele quando conheceu os poetas Torquato Neto e Waly Salomão, que o levaram para a Ipanema do desbunde Hippie.
Em 1972, Maria Bethânia gravou “Estácio Holly Estácio” e chamou a atenção para aquele jovem compositor. Posteriormente, os LPs “Pérola Negra” (1973), “Maravilhas Contemporâneas”(1976) e “Mico de Circo” (1978) consolidaram sua fama.

Luiz Melodia faleceu na madrugada de 4 de agosto de 2017, no Rio, em decorrência de complicações de um câncer que atacou a medula óssea.
Velado na sede da sua escola de coração e enterrado no cemitério do bairro irmão, Catumbi, Luiz Melodia não nasceu na areia de Copacabana, mas no Estácio, território fértil e inspirador. Suas belas canções fazem parte da história do nosso cancioneiro popular.

Como diria o poeta: “Arranje algum sangue, escreva num pano”: Melodia Vive.

Lima Barreto – mulato pobre, mas livre

A 15ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), de 2017, homenageou o escritor carioca Lima Barreto. Esta foi a segunda grande homenagem ao escritor, a primeira foi em 1982 quando a escola de samba Unidos da Tijuca desenvolveu o enredo ,”Lima Barreto – mulato pobre, mas livre”.

“Vamos recordar Lima Barreto/Mulato pobre, jornalista e escritor/Figura destacada do romance social/Que hoje laureamos neste carnaval”são os primeiros versos do belíssimo hino da tradicional escola tijucana. Composto de forma tradicional, inaugurando os versos com uma clássica evocação ao homenageado.

“Era realmente o momento de trazer Lima Barreto, até porque o país e o mundo têm discutido muito a questão racial. Era uma forma de contribuir para essas discussões”, esclareceu a curadora da Flip, Josélia Aguiar. Viés trilhado pela Tijuca de forma pioneira, há 35 anos atrás.

Filho de pais com instrução, mas de humilde situação financeira, Lima Barreto, perdeu a mãe, Amália Augusta, que era uma escrava liberta e professora, aos seis anos de idade. O pai, o tipógrafo João Henriques, tomou conta do menino e de outros três filhos mas, poucos anos depois foi diagnosticado como neurastênico. O padrinho de Lima Barreto, o Visconde de Ouro Preto, pagou por sua educação.

Em 1904, contudo, teve que abandonar os estudos para sustentar os irmãos já que seu pai começou a ter acessos de loucura. Lima Barreto entrou por concurso no Ministério da Guerra, encarregado de fazer cópias, registros e correspondências.

O alcoolismo e depressão o levaram a ser internado pela primeira vez em 1914. Seu estado de saúde piorou e ele foi internado por invalidez em 1918. No ano seguinte tenta o ingresso, pela terceira vez, na Academia Brasileira de Letras, e desiste antes da votação.

A primeira tentativa foi em 1917, quando escreveu uma carta a Rui Barbosa se colocando como candidato à uma vaga aberta com a morte do advogado Sousa Bandeira. A candidatura sequer foi acatada, sob a alegação de que Lima Barreto não cumprira o protocolo de inscrição formal. Já naquela época vigorava a ideia difundida pelo próprio Machado de Assis de que a Academia deveria ser uma instituição de “boas companhias” e que o critério das “boas maneiras” e da “absoluta respeitabilidade pessoal” deveria ser levado em conta na escolha dos pares. Lima Barreto era boêmio , andava malvestido, vivia bêbado e volta e meia era internado em hospitais psiquiátricos, não tinha “o perfil de acadêmico”.

“Barreto não sabia/Que o talento banhado pela cor/Não pisava o chão da Academia/Vencido pela dor de uma tragédia/Que cobria de tristeza a sua vida/Entregou-se à bebida/Aumentando o seu sofrer”

O iniciante carnavalesco, Renato Lage, realizava o terceiro e último desfile na Tijuca. Começou com pé direito em 1980, conquistando o titulo no grupo de acesso A, com o enredo sobre Delmiro Gouveia. No ano seguinte conquistou o oitavo lugar, já no grupo especial, com o tema, “O que dá para rir dá para chorar – A peleja do caboclo Mitavaí contra o monstro Macobeba”. Fechou sua interessante triologia, que resultou em antológicos sambas, com a homenagem ao triste e visionário escritor carioca.

A escola se apresentou com três carros alegóricos: “O abre-alas”, “A gratidão e o louvor dos negros a Lima Barreto” e “Os textos de Lima Barreto e os tipos suburbanos”. O carnavalesco, foi muito elogiado pelas belas fantasias retratando a belle époque.

O ponto alto do desfile, entretanto, foi o excelente samba enredo, composto por Adriano. Assim mesmo, sem sobrenome e parceiros. Um samba de um único compositor.

A Unidos da Tijuca, colocou mil e oitocentos componentes motivados para buscar uma boa classificação. Ficou em nono lugar. Mas cumpriu o papel de resgatar, de forma digna, o lugar de Lima Barreto entre os grandes da literatura brasileira.

Muitos consideram o desfile e o samba da Tijuca baixo astral, apelativo. Mas é isso mesmo, o autor que denunciou o racismo no inicio do século XX, sofreu.

O escritor convivia com o vício do alcoolismo e com internações psiquiátricas, já que sofria com crises forte de depressão, que o levaram à morte precoce, vítima de um ataque cardíaco, aos 41 anos, no dia 1 de novembro de 1922.

Nenhum logradouro público em área nobre da cidade em sua homenagem, nem rua, praça ou muito menos avenida. Triste, solitário, melancólico, mas jamais esquecido!

“Lima Barreto/Este seu povo quer falar só de você (bis)/A sua vida, sua obra é o nosso enredo/E agora canta em louvor e gratidão”

O primeiro Jeans (e topless) a gente nunca esquece!

Não sei bem como as “feministas” encarariam as propagandas que projetaram a Dijon nos anos 80. As modelos usavam apenas o jeans, fazendo topless. Ao lado, um bem apessoado descendente de libaneses, Humberto Saade, fazia pose de “dono do pedaço”

“Era um passo adiante do que Calvin Klein fazia nos EUA, Brooke Shields estava abrindo a camisa enquanto Luiza Brunet já estava sem blusa”.

A calça Dijon com cantoneira dourada no bolso traseiro, foi a maior criação da confecção, todas as mulheres sonhavam com um modelo apertadíssimo, modelando as curvas características do biotipo local. A Dijon chegou a vender quatro milhões de exemplares de uma única calça jeans.

Obteve, também, grande sucesso com o lançamento da champanhe Dijon.

E para promover seu novo investimento, organizou um baile de carnaval, o Baile do Champagne. Durante 10 anos foi um baile fez parte do calendário do carnaval carioca. Teve sua primeira edição na extinta casa de shows Scala e depois seguiu para o Clube Monte Líbano.

A foto publicada é de 1986, quando oito mil foliões lotaram os salões do Monte Líbano.

As rainhas do baile eram sempre as garotas-propagandas da Dijon: Luiza Brunet, em 85, Monique Evans, em 86, e Vanessa de Oliveira nos anos seguintes.

Em 86, com uma fantasia confeccionada em pedras multicoloridas, Monique provocou o delírio de turistas e convidados: chegou seminua numa liteira carregada por um pelotão de fortões.

Humberto, morreu, no ultimo dia 10, aos 78 anos de infarto.