PROSERPINA

Núcia Miranda conquistou, pela primeira vez, o primeiro lugar na categoria luxo e originalidade do baile no Theatro Municipal, do ano 1960, fantasiada de PROSERPINA. A concepção e realização da incendiária indumentária coube a Rene Brandão.

PROSERPINA é a deusa do submundo na mitologia romana. Também é considerada a deusa da agricultura, das estações, das flores, dos frutos, das ervas e da fertilidade. Na mitologia grega ela é chamada de Perséfone.

Filha de ZEUS, o senhor dos deuses e dos homens, e DEMETER, deusa da colheita e da fertilidade, Perséfone nasceu e foi criada no Monte Olimpo.

Como era muito bela, Perséfone chamou a atenção de muitos deuses. Virgem e protegida por sua mãe, ela foi raptada pelo seu tio, deus do submundo HADES enquanto colhia narcisos.

A partir desse momento, os alimentos e os campos foram atingidos pela tristeza de Deméter, deusa responsável pela agricultura. Receosos das consequências que isso poderia acarretar, os deuses logo interviram para encontrar sua filha.

Ao revelarem onde estava Perséfone, Deméter foi pedir a ajuda de Zeus. No entanto, Hades não permitiu o retorno de Perséfone. O deus do submundo ludibriou a deusa e fez com que ela comesse o fruto que selaria o casamento: a romã. E, como consequência desse ato, ela ficaria com ele um terço do ano.

Assim, durante os meses do outono, primavera e verão ela retornaria à Terra e ficaria ao lado de sua mãe. Nos meses do inverno, por sua vez, ela ficaria no submundo, ao lado de Hades.

Esse mito foi muito utilizado para explicar as mudanças das estações do ano. Assim, quando Perséfone estava ao lado de sua mãe, os campos floresciam. Por outro lado, no inverno, o solo ficava infértil e a falta de alimentos afetava a população. Isso refletia a tristeza de sua mãe quando ela não estava ao seu lado.

A fantasia foi toda bordada em alto-relevo, com chapéu tripartite e de chifre luminosos. Totalmente feita em pedrarias vermelhas, canutilhos, paetês franceses, capa em lamê metálico e chapéu de plumas. A capa tinha 10 metros, com vidrilhos e miçangas.

A desfilante carrega um Tridente. Na verdade, o rei do Hades, carrega um cetro de dois dentes na mão esquerda, simbolizando a vida e a morte. Na mão direita, segura a coleira de seu companheiro canino de três cabeças, Cérbero, animal guardião dos portões do reino de Hades.

Acredito, que Rene optou, alterando na iconografia tradicional do deus do Hades, em carnavalizar a vestimenta de sua consorte apelando para o sincretismo: Plutão/Diabo, Hades/Inferno, e daí a opção pelo tridente. O garfo de três dentes e não de dois, que seria mais correto.

O equívoco e possibilidade de vários significados, representam genuinamente a antropofagia carnavalesca.

A fantasia custou setecentos mil cruzeiros. Sua confecção levou três meses e vinte e sete dias.

A bela vedete e atriz Núcia Miranda foi, por muitos anos, destaque nos concursos de fantasias carnavalescas. Namorou homens bonitos, como o jogador Bellini e o cantor Sílvio César.

Morreu em 2010 em Nova Iorque, onde residia.

Escolas (de samba) com partido

Desconfie sempre de quem se diz neutro. Há sempre um desejo de impor a sua verdade por trás de quem se afirma isento.

Os poderes se comunicam e nos afetam. Ao abordar qualquer tema dialogamos com o poder instituído, político, partidário ou não.

Engenheiros, administradores atuam politicamente. Um médico ao se recusar a prescrever remédios ineficazes está fazendo política.

Manifestações culturais e artísticas ocupam um espaço importante nesse dialogo com os poderes presentes em qualquer sociedade humana.

Em 2018, no desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti, no Carnaval do Rio, o presidente Michel Temer, foi representado na forma de um diabólico “presidente vampiro” no alto de um carro alegórico.

Uma ala com fantasias de ‘manifestantes fantoches’, ironizando os que foram as ruas para pedir o impeachment da presidente Dilma e mãos gigantes representando a mídia, , também fizeram parte do desfile da agremiação.

Em recente entrevista, um dirigente da empresa que dirige o certame, afirmou que a sátira ao então presidente custou o patrocínio da Caixa Econômica ao desfile das escolas de samba.

“A Liesa recomenda que as escolas não sejam tão agressivas porque o intuito do carnaval não é crítica e nem ato político. A Liga não tem bandeira e nem ideologia, não é nosso intuito fazer críticas a quem quer que seja, direita, esquerda, nada”, afirmou o presidente da entidade.

Uma manifestação artística para se manter viva tem que gerar incomodo, polêmica, tem que ter coragem de ousar, conversar com o seu tempo, fazer pensar, refletir.

Não existe escola sem partido, nem de samba!

Julie London, uma musa “ bossa nova” no carnaval de 1960

O carnaval de 1960 foi muito prestigiado por atrizes da maior indústria cinematográfica do mundo. Dentre as divas, Julie London,, considerada a melhor cantora americana durante três anos seguidos pela revista BillBoard.

Convidada por Jorginho Guinle para participar do carnaval do Rio de Janeiro, Julie London, além de atriz, era a cantora mais prestigiada do Estados Unidos , em 1960.
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O disco que revelou a intérprete era cheio de harmonias modernas , e exerceu forte influencia nos jovens que participaram do movimento da Bossa Nova.

No mesmo ano, outras três estrelas, hollywoodianas, de primeira grandeza disputaram os holofotes do carnaval carioca: Kim Novak, Linda Darnell, e Zsa Zsa Gabor. Uma verdadeira plêiade de beldades.

Infelizmente, das quatro estrelas, Julie foi a que menos brilhou. A cantora de olhos verdes ,tristes e com um sorriso enigmático era muito tímida. A mesma timidez que acentuava sua beleza, talvez explique por que quase não foi notada na sua passagem pelo carnaval mais animado do mundo.

Os foliões elegantes davam início a peregrinação carnavalesca no baile do Copa, no sábado. Domingo a opção era o baile do Hotel Quitandinha, segunda o Municipal e fechavam na terça com o clube do Clube Monte Líbano, na Lagoa.

O primeiro dos grandes baile, o do Copacabana Palace, no sábado, contou com a presença de Julie e Linda. Com um decote super ousado, London demonstrou interesse nas explicações sobre o significado do carnaval carioca proferidas pelo cronista social João Resende, que a acompanhou no baile.

Registro inusitado, foi o momento em que usou lança-perfume. Um folião chegou junto a mesa e ofereceu uma “prise”(uma cheirada) O lança-perfume era um composto de anestésicos que provoca uma superexcitação discreta, seguida de um estado de euforia. Dito e feito, a americana aspirou e gargalhou muito. Julie , mesmo que artificialmente, aparentava felicidade.

Todas as quatro representantes de hollywood marcaram presença no baile seguinte, o do Teatro Municipal. Zsa Zsa Gabor, de vestido claro, bordado de paetês prateados da casa Dior, estava coberta de joias, foi o centro das atenções até a chegada da estrela de “Vertigo”, Kim Novak. De branco e vermelho, desviou muito das atenções da atriz húngara. Linda Darnell, , de baiana amarela, revelou bastante animação. Segundo nota do jornal Correio da Manhã: “Julie London, apesar de simpática, apagadíssima”. Passou invisível.

Incrível uma mulher tão bonita e talentosa ficar invisivel. Sim. Ok, temos que admitir que era pouco conhecida por aqui, mas, London era um escândalo de beleza até para os padrões da época. Tecnicamente, bem mais bonita que as outras três estrelas.

A sensualidade cool, elegante, de Julie London ficou eclipsada diante da explosão blondie das atrizes americanas. Kim Novak , para citar a mais animada, fugiu do baile. De calça comprida, camisa folgada e uma grande máscara preta, incógnita, misturou-se ao grupo do sereno para assistir à saída do Municipal.

A morena Linda Darnell , também não negava fogo. Acompanhada de Julie, Darnell, se esbaldou no baile do Quitandinha. London novamente parecia fora do lugar. A cantora estava praticamente a rigor, vestida para uma festa de gala, nada de fantasia. Linda, por outro lado, sempre atenta ao dress code, estava de chinesa estilizada.

Será que o carnaval não fazia parte do seu jeito bossa nova de ser? Da cidade, parece ter gostado. A cantora voltou ao Rio em 1962 para se apresentar no golden room do Copacabana Palace e fez um extraordinário sucesso.

A saber: Cinco anos depois de sua vinda ao Rio, Linda Darnel morreu queimada num incêndio,Zsa Zsa Gabor morreu de velhice aos 99 anos. Kim Novak ainda vive e a nossa Julie London, sempre muito discreta, foi surpreendida por um ataque cardíaco, no ano 2000.

Independência e vida!

“…O baile do clube Tamoio, de São Gonçalo, surpreendeu este ano com a presença de um machão na passarela do concurso de fantasias. Vestido de D.Pedro I, Danton Jardim, estranho à competição, chegou e quase desbanca Evandro de Castro Lima, conseguindo bater outro campeão, Augusto Silva.

A novidade rapidamente se espalhou no Tamoio e as pessoas, principalmente as menininhas, procuravam conferir, buscando nos gestos de Danton Jardim o menor deslize: a posição do pé quando parado, a maneira de segurar o cetro e a espada de D. Pedro, o andar diante do juri e, posteriormente, na passarela, durante o desfile para os foliões, no ginásio. Ao final, parece que todos se convenceram: “ Ele é realmente diferente”.

– Estou na minha – afirmou Danton -, pois esta é uma curtição com outra qualquer. Não tenho problemas de afirmação. No carnaval, as pessoas se vestem de todas as formas. Os homens saem de mulher, num vale-tudo extraordinário. Eu resolvi vestir fantasia de luxo e concorrer, sem grilo e sem me preocupar com o que os outros vão pensar. Acho que por isso , não preciso justificar nada. ”

O texto de autoria do jornalista Jorge Segundo, transcrito da revista O Cruzeiro, de 23 de fevereiro de 1972, revela preconceitos e avanços de um Brasil de 50 anos atrás.

Em 72 nosso país completava cento e cinquenta anos da sua Independência. Muito oportuna a homenagem ao imperador que rompeu os ultimos laços com Portugal. Vivíamos o auge da ditadura militar que nos governou por 21 anos.

Interessante notar a preocupação com a sexualidade do desfilante. Mais interessante ainda é registrar a tranquilidade de Danton, que pouco estava se importando com os danos que lhe seriam impostos por ousar ocupar uma função tradicionamnete restrita a homossexuais.

Passados quarenta e nove anos os militares estão no poder e não estão sozinhos, religiosos fundamentalistas ocupam ministérios e fazem questão que lembrar que meninas vestem rosa e meninos azul. O próprio chefe do executivo tem uma necessidade constante de afirmar sua virilidade. Ja se declarou imbrochável.

Para coroar esse festival de retrocessos; O sete de setembro, neste 2021, esta reservado para uma série de manifestações contra a democracia! Talvez até ensaiar um golpe impondo um governo autoritário.

O país caminhou para trás. O futuro não aconteceu. Está na hora de tirar a fantasia do baú, dar um basta nos preconceitos e gritar: Independência e vida!

Terezinha Morango: Quem foi rainha conserva a majestade

“Cerca de três mil pessoas animaram o fabuloso baile de gala do Copacabana, melhor do que nunca. Fantasias lindíssimas e de alto preço foram apresentadas no concurso., que se realizou não numa passarela especial, mas na entrada, onde estavam os juízes.” Revista Manchete , 25/02/1961

O título da postagem foi a legenda da foto, que ilustra o post, da Miss Brasil 1957 no Baile do Copa.

Não era mais rainha, pois 1961 foi o ano de Stael Abelha, a mineira que renunciou ao título. No ano anterior A eleita foi Gina Macpherson, da Guanabara, Em 1959, quem recebeu a coroa da Miss Brasil foi Vera Regina Ribeiro, do Distrito Federal. A glamorosa Adalgisa Colombo foi a Miss Brasil 1958.

Morango, assim como Martha Rocha, terminou empatada em primeiro lugar no Miss Universo. Duas referências de beleza feminina nos anos 50. Ambas com traços europeus, pouco representavam as características da maioria das moças dos seus estados. Marta era baiana e Terezinha amazonense. A atriz Elizabeth Taylor a encontrou num hall do hotel e perguntou:-Quem é aquela moça? Responderam. Ela quis conhece-la porque estava deslumbrada com a sua beleza.

Em 1959, Therezinha casou com o empresário catarinense Alberto Pittigliani.

Um ano antes de sua eleição como Miss Brasil, ela foi eleita Miss Cinelândia 1956 e fez uma pequena participação especial no filme Garotas e Samba, dirigido pelo produtor Carlos Manga, na época.

Viúva desde 2003, morreu ,em 13 de março de 2021, vítima de uma parada cardíaca.

Tristeza por favor vá embora

Em 1966, o clube Monte Líbano promoveu o seu famoso baile Uma Noite em Bagdá sob um cenário de Paris da belle époque. Grito final do carnaval daquele ano, a festa reuniu, dizia o texto da revista Manchete, algumas das mais belas mulheres do Rio e viveu seu instante de luxo com o concurso do qual participaram as melhores fantasia daquele ano.

Os foliões elegantes davam início a peregrinação carnavalesca no baile do Copa, no sábado. Domingo a opção era o baile do Hotel Quitandinha, segunda o Municipal e fechavam na terça com o clube da Lagoa.

Naquele ano, o sucesso musical era a marchinha “tristeza” de Haroldo Lobo e Miltinho. A letra dizia assim:

Tristeza por favor vai embora
A minha alma que chora
Está vendo o meu fim

Fez do meu coração
A sua moradia
Já é demais o meu penar

Quero voltar aquela
Vida de alegria
Quero de novo cantar

Queremos todos voltar aquela vida de alegria e que a tristeza vá embora.

Elza Soares no Salgueiro

No desfile de 2019, a presença feminina nos carros de som das agremiações de samba, do Rio de Janeiro, só fez aumentar.Surge uma nova geração de pastoras, como são chamadas as vozes de apoio aos intérpretes oficiais. Tecnicamente, elas contribuem com tons mais suaves o coro predominantemente masculino.

Júlia Alan, Cecília Preto, Rosilene Alegria, Larissa Cruz reafirmaram a importância do canto feminino para a hamonia do desfile.

O protagonismo masculino do canto, entretanto, foi quebrado há muito tempo pelo Salgueiro. Em 1969, com o enredo: “Bahia de todos os deuses”,de Bala e Manuel Rosa, a brava Elza Soares, foi convidada para ser a primeira puxadora de sambas de uma escola do Rio de Janeiro. Honrando seu lema “Nem melhor, nem pior, apenas uma escolar diferente” o Salqueiro inovou mais uma vez.

Pela primeira vez, a já consagrada sambista, desfilava numa escola de samba, “puxando” o samba enredo. Entrou pela porta da frente. Estreou de forma consagradora.

O carro de som era formado por Noel Rosa de Oliveira, Carlinhos Pepé e por Elza.Elza lembra: “Em 1969, não tinha horário para os desfiles. Desfilamos ao meio-dia, debaixo de sol forte(O calor excessivo fez a cantora passar mal), e eu estava sozinha. Eu não sabia que cantaria tantas vezes, mas dei conta. Hoje é mole puxar samba na avenida!”. Foi campeã na estreia. O Salgueiro conquistou seu quarto título.

Vale o registro de que antes de “puxar” o samba do Salgueiro na avenida, Elza, em 1967, já tinha gravado “O mundo encantado de Monteiro Lobato”, samba de Mangueira . No mesmo ano, gravou : “Portela querida” e “Palmas no Portão”, samba do Bafo da Onça.

O sucesso da ousadia salgueirense fez com que a Mocidade de Padre Miguel, escola da região onde a cantora passou a infância, a convidasse para defender os sambas enredos de 1973 (Rio zé Pereira), 1974 (A Festa do Divino), 1975( O mundo fantástico do Uirapuru) e 1976(Mãe Menininha do Gantois). A cantora, que por ter nascido em Padre Miguel, sempre foi Mocidade, assumiu de forma definitiva seu amor pela verde e branco.Amor ,inequivocamente, consagrado com a gravação de “Salve a Mocidade”, de Luís Reis, em 1974.

Ela ainda “puxou” quatro defiles. Em 1979, defendeu duas escolas: Acadêmicos do Cubango, com “Afoxé”; e Estácio de Sá, com “Das trevas ao sol, uma odisseia dos Karajas”. Em 1985, fez uma parceria com Quinho, na União da Ilha, com, “Um Herói, uma Canção, um Enredo”; e em 2000, de novo Acadêmicos do Cubango, por uma “Independência de fato”

Além da participação nos defiles, Elza gravou inúmeros sambas de enredo em discos.
Em 2020, Elza será enredo da escola da Vila Vintém. Ao longo de sua rica trajetória a cantora, uma sambista-jazzista, sempre se reinventado para sobreviver. brilhará mais uma vez no cortejo carnavalesco.

Provavelmente, as muitas “Elzas” estarão representadas na Sapucaí. Dentre elas, a intérprete pioneira de sambas de enredos, abrindo espaço num mundo, ainda hoje, predominantemente masculino.

Chegou general da banda , he he

Em 1983, o Brasil perdeu seu único “General da Banda”, Blecaute. Não surgiu, desde então, na nossa música, alguém que merecesse tão alta patente.

Vestido com uma farda verde engalanada,dragonas, alamares dourados e uma profusão de medalhas de latão, o cantor Blecaute abria a folia carioca, nos anos 50 e parte dos 60, ao som do samba “General da Banda”, de Tancredo Silva, Sátyro de Mello e José Alcides, seu primeiro grande sucesso, gravado em 1949.

Talvez inspirado no grande cantor, o governador do estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, resolveu instituir a função de general para a Polícia Militar e para o Corpo de Bombeiros. Uma jaboticaba carioca.

Quem sabe quis fazer média com a cúpula das citadas instituições. Não se pode ter certeza. É algo tão inútil, que causa espanto imaginar, que a maior autoriadade local, encontra tempo para esses atos de ostentação. Lembram da “faixa governamental” criada para incrementar a cerimônia de posse?

Enquanto coronéis fingem uma patente inexistente, os números da violência não param de crescer. Assaltantes, meliantes e golpistas, inspiram terror à população carioca.

E o pior, não sei se pega, se a inusitada graduação vai inspirar o respeito desejado.

Blecaute, sim, quando chegava, ninguém tinha dúvida: chegou o “General da Banda”.

Na foto publicada, o cantor Blacaute estava animando a “Noite em Beirute”, festa pré-carnavalesca realizada na boate “Fred`s”, em Copacabana, no longínquo ano de 1959.

Rainha do povo

No desfile de 2019, Viviane Araújo, rainha da bateria da Acadêmicos do Salgueiro, veio fantasiada de borboleta. Na verdade, Oyá. Diz a lenda:

“Exú fez um encantamento para Oyá. Toda vez que sentisse medo, ela se transformaria em borboleta. Que é linda colorida e inofensiva. Oyá, voltando à sua forma de Orixá, perguntou a Exú o porquê de se tornar uma borboleta, e não outro elemento da natureza.

Exú lhe respondeu: Como o vento, caso ficasse nervosa, você arrasaria o mundo em vendaval. Como raio, você acabaria com as aldeias. Como o fogo, você destruiria todo o planeta. Como borboleta, além de manter a suas cores e perfumes que simbolizam a sorte, você também será capaz de voar e afinal de contas, quem em seu juízo perfeito mataria uma bela borboleta?”

E afinal de contas, quem em seu juízo perfeito é capaz de discordar que a rainha das rainhas das escolas de samba do Rio de Janeiro é Viviane Araújo?

Começou sua trajetória em 1994, quando venceu o concurso das panteras, no Clube Monte Líbano.
No carnaval seguinte, em 1995, desfilou pela Império da Tijuca e Beija-Flor. Brilhou, posteriormente, na Mocidade. Mas desde de 2008, entregou seu coração a vermelho e branco tijucana.

Doze carnavais à frente dos ritimistas do Salgueiro é, inequivocamente, a rainha do povo.

Representa com suas curvas, o corpo da mulher brasileira. É um corpo à moda antiga, não aparenta ter interferências de dietas draconianas e jejuns intermitentes. Viviane come, ri, vive como quem a aplaude. É uma majestade exercida pela identificação, não pela alteridade.

Não é mais jovem, e ninguém se importa. Aqueles que querem substituí-la por uma passista mais nova ficam atônitos, aos quarenta e três anos, não há quem torça pela sua aposentadoria.

A coreografia dos seus passos , sempre delicados, reforçam o seu poder. Um empoderamento suave. De vez em quando, com seu tamborim, mistura-se aos ritimistas, e como nenhuma outra, integra-se à sua “furiosa” bateria. A arquirbancada delira. Puro carisma.

Vestida de borboleta, a rainha do povo, brihou no Salgueiro em 2019.

Witzel cai no samba no seu primeiro ano de mandato

Na foto dessa postagem vemos a família do governador do estado do Rio de Janeiro, na passarela do samba, em 2019. Primeiro ano do mandato de Wilson Witzel.

Adequadamente fantasiados, o mandatário carioca ostentava o adereço predileto dos poderosos, o indefectível chapéu Panamá. Irradiava felicidade Sua esposa, Helena Witzel, exibia um fascinator de plumas verdes.Talvez, uma citação a sua escola de coração:Imperatriz Leopoldinense. Já sabemos que a primeira-dama tem paixão pelo carnaval. Paixão, que com certeza, contribuiu para que o governador prestigiasse os desfiles, do grupo especial, carioca.

O casal levou os filhos, Beatriz ,Bárbara e o irmão que estava com uma fantasia bastante divertida: Wally.

Wally sempre com uma camisa listrada em vermelho e branco, e com um gorro nas mesmas cores, é personagem central de série de livros, onde o leitor é convidado a encontrar o personagem perdido em uma página repleta de ilustrações, o Wally de Witzel estava no sambódromo, e era o seu filho Vicenzo..

O único da prole que não deu as caras na passarela do samba foi Erick Witzel, primogênito, filho do primeiro casamento do governador.

O ex-juiz, criado em Vila Isabel, tem demostrando real apreço pelo certame carnavalesco. Salgueirense, durante o desfile da vermelho e branco,recebeu do presidente da escolar tijucana, André Vaz, uma réplica da faixa de governador .

A tal faixa, que Wilson Witzel mandou fazer no Rio de Janeiro (não era praxe), para incrementar sua cerimônia de posse, e que para alguns,representou um gesto de puro deslumbramento, virou um dos hits desse carnaval. Até seus filhos não abriram mão do acessório.

Ao longo da noite, Witzel não negou fogo, foi para a pista sambar com todas as escolas. Exceto a Paraíso da Tuiuti, que levou a crítica política ao Sambódromo. Quando a Mangueira passou, com um enredo também muito politizado, ele só desceu do camarote porque a diretoria pediu.

Enquanto Witzel recebia os mangueirenses na avenida, em seu camarote, estavam os deputados estadual Rodrigo Amorim, o mais votado nas últimas eleições, e o deputado federal Daniel Silveira, ambos do PSL.

Nos dois últimos anos, enredos, claremente, de esquerda pontificaram. Deve ter sido confuso para o governador que estava no palanque, quando os citados deputados quebraram a placa com o nome da vereadora Mariele , assisitir acompanhado dos mesmos as homenagens à vereadora, prestadas por mais de uma escola de samba. Mangueira e Vila passaram com faixas, comissao de frente e familiares da vereadora assassinada.

Foi decisão de Witzel reativar o camarote do estado na Passarela do Samba, utilizado pela últma vez em 2015. Aliás, naquele ano, Helena e o marido foram convidados a ver as escolas, tendo como anfitrião Pezão. Não era a primeira vez dos dois no camarote. Em 2014, na gestão de Sérgio Cabral, eles também passaram por lá.

Este ano, o concorrido camarote recebeu, também, o juiz da Lava Jato, Marcelo Bretas, e o governador de São Paulo, João Dória.

Dória e Witzel assistiram juntos ao desfile do Império Serrano, a escola que abriu a disputa.
Puxado por Witzel, os dois ensaiaram passos de samba juntos. Apesar da empolgação, Witzel não parecia muito familiarizado com o samba que era um clássico de Gonzaguinha: ele só cantava o refrão.

Nos últimos anos a maior festa carioca vem sofrendo um inequívoca hostilidade do governo municipal. O último ataque do prefeito foi impeder que a prefeitura preste serviços de limpeza e segurança do Sambódromo durante o carnaval.

Diante disso, chega ser um alento, ver o governador do estado envovido com a nossa maior festa popular. Parece pouco, mas na atual conjuntura, não é.

No seu primeiro carnaval como governador do estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel não negou fogo, mirou na cabecinha e acertou no alvo, prestigiou a maior festa da cidade. Ponto para o governador.