Cacique de Ramos

O bloco foi criado no bairro de Ramos, na Zona Norte do Rio de Janeiro.Fundado em 20 de janeiro de 1961,é ainda hoje um dos principais blocos da cidade.A foto foi publicada na revista Manchete (21/2/1970) momento áureo dos defiles dessas agremiações.Passam a constituir a face mais visível, democrática e espontânea do carnaval. Os blocos de embalo nao se submetiam a julgamentos ou a competição, brincavam o carnaval pelo gosto de brincar. Nos anos 60 e 70 o Bafo da Onça e o Cacique reuniam em torno de 4500/5000 figurantes cada um.Brilhavam também os Boêmios de Irajá, o Razão de Viver, o Fala meu louro,os Beijoqueiros da Tijuca,Vai quem quer, Filhos de Gandhi,Alegria é mato e os Seresteiros da Tijuca .

Pacheco o astronauta que foi sem nunca ter sido

Foi em 1961 que os americanos começaram a selecionar os astronautas para o programa espacial. Tinham de ser bons aviadores, ter nível universitário e boa estrutura psicológica para enfrentar situações difíceis e imprevistas. Pacheco foi reprovado no processo seletivo. Era o melhor aluno da escola de pilotos da força aérea americana. Filho de mãe Brasileira e pai americano foi vetado mais por suas qualidades que por seus defeitos. Sabia tudo sobre ciências biológicas,física e matemática. Entretanto, herdou o gênio da mãe, era excessivamente comunicativo. Simpático toda vida, interagia com todos os colegas de classe.Não era o perfil. Comentou-se na época que os três escolhidos para a viagem histórica à Lua eram os mais sérios e menos comunicativos astronautas do programa espacial.Para aliviar a depressão veio passar o carnaval de 1971 na casa da sua tia avó em Olaria,subúrbio carioca.Tia Wanda,alegria em pessoa, era presidente da ala das baianas da galo de ouro da leopoldina, a Unidos de Lucas. Para ajudar a curar o abatimento e levantar o astral do sobrinho neto, conveceu Pacheco a concorrer na categoria de originalidade no baile do Municipal do Rio de Janeiro. Sugeriu que usa-se um de seus uniformes de treinamento. Foi ovacionado ao surgir na passarela. Pacheco pode não ter ido a lua, mas desfilou no Municipal.A foto publicada na Revista Manchete documenta o glorioso desfile do astronauta que foi sem nunca ter sido.

Dois reis no Salgueiro

Angola, Congo, Benguela/Monjolo,Cabinda, Mina,Quiloa, Rebolo/Aqui onde estão os homens/Há um grande leilão/Dizem que nele há uma princesa à venda/Que veio junto com seus súditos/Acorrentados num carro de boi…Havia também dois reis.Embarcaram sem súditos, mas encantaram à todos com sua arte e o povo daqui se curvou diante do talento excepcional de Jorge Ben e Wilson Simonal.Na foto acima, publicada pela revista Manchete(6/3/1971), temos os dois dos maiores representantes do samba moderno desfilando na escola que revolucionou o carnaval carioca- O Salgueiro.O samba nunca mais foi o mesmo após as inovações ritmicas introduzidas por Jorge Ben e o carisma (ou pilantragem)de Wilson Simonal. Simonal foi um cantor de muito sucesso nas décadas de 60 e 70. Comandou programas de tv, assinou contratos milionários de publicidade e comandava milhares de pessoas em shows com seu magnetismo excepcional.Morreu,aos 62 anos, em junho do ano 2000.A obra de Jorge Ben tem uma importância singular para a música brasileira, por incorporar elementos novos na maneira de tocar violão e compor, com características do rock and roll, samba, samba rock ,bossa nova, jazz, maracatu.Além dos músicos citados, o jogador do Fluminense, Cafuringa aparece à direita(Morreu em 1991).O maestro Erlon Chaves, morto em 74, também fazia parte da ala.

Chuva, suor e cerveja em Sampa

O túmulo do samba não queira mais ser o túmulo do samba! E então, organizaram um grande baile no Teatro Municipal.A revista Manchete(2/3/1968) publicou:`mais de duas mil pessoas pularam e brincaram animadamente até as cinco da manhã.O grande salão formado pelo palco e pela plateia foi pequeno para o número de foliões, cujos movimentos eram embelezados por um original sistema de iluminação. Ao mesmo tempo, a pintura fosforecente, utilizada na decoração, e grandes bolas de plástico aumentavam ainda mais o efeito das luzes.O governador Abreu Sodré e o prefeito Faria Lima estiveram presentes, entrosando sua alegria com a animação geral`..Dentre os foliões, Caetano Veloso.Belo como nunca entoava a pleno pulmões:…A gente se embala /Se embora se embola/Só pára na porta da igreja/A gente se olha/Se beija se molha/De chuva, suor e cerveja…

Clarice Lispector entrevista Elizabeth I

Qual minha surpresa ao encontrar nas páginas da Manchete, de 8 de março de 1969,a escritora Clarice Lispector exercendo a função de jornalista! Reproduzirei aqui trechos,pequenas preciosidades, extraídas do diálogo entre a escritora e Marlene Paiva,a maior vitoriosa dos concursos de fantasia na categoria de luxo feminino. Para quem acompanhou durante o carnaval os desfiles do Municipal e do Monte Líbano, essa conversa com Marlene Paiva servira apenas de resumo. Mas existem, como eu, pessoas no mundo-da-lua e para estas haverá novidade. Envergonho-me disso, é claro: Marlene Paiva me conhecia e, eu, que tinha obrigação jornalística conhecer detalhes da sua vida, pouco sabia.Marlene Paiva é fina de corpo, um andar gracioso, maquia-se muito bem, veste-se com o esporte que atualmente esta na moda… A saber: Marlene foi o primeiro lugar no 38º Baile de Gala do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Venceu com a fantasia:O Poder e a glória, Elizabeth I, criação e confecção de Evandro de Castro Lima.

Zé Pereira e a bagunça começou !

Zé Pereira [José Nogueira Paredes],um sapateiro português, na segunda-feira de carnaval, em 1848, saiu batendo um bumbo com macetão de ensurdecer…Na verdade, um tocador de zabumba que levou atrás de si um cortejo de seguidores. Pronto…acabara de se formar o primeiro bloco/cordão de carnaval!ainda sem samba ou marchinha, a bagunça começou.O sucesso do “Zé Pereira” foi tão grande que,alguns anos mais tarde, uma companhia teatral resolveu montar uma paródia da peça “Les pompiers de Nanterre” intitulada “Zé Pereira Carnavalesco”(Teatro Fênix, do Rio de Janeiro, em 1869), na qual o comediante Francisco Correia Vasquez cantaria, com melodia francesa, a quadrinha que se tornaria famosa : `E viva o Zé Pereira/pois que a ninguém faz mal/viva a batedeira/nos dias de carnaval`(Até então, todas as músicas eram instrumentais ou em outro idioma).Por que o nome Zé Pereira se o comerciante chamava-se José Nogueira?Em certas localidades de Portugal,o bumbo é conhecido por Zé Pereira, alguns afirmam ser essa a origem do nome. Outros defendem que ,já bêbados, os seguidores do tocador de bumbo trocaram o nome Nogueira por Pereira.Todas as informações sobre esse personagem, baseiam-se no historiador Vieira Fazenda que escreveu “Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro”.

Era o futuro e ninguém avisou nada…

Julho de 1969, a Apolo 11 pousou na superfície lunar, em um local chamado Mar da Tranquilidade.Alguns meses depois no oceano de loucuras do carnaval Carioca,despontava, na passarela do principal baile da cidade, uma estranha fantasia. Teria sido inspirada numa moon girl do Courrèges? Linhas retas e um quê de vestimenta espacial.Seria um modelo de Paco Rabanne com um macacão metalizado, lembrando alumínio? geometrismo de um autentico Pierre Cardin? No auge da contracultura, nada melhor do que apresentar uma colombina desconstruída.A viagem a lua inspirava a moda.O personagem da commedia dell’arte se reinventou e levou o segundo prêmio do concurso de fantasias do teatro Municipal do Rio de Janeiro. Dina Mara de Oliveira não sabia, mas um `futuro` como aquele, com naves pousando na lua, não se repetiria nunca mais.Era o futuro e ninguém sabia.

A chorus line mestiça

Observe o estilo da Chorus Line salgueirense: calças com nesga,bustiê de lamê vermelho, um charmoso chapeuzinho assentado sobre um lenço listrado com as cores da Escola,inacreditáveis scarpins com salto e as pastoras da alvirrubra tijucana !Ah..as pastoras… que elegância! Nada que possa ser aprendido em manuais de estilo.O segredo estava no orgulho em defender uma agremiação que fez o negro cantar o negro na avenida. E inovando mais uma vez, Os Acadêmicos cantaram a história do berço do samba: a praça Onze. Abre a roda meninada, que o samba virou BATUCADA !O carnavalesco Fernando Pamplona dizia na sua sinopse: Substituindo o tradicional desfile cronológico, o Salgueiro castiga o tema para mostrar abertamente, do jeito que pode, o milagre do casamento religioso,social, racial e da cultura de todas as raças que fizeram o Brasil, país único, magistralmente sintetizado no complexo cultural que explodiu na praça Onze. Algumas informações curiosas foram ressaltadas pela revista Cruzeiro (17/02/1970):..depois de vinte minutos de desfile, já conquistara o povo das arquibancadas, que fazia o coro ritmado: `já ganhou! já ganhou! Além da bateria, ganharam muitos aplausos: Paula do Salgueiro,que sambou mais rápido do que nos anos anteriores; Jorge Ben, que passou ladeado de duas pastoras, e Isabel Valença (Chica da Silva), que o povo aplaudiu de pé.Quando a Escola deixou a passarela da Presidente Vargas, eram decorridos apenas 50 minutos desde o início do desfile.No dia 8 de fevereiro de 1970, o Salgueiro foi vice-campeão, com o enredo praça Onze,Carioca da Gema (83 pontos). Perdeu para Portela,com o enredo Lendas e Mistérios da Amazônia.(88 pontos).

Bibi é a rainha !

” …Mas o mais importante do baile foi a coroação de Bibi Ferreira, da TV Tupi, como Rainha das Atrizes. Com uma chuva de confete e serpentina, Bibi recebeu sua coroa e desceu para o salão. Seu pai e sua mãe, Procópio e Aída Ferreira…acompanharam a atriz durante sua coroação, fazendo poses para as fotografias”,dizia o texto de Nilton Caparelli, publicado na Revista O Cruzeiro, sobre o Baile das Atrizes de 1969. Na verdade, ao seu lado está Célia Biar, Rainha das atrizes, no ano anterior.

Em 1968 Bibi comandava na TV Tupi carioca o musical Bibi ao Vivo, com direção de Eduardo Sidney. Nele apresentava, cantava e dançava com a orquestra do Maestro Cipó e as coreografias de Nino Giovanetti .

Hoje, treze de fevereiro de 2019, aos 96 anos de idade, morre Bibi Ferreira. Somos uma República de muitos reis , evoé para eterna Rainha das Atrizes, Bibi Ferreira!

As gêmeas da banda

Vislumbro duas possibilidades de condução do meu processo de envelhecimento: O caminho mais óbvio é contabilizar amarguras,insucessos,ressentimentos e frustrações e ir me transformando em um clichê de velho. Na contramão desse imagem negativa da velhice,as irmãs gêmeas Laura e Délia, com mais de 80 anos, entraram para a história da Banda de Ipanema e do Carnaval carioca. Quem frenquentou os desfiles da Banda nos anos 80, testemunhou a alegria incontida de duas octagenárias que rasgavam a camisa de força que o tempo nos vai impondo e caíam na folia. Esqueciam a sensiblidade ao barulho, a perda da visao, empurrões, pisões,o temor da violência, o tumulto inevitável da festa e simplesmente brincavam. A postagem de hoje é uma homenagem às duas gêmeas que jamais perderam a alegria de viver!