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Muitos Carnavais – Página: 6 – Sonhos de Carnavais

As pedras pisadas do Cais do Valongo

Em 1976, sessenta e cinco anos depois do aterro do Cais da Imperatriz, o Salgueiro desenterrava a história do maior porto de recebimento de escravos das Américas. O Cais do Valongo é um local de memória, que remete a um dos mais graves crimes perpetrados contra a humanidade, a escravidão.

Até meados da década de 1770, os escravos desembarcavam na Praça XV, e eram negociados à vista de todos. Em 1774, uma nova legislação, estabeleceu a transferência desse mercado para a região do Valongo, com o objetivo de esconder a barbárie do olhar da população. A região, hoje central, era afastada da cidade.

De 1811 a 1831, entre 500 mil e um milhão de escravos ali desembarcaram. O Rio de Janeiro foi o porto negreiro nas Américas onde mais desembarcaram cativos africanos.

Em 1843, foi feito um aterro de 60 centímetros de espessura sobre o, já decadente, cais do Valongo para a construção de um novo ancoradouro, destinado a receber a princesa Teresa Cristina, futura esposa de D. Pedro II. O cais foi então rebatizado ‘Cais da Imperatriz’. Teve inicio assim o processo de “enterramento histórico” do triste porto.

Com as reformas urbanísticas da cidade no início do século XX, o Cais da Imperatriz foi aterrado, definitivamente, em 1911.

Coube ao Salgueiro o resgate da memória desse marco físico do deslocamento forçado de africanos para o território americano.

A abordagem feita pelo carnavalesco Edmundo Braga, entretanto, preferiu destacar a contribuição africana na miscigenação do povo brasileiro.

Dividido em 3 partes, África, Travessia e Valongo, o enredo foi defendido por dois mil figurantes, distribuídos em 113 alas, com 63 peças alegóricas, entre carros(9) e portáteis, 330 integrantes na bateria e 39 destaques.

A revista Manchete, em sua edição de carnaval, afirmava: “O desfile correto, dentro da melhor tradição salgueirense, não chegou a empolgar as arquibancadas (foram montadas sobre o Mangue, na Avenida Presidente Vargas) . Culpa talvez da pouca comunicabilidade do samba-enredo, que não crescia na avenida. Nem mesmo a classe do puxador, o compositor Noel Rosa de Oliveira, conseguiu levar o samba à espinha da plateia. A bateria garantiu o ritmo, a melodia não atravessou nem por isso Salgueiro trouxe a sua tradicional empolgação”

Será que a citada ausência de empatia foi provocada pela letra equivocada do samba de Djalma Sabiá? Um controverso trecho afirmava:“ Terminou o guerreiro num navio negreiro/Lugar do seu lazer feliz”, como assim? lazer feliz num navio negreiro? um deslize imperdoável para um escola que se consagrou enaltecendo Zumbi, Chica da Silva, Chico Rei, a luta dos negros no nosso país.

É preciso lembrar que o ano de 1976 foi repleto de sambas memoráveis, dentre eles “Os Sertões” da escola de samba, Em Cima da Hora. Um dos maiores sambas da história dos sambas de enredo.

Além de problemas com o hino, o Salgueiro enfrentava outros desafios: perdeu o genial carnavalesco Joaozinho Trinta e o diretor de harmonia Laíla para a Beija Flor, driblava uma crônica crise financeira, e era alvo de pertinentes críticas ao excesso de componentes brancos em seus desfiles. O último carro alegórico do desfile de 1976, que trazia escravas acorrentadas, não tinha uma negra sequer.

Edmundo Braga foi contratado com o objetivo de levar a escola tijucana ao tricampeonato. A agremiação perdeu cinco pontos em cronometragem e conseguiu, apenas, chegar em quinto lugar, com 106 pontos.

Em 2011, durante as escavações realizadas como parte das obras de revitalização da zona portuária do Rio de Janeiro, foram descobertos os dois ancoradouros, Valongo e Imperatriz, um sobre o outro.

As pedras pisadas do cais cantadas pelo Salgueiro em 1976 foram declaradas patrimônio da humanidade na 41ª sessão do comitê da Unesco, em 2017. Um “sítio arqueológico sensível”, mesma categoria do campo de concentração de Auschwitz e da cidade de Hiroshima, destruída por uma bomba atômica.

Na foto publicada, a passista Roxinha, ícone salgueirense, para mandar a tristeza embora, rebate a dor da diáspora com samba no pé.

Ivete, a rainha do axé, ovacionada na Sapucaí

“A Grande Rio vem dar um banho de axé/Salve! Toda essa gente de fé/O tambor da invocada promete/Levanta a poeira, Ivete! ” E Ivete levantou poeira! Inegavelmente um dos pontos altos do desfile do grupo especial de 2017. impressionante observar, a vibração das arquibancadas, durante a passagem da baiana pela Sapucaí.

A cantora não mediu esforços para retribuir a homenagem feita pela escola de samba da baixada. Sangalo teve de correr para desfilar em dois pontos diferentes da escola. Saiu na comissão de frente, que representava sua infância, na cidade Juazeiro. Quando a comissão chegou à dispersão, Ivete entrou rapidamente num automóvel, para dar a volta no sambódromo e ressurgir na alegoria final com o marido, Daniel Cady, e o filho, Marcelo, de 7 anos. O último carro alegórico, era um símbolo do encontro dela com a Grande Rio.

Se a rainha do axé arrebatou o sambódromo, a autorização concedida pela Prefeitura do Rio, ao bloco de axé, Banda Eva, onde Ivete surgiu, causou polêmica entre os cordões da cidade.

“Não acho que só tem que tocar marchinha na rua. Mas, por que a gente precisa trazer bloco da Bahia se a cidade já tem mais de 500 blocos criados aqui de forma espontânea, entre amigos, para fazer um carnaval de brincadeira e não carnaval de negócios como é neste caso?”, questiona, em entrevista ao O Globo, Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, associação que representa 11 blocos do Carnaval carioca, entre eles o Simpatia É Quase Amor e o Suvaco do Cristo.

O engenheiro Floriano Torres, fundador do Que merda é essa?, que desfila há 22 anos em Ipanema, contou que a “importação” já foi tentada no passado, mas os blocos resistiram, e o antigo prefeito, Eduardo Paes (PMDB), não deu autorização.

“Dessa vez, não nos ouviram. O carnaval do Rio é espontâneo, e esse tipo e bloco é totalmente comercial. Recife e Olinda nunca permitiriam isso, porque não cabe lá. O Rio já tem bloco demais. Há os que tocam outros ritmos, como frevo e sertanejo, mas estes são do Rio, e não ‘importados’. Vir caminhão da Bahia para o Rio é um absurdo”, disse Torres.

Entretanto, o bloco Eva desistiu de participar do Carnaval do Rio de Janeiro: “Agradecemos à Prefeitura, através da Riotur, pela autorização concedida, porém entendemos que a realização do desfile no Parque Olímpico, um local fechado, não contempla a energia e o modelo de carnaval de rua esperado pelo grupo Eva e pelos cariocas. Desta forma, comunicamos que não iremos mais realizar o desfile do Bloco EVA no carnaval de rua do Rio de Janeiro”, diz o texto.

O desfile estava agendado para o dia 4 de março, na Praia do Pepê (Barra da Tijuca). Entretanto, a empresa de Turismo da Prefeitura não concedeu o espaço, disponibilizou o Parque Olímpico.

Recentemente, Elba Ramalho levantou uma polêmica quando reclamou da presença em massa de artistas sertanejos dentro das programações dos festejos juninos no nordeste do Brasil. Em Caruaru, durante uma entrevista coletiva, a cantora disparou: “Falei com a Paraíba, reivindiquei porque o São João de lá está muito mais comprometido que o São João daqui. Eu não tenho nada contra nenhum artista, nada contra nenhum sertanejo. Tem espaço para tudo, no céu cabem para todos os artistas, ninguém atropela ninguém. Porém eu não toco na Festa de Barretos, Dominguinhos também não cantava. A festa é deles, é dos sertanejos, e eles têm bem esta coisa: essa área é nossa.”

É a luta pela manutenção da identidade da cultura local. Dialética complexa e com resultados imprevisíveis.

No sambódromo, em 2017, A rainha do axé, Ivete Sangalo, com seu inegável carisma, garantiu à Grande Rio a quinta colocação no grupo especial.

Neuza Amaral e Búfalo Gil

A foto desse post retrata dois profissionais de áreas distintas num baile de carnaval: a atriz Neuza Amaral e o jogador Búfalo Gil. Ela com uma elegância meio fora do contexto e ele fantasiado de jogador do clube anfitrião do evento onde, aliás, se consagrou como atleta.

Neuza, uma das atrizes mais conhecidas da Globo, no ano de 1979, ano da foto, brilhou em Cabloca, novela de Benedito Ruy Barbosa. Se destacou, também, em Irmãos Coragem (1970), Selva de Pedra (1972), Fogo Sobre Terra (1974) e Duas Vidas (1976), todas escritas por Janete Clair.

A estrela compareceu ao baile de carnaval promovido pelo clube Fluminense. Foi a segunda edição do Vert, Blanc, Rouge. Tradicionais adversários do futebol, a partir de 1978, Fluminense e Flamengo disputaram um novo campeonato: o dos bailes pré-carnavalescos.

Contratado pelo Fluminense após se destacar no Vila Nova, de Minas Gerais, o ponta direita já chegou ao Rio sendo artilheiro do Campeonato Carioca de 1974. Durante os anos de 1975 e 1976, Gil fez parte do grande time do Fluminense que era chamado de “Máquina Tricolor” pela excelente qualidade técnica de seus jogadores. De 1977 a 1980, Gil jogou no Botafogo, com grande destaque

O short curto e apertado, típico dos anos setenta/oitenta, mostra o quanto Gil era forte. O jogador costumava ganhar no corpo a corpo dos defensores adversários, daí o apelido de Búfalo.

Búfalo tem 66 anos e mora em Niterói . Neuza Amaral faleceu no dia 19 de abril de 2017, aos 86 anos

Só com a ajuda do bispo

Em 2012, a Porto da Pedra levou para a Sapucaí um enredo que fez uma viagem pela história do leite: “Da seiva materna ao equilíbrio da vida.

A comissão de frente simbolizava os “Lactobacilos da Folia”. Os integrantes representavam os microrganismos que protegem o aparelho digestivo.

“Qual é a contrapartida de um enredo sobre iogurte? Eu tenho coragem de travar esse debate”, afirmou o rival de Crivella nas ultimas eleições, Marcelo Freixo, em referência ao desfile da Porto da Pedra, que caiu para o Grupo de Acesso.

Em 2017 os lactobacilos atacaram novamente. O principal argumento do prefeito para reduzir a verba das agremiações é que usaria metade dos recursos para dobrar às diárias pagas às creches – de 10 para 20 reais. O que possibilitaria a compra de mais de iogurtes para as criancinhas.

A falsa questão: creches x escolas de samba joga a opinião púbica contra sambistas e profissionais envolvidos no evento. Quem vai apoiar tirar um “danoninho” das mãos de uma criança para investir em desfile de escola de sambas?

A Liga Independente das escolas de Samba do Rio de janeiro (Liesa) reagiu ameaçando não realizar o desfile de carnaval em 2018.

O curioso é que ainda candidato à prefeitura do Rio, Crivella disse, em agosto de 2016, que iria manter o patrocínio para as escolas de samba.

A proposta de racionalizar a verba pública e questionar a entidade que gerencia o carnaval do Rio era do candidato derrotado, Marcelo Freixo: “A Liesa não pode substituir o poder público. É um bom debate. Só não aceito a pecha de censura. Não existe dirigismo. As escolas encolhem o enredo que quiserem. Mas qual é a contrapartida? Qualquer edital de qualquer setor da área de cultura que precisa de dinheiro público exige contrapartida cultural. Por que falar isso para as escolas de samba vira escândalo? E tem que ter prestação de contas”.

Freixo deixou claro que não financiaria escolas com enredos que recebessem financiamento privado, sem uma contrapartida cultural. Além de negar apoio a liga e questionar sua pouca transparência na administração do carnaval carioca. As escolas e a liga preferiram Crivella.

As escolas precisam do repasse do poder público. Além dos R$ 2 milhões, investidos pela prefeitura, as agremiações contam com a receita da venda de ingressos, direitos autorais e a cota de transmissão da TV. Há escolas que realizam seus desfiles com os recursos oficialmente disponibilizados, R$ 6 milhões. Os dois últimos carnavais da Mangueira, com enredos de inequívoca relevância cultural, não ultrapassaram esse teto.

Entretanto, a maior parte da chamadas grandes escolas buscam complementar seus orçamentos com recursos privados e gastam em torno de R$ 10 milhões para realizar seus desfiles. Fazendo, naturalmente, concessões aos patrocinadores.

Os mais alinhados com a ideia do Estado mínimo, defendem a transformação do carnaval num evento autossustentável com recursos provenientes exclusivamente do capital privado. Não é tão simples assim.
Com a diminuição das verbas públicas fica cada vez mais distante o objetivo de um carnaval mais essencial, relevante culturalmente e menos preocupado com o espetáculo.

Sem o mecenato do Estado, não teríamos óperas, balés, concertos. Cultura é essencial na formação de um povo e a escola de samba é parte fundamental da identidade da nossa cidade.

Vale a pena repetir para os que se preocupam com o equilíbrio fiscal e as contas do erário municipal: Ao final do carnaval de 2017, a Riotur informou que 1,1 milhão de turistas estiveram na cidade e deixaram 3,3 bilhões de reais. A ocupação dos hotéis beirou 80%. O carnaval proporciona um expressivo retorno financeiro à cidade e cumpre um papel relevante na geração de empregos.

Surpreendentemente, para alguns, o verdadeiro objetivo do prefeito em jogar a bebida láctea contra o povo do samba, não é equilibrar as contas da prefeitura, seria na verdade uma estratégia de silenciar um canal de expressão dos cultos afro-brasileiros. A história das escolas de samba dialoga desde a sua origens com as tradições dos terreiros de candomblé.

lactobacilos contra o povo do santo! Quem poderia imaginar uma coisa dessas?

Feliz dia dos namorados, dos rolos, dos crushes….

Boa pinta, porte atlético, um metro e oitenta, olhos castanhos claros, um “pão” perdido numa “Noite em Bagdá”, em 1967. Sua bela consorte com inacreditáveis cílios, não ficava por baixo, tinha medidas de miss, desinibida, segura, cheia de convicções, uma ”garota papo firme”.

No mesmo momento que se viram, emplacaram um cinematográfico beijo . A gata, nos anos sessenta mulher bonita também era chamada assim “gamou”. Foi paixão à primeira vista.

O que era para ser uma “ficada”, prometia um desfecho bem mais romântico que um simples amasso.
Provavelmente, o nosso “broto boa pinta” não estava em busca de compromisso sério. Saiu para “flertar” no Baile do clube Monte Líbano.

O destino, entretanto, prega as suas peças: a nossa “certinha” estudava na mesma faculdade que o gato e ele era sua paixão platônica. Isso mesmo, uma dessas coincidências de novela. Ao som de Máscara Negra o príncipe dos seus sonhos surge em meio à turba dos foliões.

Um intenso beijo roubado, confirmou suas expectativas e transformou o “crush” em “rolo” imediato. Se foram felizes para sempre? Não sei.

Essa história não tem fim, só início.

No princípio era o verbo e o verbo era apaixonar. Foi assim que tudo começou e assim será. Feliz dia dos namorados.

OO7 cai na folia

“O que se faz no Rio de Janeiro quando não se sabe sambar?” Foi o que perguntou Roger Moore, assim que chegou a cidade, onde iria protagonizar o décimo-primeiro episódio do agente 007. O questionamento do ator britânico, um batido clichê, foi um prenúncio da forma como a capital fluminense seria representada na transloucada passagem do agente da rainha por terras brasileiras.

Sem nenhum compromisso com a geografia do planeta, depois do vilão cortar os cabos do bondinho com os dentes, 007 cai em um campo aberto, onde consegue fugir a cavalo e chega a uma cidade da Bahia fantasiado de gaúcho. A seguir, sai em debandada pelo Rio Amazonas que desemboca nas Cataratas do Iguaçu, onde ele consegue, finalmente, escapar de asa-delta.

De tão absurdo, o filme ingressou na categoria kitsch e, surpreendentemente, foi um sucesso na época. Um dos mais rentáveis episódios da série.

A película, também, contou com a participação de uma Bond Girl tupiniquim. A estonteante Adele Fátima, chegou a gravar algumas cenas, mas devido a fofocas maldosas, toda a sua participação foi cortada e sua personagem foi interpretada pela atriz inglesa Emily Bolton.

A brasileira teria tido um caso com Moore, fato nunca confirmado. Uma foto sua aparecia no cartaz local e seu nome nos créditos do filme.

Entretanto, nem o mirabolante enredo previa um fato tão inusitado! Por mais inacreditável que possa parecer, na última terça-feira, fomos surpreendidos com uma triste notícia: morreu aos 89 anos, Roger Moore. Infelizmente, temos que admitir, 007 também morre.

O e-mail secreto de Dilma: 2606iolanda@gmail.com

Em recente delação feita aos procuradores da operação Lava-Jato, Mônica Santana, marqueteira da campanha presidencial de Dilma Rousseff junto com o marido João Santana, afirmou que trocava informações secretamente, com a então presidente, através uma conta falsa num provedor gratuito.

Dilma teria informado ao casal Santana, à época fora do Brasil, que seriam presos quando retornassem. Rousseff nega e acusa Monica de prestar falso testemunho.

O nome fictício da conta, 2606iolanda@gmail.com, foi uma freudiana lembrança de Iolanda, mulher do General Costa e Silva, presidente na época em que Dilma esteve presa por atividades guerrilheiras contra a ditadura militar.

Costa e Silva, marido de Iolanda, governou entre março de 1967 e agosto de 1969. Foi em seu governo que houve a instauração do Ato Institucional nº5, considerado o mais duro golpe contra a democracia no Brasil. Mesmo com a assinatura do AI-5 em 1968, D.ª Iolanda continuou descrevendo seu marido como “uma pessoa mole, de coração enorme”.

Afinal, quem foi Iolanda Costa e Silva?

A imagem oficial apresentava a mulher do segundo presidente da ditadura militar como: católica fervorosa, participante assídua do grupo de mulheres tradicionalistas que combatia a suposta infiltração comunista nas igrejas e na sociedade. Entretanto, interesses não tão conservadores tornam controversa a personalidade da, então, primeira esposa do país.

Falante e extrovertida, a primeira esposa, gostava de mandar e influenciar: atribui-se a ela a indicação de Paulo Maluf à presidência da Caixa Econômica Federal. Além disso, segundo as más línguas, ela teria ajudado Maluf a chegar à prefeitura de São Paulo após receber um presente deste, um colar de diamantes. Afirmava-se que Iolanda tinha uma fraqueza por presentes caros.

Promovia também festas, rodadas de pôquer e desfiles de moda no Palácio da Alvorada.

Jovens estilistas como Zuzu Angel, que mais tarde, na década de 70, teve o filho, Stuart, torturado e morto pelo governo militar, eram convidados a mostrar o seu trabalho.

Em um dos seus encontros fashion participou um jovem modelo chamado Fernando Collor de Mello. Fofocas na época diziam que a primeira dama tinha apreço por rapazes jovens.

Infelizmente, a elegância da consorte do presidente não era uma unanimidade. Sempre muito sincero, o estilista Clodovil, que trabalhava na Rádio Panamericana, dando conselhos de moda, criticou um vestido de Iolanda. Foi demitido.

Disseminou-se a versão que o derrame que atingiu Costa e Silva e levou-o prematuramente à morte, teve como um dos ingredientes as fofocas e comentários maldosos que envolviam sua esposa.

A paranaense também ficou conhecida por iacelerar, em troca de presentes,a tramitação de qualquer solicitação feita por empresários ao seu podoreso conjugê.

Na foto publicada na revista Cruzeiro, em 1968, Iolanda aparece animadíssima, no Baile do Municipal, é a primeira da direita para esquerda. Mario Andreazza, o então ministro dos Transportes, responsável por obras como transamazônica e ponte Rio e Niterói, divide o mesmo camarote, é o primeiro da esquerda para direita.

Registra-se, também, a presença do ex-presidente Juscelino Kubitscheck (não aparece na foto). Acusado pelos militares de corrupção e de ser apoiado pelos comunistas, teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos. Desde 1967 estava em campanha contra a ditadura militar, que por sua vez estava representada pelo ministro e a primeira dama em camarote próximo.

A referência ao Regime Militar não fica só no nome da primeira dama, mas também na numeração. Foi no dia 26 de junho de 1968 que a Vanguarda Popular Revolucionária assassinou o soldado Mário Kozel Filho, de apenas 18 anos. Dilma fazia parte do grupo.

Por que Dilma resgatou o nome da primeira dama? Uma ironia? Que fascínio ou trauma a senhora citada exerceu sobre a jovem militante política?

Para o bem ou para o mal Dilma não esqueceu Iolanda e nós não esqueceremos Dilma.

Nossos ídolos continuam os mesmos

“Me diz que eu sou seu tipo/Me diz, neném, que eu acredito/Murmura baixinho que eu sou seu ideal/Coloca aquele vestido, tipo cupido/Vê se não brinca com a minha libido/Meu beija no ouvido/Nada faz sentido/Tudo arde/Me diz que eu sou seu tipo”…este é um trecho da canção, Seu Tipo, que dá nome ao álbum e ao show produzido por Ney Matogrosso, em 1979.

Não brinquem com a poderosa libido de Ney! Nos anos 70 quando os Secos e Molhados surgiram, Ney a utilizava como como instrumento de luta contra o preconceito e a ditadura. Em 1979, depois de anos de maquiagem pesada, roupas provocantes, pulseiras e adereços, Ney Matogrosso queria provocar os caretas de cara limpa e provar que conseguiria fazer sucesso. Fez.

Enquanto, o cantor tirou a fantasia para se apresentar, Gal Costa, ao seu lado na foto, se exibia sofisticadíssima no show Gal Tropical.

A baiana brilhava, Aos trinta e quatro anos, num dos shows mais importantes da história da MPB. Um divisor de águas, pois Gal abandonava o visual hippie e assumia uma postura de diva. O repertório do espetáculo era constituído de um resgate de pérolas esquecidas do nosso cancioneiro. Gal revirou o baú de Emilinha Borba, Carmem Miranda, Dolores Duram e apresentou um grande painel da nossa cultura musical.

Guilherme Araújo que idealizou e dirigiu o espetáculo da cantora era o produtor do baile de carnaval do morro da Urca, Sugar Loaf Carnival, onde os dois ícones da MPB foram fotografados, no exato momento em que a orquestra do maestro Zezinho executava a marchinha “Balancê”, sucesso do citado LP de Gal:… Eu levo a vida pensando/Pensando só em você/E o tempo passa e eu vou me acabando/No balancê, balancê…Entretanto, as músicas mais tocadas foram os sambas-enredos das escolas para o carnaval daquele ano, e “Vou Festejar”, sucesso na voz de Beth Carvalho.

O baile do Pão de Açúcar criado por Guilherme Araújo abriu o carnaval, durante quinze anos, na sexta feira que antecedia a folia. Debruçados sobre a baía de Guanabara, gays, socialites, celebridades do mundo artístico nacional e internacional usufruíam de um dos eventos mais bonitos da história dos bailes da cidade do Rio de Janeiro.

Na foto do post, Ney Matogrosso aparece trajando um exuberante índio estilizado, fantasia que se integrava perfeitamente ao tema da decoração. O cenógrafo e carnavalesco Fernando Pinto procurou reproduzir uma taba. Havia muito bicho de papel de estanho, madeira e palha.

Quatro décadas se passaram, Gal Costa e Ney Matogrosso, na casa dos 70 anos de idade, continuam produzindo shows e CDs transgressores.

Se na política o rei esta nú, e duvidamos de tudo e de todos, na música popular podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que nossos ídolos continuam os mesmos!

Almir Guineto na Furiosa

Convocados para homenagear o mestre de bateria Almir Guineto os 240 ritmistas do Acadêmicos do Salgueiro, imediatamente, atenderam ao chamado.

Mesmo os que não estão mais aqui atenderam ao convite. Envergando a fantasia que homenageava “Dona Beija, a feiticeira de Araxá”, a Furiosa rufou os seus tambores, em homenagem a mais um grande valor, nascido no morro do Salgueiro.

Guineto dirigiu a bateria da vermelho e branco em 1968,1969,1970,1972 e 1973. Era irmão de Lourival Serra (Mestre Louro), que foi o maior diretor de bateria da escola tijucana. Filho do Iraci Serra, violonista e integrante da ala dos compositores do Salgueiro e sobrinho do seu Geraldo do Caxambu. Sua mãe, a célebre “Dona Fia”, era compositora, costureira e uma das personagens principais da Acadêmicos, uma dinastia de sambistas.

O Salgueiro abrigava uma pluralidade de manifestações culturais que se fixaram na região no final do século XIX. Como o Jongo, o Calango e a Macumba. Os negros bantos trouxeram para o Salgueiro uma gama de danças e ritmos que influenciaram decisivamente o estilo de compor de Almir Guineto.
Em 1978, fundou com Jorge Aragão, Bira, Noeci, Sereno, Sombrinha e Ubirany o grupo Fundo de Quintal, que o levaria à fama. Sua composição mais conhecida é Coisinha do Pai, feita com Jorge Aragão e Luiz Carlos.

Após a revolução do Estácio nos anos 30, Guineto e seus comparsas do Cacique de Ramos constituíram-se no final dos anos 70 como os grandes arquitetos, renovadores e experimentadores do samba. “(Jornal FSP)

Introdutor do banjo (afinado como se fosse cavaquinho) , inspirado melodista e grande versador nas rodas de partido-alto, tornou-se, na década de 80, um dos formatadores do samba moderno.

Celeiro de bambas, o morro do Salgueiro, e sua furiosa bateria, desceu para homenagear o filho ilustre, que sai da vida para entrar na história.

Volta Belchior!

Boa parte do que aprendi, em minha adolescência, foi através das músicas que ouvi em uma pequena vitrola. Caetano, Chico, Gonzaguinha, Ivan Lins, Milton, Elis, Bethânia, foram fundamentais na minha formação. Cresci acreditando “que uma nova mudança em breve irá acontecer…E o que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo e que precisamos todos rejuvenescer…

Um dos responsáveis por parte do que penso e sou, Belchior, de 70 anos, morreu na madrugada deste domingo (30/4) em Santa Cruz do Sul (RS).
Belchior apareceu no Festival Universitário da TV Tupi, em 1971, com a música “Hora do Almoço” que acabou ganhando o primeiro lugar do concurso.

O cantor e compositor consolidou sua carreira com três discos geniais, lançados de 1974 a 1977.

Há dez anos sumido da vida pública, foi um artista, que para alguns, optou em viver a liberdade que cantava. Músico de sucesso na década de 70, ficou recluso, se ausentando dos palcos. Abandonou tudo.

Há outros intelectuais, não muitos, que optaram pela misantropia: J.D. Salinger de “O apanhador no campo de centeio”, rompeu com o mundo e foi se esconder no interior dos Estados Unidos. O Poeta francês Rimbaud parou de escrever e passou o restante da vida viajando.

Na onda dos blocos temáticos, no carnaval deste ano, 2017,os fãs do cantor cearense criaram em Belo Horizonte o “Volta Belchior.”

De acordo com o idealizador do bloco, Kerison Lopes, o cordão tem por objetivo homenagear o “filósofo da música popular brasileira”. “Ele é um dos principais compositores que trata de questões sociais em suas letras. Não tem uma letra que não ensina algo, cada verso dele é carregado de poesia e de significado“, afirma.

Ao ser perguntado o que achava do sumiço do cantor, Pedro Martins, outro fundador da agremiação, respondeu: “Achamos espetacular. Numa época que todos estão super expostos, com redes sociais e selfies banais, um artista respeitado, como o Belchior, decide se isolar, fugir do mainstream e viver a vida dele é um exemplo. A vontade sincera nossa era ir junto com ele. Alguns até brincam que o bloco deveria chamar “me leva, Belchior”.

Entretanto, uma outra versão sobre o desaparecimento do bardo de Sobral circula: saídas disfarçadas em hotéis sem pagamentos de diárias, malas retidas, inadimplência no pagamento de pensões aos filhos, mais fugas, dívidas milionárias, roupas e materiais de trabalho abandonados às pressas passaram a ser a rotina do cantor e sua nova companheira no sul do Brasil.

Misantropia? Um pensador que quis romper com seu passado ou a louca escapada de um mau pagador? Em dias onde uma narrativa criada vale mais que a verdade propriamente dita, prefiro ficar com a memória do ídolo dos tempos da adolescência que se apresentava como um rapaz latino americano, sem dinheiro no bolso sem parentes importantes…e que se recusava a envelhecer, guardado por Deus, contando o vil metal..

Obrigado pelas belas canções. Valeu Belchior!