Me dá um dinheiro aí

No final dos anos cinquenta, a TV Rio exibia, um programa chamado “Rio, te adoro”. Um dos quadros do programa era A “Praça da Alegria” onde Moacyr Franco participava fazendo algumas piadas e um ou outro número musical. Certo dia, ele recebeu o texto de uma piada curta escrita por Glauco Ferreira. Nessa piada, o ator Iran Lima interpretava um marido que comentava com a esposa sobre o fato de haver muitos mendigos pedindo esmola na rua. A mulher dizia que era um exagero. Mas quando Iran foi abrir a porta de um armário de lá dentro saía Moacyr, de mendigo, dizendo o bordão “ei, você aí! me dá um dinheiro aí!”. A plateia veio abaixo em risos. Foi um sucesso imediato.*

Daí nasceu o primeiro fruto do bem sucedido bordão. Glauco Ferreira e seus irmãos Homero e Ivan, compuseram uma marchinha, gravada por Moacyr Franco, A música tornou-se o maior sucesso do carnaval de 1960.

Em 1958, o agora refrão de um dos maiores clássicos do carnaval, quase gerou uma crise política.

Neste ano, o secretário de Estado americano John Foster Dulles veio em missão diplomática ao nosso país. Reunido com o Presidente Juscelino Kubistchek no Palácio das Laranjeiras, em agosto de 1958, se empenhavam na redação de uma nota conjunta. Dulles insistia numa declaração contra o comunismo e queria que o Brasil oficializasse a presença da CIA, a agência central de inteligência americana, no país. Juscelino relutava.

“Que homem terrível!”, desabafou JK ao sair da reunião. “Frio como gelo e obcecado até a medula pelo ‘perigo comunista'”, afirmou o presidente brasileiro.

Antes de iniciar as penosas conversações, JK e Dulles aguardavam que os fotógrafos terminassem seu trabalho. Um deles, Antônio Andrade, conseguiu um flagrante que no dia seguinte, 6 de agosto, estaria na primeira página do Jornal do Brasil: com cara de poucos amigos, o americano já se sentou à mesa; em frente a ele, de pé, JK estende as mãos espalmadas e tem no rosto uma expressão de quem suplica. JK estaria pedindo a Dulles que se levantasse para aperto de mãos sugerido pelos fotógrafos. O secretário norte-americano, que por sua vez parece que está abrindo uma carteira à cata de dinheiro”.

JK foi tomado pelo ódio. Seu governo se notabilizou por buscar uma política externa mais autônoma em relação às diretrizes emanadas de Washington. Entretanto, o episodio deu munição aos seus adversários, que não perderam a chance de espicaçá-lo, a começar pelo deputado Carlos Lacerda, que o acusou de “subserviência”.

Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro fez “continência” para John Bolton, conselheiro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Repetiu o gesto para o primeiro ministro israelense, Benjamim Netanyahu, que veio assistir a sua posse.

Reza o protocolo que um militar deve bater continência ao seu superior, e não ao contrário. Alguns, todavia, afirmam que a continência é um tipo de saudação quando um militar encontra qualquer civil ou autoridade. E tem um significado de um cumprimento. Talvez, o bom e velho aperto de mão fosse suficiente e blindado de polêmicas.

Difícil mesmo, será arrumar alguma justificativa para deputado Otávio Mangabeira, que em 1946, se ajoelhou e beijou a mão do presidente americano Truman em visita ao Brasil.

Os episódios descritos mostram a importância dos protocolos, que devem ser seguidos pelas autoridades em seus cargos.

O bordão, por sua vez, não para de render frutos: o enredo da escola de samba, Imperatriz Leopoldinense, para o carnaval de 2019, será – “Me dá um dinheiro aí!” Infelizmente, a partir leitura da sinopse do seu enredo, pode-se concluir que os carnavalescos nada irão aproveitar da rica trajetória da marchinha composta no mesmo ano da fundação da agremiação. Vão contar a história do dinheiro. Boa sorte para a verde branco da Leopoldina.

* O primeiro parágrafo foi baseado num texto publicado na wickepedia.

Mulatas da Portela

A abertura do desfile da Portela no carnaval de 1973 causou impacto. Além da águia em movimento, havia também uma novidade para época: comissão de frente composta por 15 mulatas selecionadas pelo clube Renascença e quase todas ex-misses daquele clube. Terceira escola a desfilar, a Portela apresentou-se depois da Unidos do Jacarezinho e da Tupi de Brás de Pina. O enredo, Pasárgada,o Amigo do Rei, inspirado no poema de Manuel Bandeira movimentou a escola. Sem dúvida as mulatas do Renascença devem ter levantado a Presidente Vargas!