Gaultier na Portela

Tarsila eternizou uma torre Eiffel, alegorizada num coreto, em 1924, no bairro da zona norte carioca.

Pronto! Madureira, torre Eiffel, França e Gaultier. Isso mesmo, em 2019, o vanguardista estilista francês, Jean Paul Gaultier, desenhou fantasias para a escola de samba de Madureira.

O jovem que impressionou Pierre Cardin com seus desenhos. Causou furor com seus figurinos para os shows da cantora Madonna, na década de 1990. Dentre eles o sutiã cônico.

A expectativa é que o figurinista francês viesse no carro alegórico, não veio. Alegando forte gripe, não fez falta. Seus convidados, modelos brasileiros que são sucesso no circuito internacional da moda o substituíram com igual glamour.

No carro alegórico que reproduzia o quadro da pintora Tarsila do Amaral, “Carnaval em Madureira”, Carol Trentini, Laís Ribeiro, Jhona Burjack e a blogueira Camila Coutinho brilharam com os modelos desenhados pelo francês.

A modelo gaúcha, vestiu um body nude com plumas e um clássico de Gaultier, o sutiã cônico.

A piauiense Laís Ribeiro, veio com um costão, em plumas, azul e branco. Angel da Victoria`s Secret é considerada uma das modelos mais sexys do mundo.

Vestido de marinheiro, Jhona Burjack, um dos modelos brasileiros de maior sucesso no exterior, completou a constelação de beldades.

A presença de Jhona confirma o milagre do carnaval. O belo modelo, até os seus 17 anos vendia peixe na periferia de Brasília.

Nascido em Gama, no Distrito Federal, Jhona teve uma infância humilde. Filho de caixa de mercado e de um pedreiro, começou a trabalhar aos 12 anos como garçom no bar de um tio, e depois em uma peixaria.

O peixeiro virou celebridade, e finalmente, marinheiro no desfile da escola de samba carioca.

A França em Madureira, Gaultier na Portela, tudo junto e misturado. Evoé Portela.

OBS. Com o enredo, “Na Madureira moderníssima, hei sempre de ouvir cantar um sabiá”, a escola homenageou a cantora Clara Nunes. A agremiação ficou em quarto lugar.

O feitiço da polarização

O pendão estava lá, mais esperançoso do que nunca. Não era verde e amarelo como de costume, mas verde rosa. Possuía um dístico inusitado: índios, negros e pobres, para não deixar dúvida de quem queria representar. A releitura da bandeira brasileira, feita pela “Estação Primeira”, foi um dos pontos altos do seu desfile.

Definido o resultado, no sábado das campeãs, a terceira colocada, Vila Isabel desfraldou o auriverde símbolo máximo da pátria. Uma clara resposta à escola vencedora.

Se o desfile da “Escola de Noel” enalteceu a princesa que dá nome a agremiação, a “Escola de Cartola” fez questão de criticar: o sangue dos escravizados manchava a imagem da redentora. Se políticos e artistas de esquerda carregavam a releitura do pavilhão pátrio realizada pela verde e rosa, o lábaro oficial, desfraldado no último dia de desfile pela azul e branco, representava um alinhamento mais conservador.

Assim temos passados os dias: ou uma coisa ou outra, sim ou não, verde-amarelo ou vermelho, esquerda ou fascismo. É o chamado pensamento binário.

Alimentamos a repulsa a quem pensa diferente. Participamos de grupos no whatsApp , onde todos pensam da mesma foram. Nos protegemos em bolhas. Você é obrigado a escolher entre duas opções.Deletamos o contraditório.

O meio do caminho se perdeu, e com ele sumiu também o bom senso, o equilíbrio, a ponderação, dentre muitas outras qualidades.

A densa fumaça do feitiço da polarização não nos permite enxergar nuances. Os adeptos, sempre fervorosos, do governo anterior, ou do governo atual, se recusam a admitir falhas dos seus “guias” políticos. Um tem a certeza que o outro é um idiota.

Mesmo que você não tenha escolhido um dos dois lados, não pense que escapará. O democrático direito de se recusar a escolher está vetado. Mesmo que você explique que não conseguiu votar útil, que repudiava as duas alternativas, você será renegado.

As eleições passaram, mas o clima de ódio continuou. O carnaval de 2019 foi prova disso.

A rainha do baile do COPA, de 2019, Deborah Seco

Na abertura do carnaval carioca de 2019, a atriz Deborah Secco brilhou. Foi ela a escolhida para ser a rainha do baile do Copacabana Palace.

O tema da festa, este ano, foi Itália. Deborah, não sei se por ter ascendência italiana, foi coroada no baile mais chique da cidade.

Para o “Dolce Carnavale”, a atriz escolheu encarnar, nada menos do que Sophia Loren. A ousadia não teve limites. A italiana, hoje com 84 anos, é um paradigma da beleza voluptuosa das habitantes da península.

Talvez, as curvas generosas da morena que encantou o mundo em meados do século passado não tenham encontrado repercussão no corpo sarado da brasileira. Mas, com relação a produção, o esforço foi visível: uma peruca cacheada feita com cabelos naturais, lentes de contato escuras e um maiô preto cavado com fio-dental e tiras de vinil. O estilista Henry Filho, buscou inspiração no filme “Marriage Italian Style” (1964).

Ao chegar usou ainda um tule plissado negro com 150 metros e combinou o look poderoso com joias de 20 quilates, com valor aproximado de R$ 1,5 milhão.

No disputado baile da Arara, na terça-feira, Deborah arrasou de novo. Usou um macacão de tule transparente, bordado de cristais. Look de Michelly X em criação do stylist Luis Fiod e com sapatos de Fernando Pires

Quando o esdrúxulo causa uma surpresa

Há bônus e ônus em ser uma figura pública. Ao se candidatar a um cargo eletivo, além dos conhecimentos necessários para o exercício da função, o candidato tem que avaliar como anda o seu estado emocional.

Deve ser difícil acordar de manhã, abrir o jornal e se ver alvo de críticas, as vezes injustas. Ossos do ofício.

Desde sempre, o carnaval foi uma das manifestações prediletas da população para extravasar suas discordâncias com relação aos governantes. Máscaras e bonecos representando autoridades desfilam em blocos de todo país. Nenhum governante perdeu o cargo em função dos deboches momescos.

Infelizmente, o nosso presidente perdeu a cabeça com as fantasias de laranjas que marcaram presença nos cordões carnavalescos.

Laranjas? Sim, laranjas. Não, propriamente, referindo-se ao seu significado frutífero. Mas “o laranja” que assume uma compra, a propriedade de um imóvel, de um bem, para esconder o enriquecimento ilícito de um político. Não sei o quê as laranjas tem a ver, mas laranja também é isso.

A fantasia vitoriosa no concurso “Serpentina de Ouro ” promovido pelo jornal O Globo foi a de “caixa eletrônico e 48 envelopes de depósitos”, em referência às movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro.

O idealizador foi o professor Faber Paganoto, a partir de um meme no Twitter que dizia “somos todos depósitos do Bolsonaro “. Faber, que saiu vestido de caixa eletrônico, juntou 48 amigos, que se fantasiaram de envelopes para depósitos de R$ 2 mil, cada um. A cor escolhida para os cheques e para o caixa eletrônico era foi ….laranja.

Gostei também do “laranjal do Bozo”, essa clicada pelo fotografo Rafael Medeiros, no bloco Galo da Madrugada, em Recife.

Quem não gostou nada das alusões às candidaturas mobilizadas pelo PSL e a Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonoro suspeito de atuar como laranja, foi o presidente.

Para incendiar mais ainda, assessores ainda relataram a ocorrência de manifestações e xingamentos contra o capitão. Esse ano, os bonecos do presidente e da primeira-dama Michelle, receberam vaias e foram alvos de latinhas de cerveja. Não suportou as vaias recebidas em várias capitais do país.

O mesmo Bolsonaro que não viu nada demais, em 2016, ao virar um dos bonecos gigantes nas ruas de Olinda. Postando, inclusive noticias sobre o fato, ficou bastante aborrecido com essa chicana toda e resolveu se vingar.

Em mais uma atitude marcada pela excentricidade, a vendeta veio na forma de postagem de um filme, com conteúdo de sexo explicito no seu Twitter, com 3,4 milhões de seguidores.

No filme os artistas, Paulx Castello e Sofia Lacre, realizaram uma performance, para muitos escatológica, num pequeno bloco paulista. Encenaram para um publico minúsculo, talvez sessenta pessoas, um manifesto pelo liberdade sexual. Um das pessoas dança, introduz os dedos no ânus e, em certo momento, abaixa a cabeça para que um outro homem urine sobre ele.

O ato tinha como objetivo “exibir algo do que se tem produzido em relação as sexualidades não normativas “.

Um manifesto publicado pelos performers, após a instauração da polêmica. Dizia: “Nossos corpos e desejos dissidentes rompem com os papéis de género machistas e misóginos que enxergam os corpos feminizados como buracos. Nós estamos do lado da imoralidade de vidas ditas como irrelevantes e matáveis. Somos corpos não docilizados da escatologia social “.

Um ato assistido por um número restrito de pessoas, no pequeno bloco, ganhou o mundo. Ao que tudo indica o objetivo era passar uma ideia que o carnaval era uma festa dissoluta, imoral. Ao concluir o tuíte, Bolsonaro sugeria uma reflexão: “Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar as suas prioridades. Isto é que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro”.

Não é verdade. De forma alguma esse é o clima dominante no carnaval de rua brasileiro.

A excêntrica postagem nada mais fez do que divulgar aquilo que dizia repudiar. O próprio Bolsonaro chama atenção para uma das práticas encenadas: o “golden shower “, prática que diz desconhecer. não conseguiu convencer a ninguém com seu esdrúxulo ato de represália.

O desnecessário tuíte foi a patética contribuição do presidente Bolsonaro ao seu primeiro carnaval. Um tiro no pé.

Mangueira uma escola com partido

A bandeira estendida ao final do desfile, com seu dístico transmutado, não deixou dúvida com relação ao posicionamento político da verde e rosa. Está do lado dos “pobres, negros e índios “.

Nos seu primeiros meses de governo, o presidente Bolsonaro criou sua própria agenda de dificuldades. Seu maior inimigo foi ele mesmo. Nem mesmo os partidos que prometiam “resistência” a manifestaram. O desfile da Mangueira foi o maior ato de repúdio ao atual governo, até agora. Pode parecer inacreditável , e é! Mas, nenhum partido de esquerda conseguiu se manifestar de forma tão contundente quanto a Estação Primeira.

Com o enredo “História para ninar gente grande”, a escola de Cartola não fez por menos, apontou seu surdo de primeira, na direção de uma das principais bandeiras do atual governo: a “escola sem partido”, e desenvolveu seu carnaval.

A crítica política que caracteriza o enredo vem ganhando espaço nas agremiações do grupo especial.

Em 2018, a reforma trabalhista foi impiedosamente criticada pela Paraíso do Tuiuti No mesmo ano, com uma estética sem filtros, empunhando a bandeira da luta contra a corrupção, violência, intolerância de gênero e racial a Beija Flor venceu a disputa.

O enredo da Mangueira tomou partido contrário ao projeto estapafúrdio que, a princípio, defende que se ensine conteúdos de forma imparcial. Ideia que na verdade esconde o objetivo de impor o “viés ideológico” do grupo dque governa.

Não existe conhecimento imune a posicionamentos A partir desse princípio, a Mangueira apresentou o embate entre a chamada história oficial e sua versão crítica. Sai: Anchieta, Caxias, princesa Isabel, Deodoro, D. Pedro I, e entram: Luisa Mahin, Dandara, Chico de Matilde.

Assumem o protagonismo personagens negligenciados da história: negros na luta pela liberdade, tamoios que lutaram contra o branco usurpador, aqueles que morreram enfrentado a ditadura militar. Os heróis dos barracões, nunca lembrados. Todos em cortejo, desfilaram na verde e rosa. Inevitavelmente, alguns nomes foram esquecidos: João Candido, o “Almirante negro” da Revolta da Chibata”, por exemplo.Um inequívoco “herói”negro.Nada que tirasse o brilho do desfile.

Ao remexer os baús da dita história oficial, as flechas da verde e rosa melindraram posicionamentos. Alguns historiadores, militares saíram em defesa dos ditos heróis constituídos. Caxias não foi bem aquilo que o texto publicado em um dos carros alegóricos da escola. Muito menos a princesa Isabel merecia a irrelevância total no processo da Abolição. Entretanto, o contraditório valorizou ainda mais a proposta do carnavalesco.

É preciso ressaltar, entretanto, que o resgate de heróis esquecidos pela história, há algum tempo foi incorporado ao ensino da história. Há algumas décadas a formação do docente de historia tem essa orientação. Desde dos anos setenta, do século passado, registramos a publicação de livros didáticos com essa orientação.

Nem como enredo de escola de samba podemos afirmar que o tema da Mangueira foi propriamente uma inovação do carnavalesco Leandro Vieira. Em 1960, o Salgueiro revolucionou o carnaval carioca contando a história Zumbi dos Palmares. Em 1963, “Xica da Silva”, 1965, “Chico Rei”. Em 1969, a vermelho e branco, “foi de aço nos anos de chumbo”, em plena ditadura militar, sob a batuta do grande carnavalesco Fernando Pamplona, “História da liberdade no Brasil” colocava o dedo na ferida.

Infelizmente, a atual conjuntura tornou necessário, mais uma vez, “tirar a poeira dos porões”. O assassinato de Marielle Franco foi o elo entre o passado e o presente. Além da presença de sua companheira no desfile, a vereadora foi citada no samba(o mais lindo do ano) e na comissão de frente. Uma heroína sob medida para o enredo da Estação Primeira.

Uma narrativa certa na hora certa. Não deu pra ninguém. Parabéns Mangueira!

Um país sem alvará

O carro “Um rio que era Doce” foi um dos grandes momentos do desfile da Portela , em 2017. Totalmente em barro, um pescador em pranto, chorava a tragédia de Mariana, ocorrida em novembro de 2015. Mal poderíamos imaginar, que quatro anos depois, a lama jorraria, outra vez, sobre outra cidade mineira Brumadinho.

Ao invés da participação de varias pessoas no carro, a “alegoria viva”, dessa vez Paulo Barros, optou em colocar somente um ator, Alexandre Maguolo. Uma homenagem aos pescadores do Rio Doce, que ficou imerso em lama depois do rompimento da barragem.

O enredo da escola falava sobre a importância dos rios na vida humana, desde a formação das civilizações, o comercio e a urbanização. A necessidade de preservação estava explicitada de forma genial através do carro citado.

Um sucessão de tragédias/crimes estão aos poucos destruindo o que chamo de Brasil.

Que o grito do pescador recriado de forma genial, para o desfile campeão da azul e branco de Madureira, acorde o nosso povo!

Odile, uma vida só não basta

Odile que nasceu Bérard, mas escolheu ser Rodine, e depois Rubirosa, marinho, talvez Moss, e no final, voltou ao começo: Bérard de novo. Cada nome um ciclo de vida. Muitas vidas em uma só Odile.

O Rodin foi devido à beleza de seu corpo, comparado por escritores franceses dos anos 1950 às esculturas do mestre francês. Virou, por curto espaço de tempo o nome artístico.

Ela teve uma carreira curta, atuou em apenas dois filmes, A Mais Linda Vedete (Futures Vedettes, 1955), com Brigitte Bardot, e Se Paris Contasse… (Si Paris nous était conté, 1956), com Danielle Darrieux.

Logo, Odile abandonou a carreira de atriz para casar-se com Porfírio Rubirosa, aos 17 anos.

O “Casanova” da República Dominicana, não resisitiu a beleza da jovem francesa. Porfírio namorou nada menos que Marilyn Monroe, Ava Gardner, Rita Hayworth, Kim Novak, dentre muitas beldades do século passado.

Odile passa assinar, com o sobrenome, Rubirosa. Se torna, então, uma das maiores locomotivas do jet set internacional. Só para lebrar: Jet set (em inglês, literalmente, “conjunto de pessoas que se deslocam de avião a jato”). Milionários que cruzavam os oceanos em buscas de festas.

O Rio de Janeiro e seu glaumoroso carnaval fazia parte desse cirucuito. Em 1965, ela visita pela primeira vez a cidade, e diz em entrevista dada a revista “O Cruzeiro”, de 28 de março de 1973:

“Esta foi a segunda vez que passei o carnaval no Rio. A primeira foi com o meu marido. Há oito anos. Já havia gostado, mas agora gostei muito mais. Pude sentir melhor o carnaval brasileiro. Aliás, não se deve dizer carnaval brasileiro, porque só há mesmo um carnaval. O resto – o de Nice, Colônia e outros mais – simplesmente não existe. Onde já se viu tamanha loucura? Tenho dentro dos ouvidos os ruídos dos instrumentos de percussão…”

Porfírio, veio a falecer em julho do mesmo ano que esteve no Rio de Janeiro. Foi o primeiro carnaval de Odile e o último de Porfirio.

O segundo e definitivo contato da atriz francesa com os festejos carioca foi em 1973. É o reencontro com a cidade onde vai viver os seus próximos vinte anos.

Voltou ao Rio com tudo, desfilou pela primeira vez numa escola de samba, e afirmou: “…Desfilar na escola de samba foi uma glória. Achei os bailes formidáveis, mas nada igual à escola de samba. Desfilei na Portela porque fui convidada por ela. Não foi uma escolha minha. Aceitaria o convite de qualquer uma. Não tenho preferências. Minha preferência é pelo samba, de um modo geral. É uma loucura esse ritmo de vocês. Fala de Selva, de alguma coisa que corre no sangue. Tem a força da natividade. Dificilmente perderei, nos próximos anos, um carnaval aqui.”

A fantasia, uma ideia dela, era um pequeno biquíni azul, todo bordado de pedras e véus caindo pelos lados. Saiu na Ala dos Demolidores. Quebrou tudo! só deu ela.

No mesmo ano, a alegre viúva encontrou um novo amor nos trópicos, Paulo Marinho, corretor da bolsa, com quem veio a se casar. Paulo tinha 21 anos quando conheceu Odile, que aos 36 anos, ainda era estonteante. Odile passa assinar “Marinho”.

No final dos 80, já separada de Paulo, passou a viver num sítio em Visconde de Mauá. Casou-se, pela terceira vez, com um americano, James Moss, que conheceu no Rock in Rio em 1985.

Odile abriu uma casa de chás e passou a se dedicar a um novo hobby, a pintura. Passou a assinar seus quadroscom seu nome de solteira, Odile Bérard.

Em 1997, passou a viver reclusa, longe das badaloções, em uma cabana de madeira, em New Hampshire, nos Estados Unidos.

Em dezembro de 2018, Odile Bérard, morreu aos 81 anos, após passar três semanas internada numa clínica para tratamento de um câncer.

Júlio Machado, o Xangô do Salgueiro

Em 1969, no desfile campeão do Salgueiro, “Bahia de todos os Deuses “, pela primeira vez Xangô incorporou durante o desfile da vermelho e branco tijucana.

Para o professor Júlio Machado era isso mesmo, o cortejo de uma escola de samba nada mais é, do que uma representação de um culto africano. A Escola de Samba é um culto afro-brasileiro, uma procissão. “O Mestre Sala é Ogum protegendo e cortejando a Porta Bandeira. A Ala das Crianças os Erês soltos na avenida. As Pretas Velhas a ala das baianas, que na maioria são rezadeiras, benzedeiras, catimbozeiras. Na bateria estão os ogãs rufando os atabaques. As mulheres e os homens nus, são os “compadres e comadres”, os Exus soltos na Avenida.” (texto extraído do site geocites,texto de Lygia Godoy).
Com a conquista do título pelo Salgueiro, Júlio passou a desfilar todos os anos como Xangô, até 2007, ano da sua morte.
Qualquer que fosse o enredo, Xangô estava lá, abençoando o culto salgueirense.

Este ano, 2019, o Salgueiro, levará para avenida o enredo: Xangô. Diz a sinopse: “Hoje os meus olhos estão brilhando, minha querida Bahia, terra abençoada pelos deuses. Felicidade também mora no Salgueiro. Naquela manhã de 1969, o saudoso professor, na escola tijucana, se incorporou pela primeira vez, ao se trajar como o orixá. E daí à eternidade, consagrado como o Xangô do Salgueiro”.

Dividido em cinco momentos diferentes, um dos setores da escola homenageará o Xangô do professor Júlio Machado.

Na foto reproduzida neste blog, Júlio Machado, em 1999, brilhou com “Xangô de ouro sol do carnaval”

Júlio morreu, aos 67 anos, em 2007.
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A Vizinha do Presidente

Dona Adélia, moradora da casa 5, na vila onde passei minha infância, era uma senhora disruptiva. A saber, disruptivo é aquele que interrompe, de forma súbita, o segmento normal de um processo.

Ao longo do ano, vetusta, fechada, nos dias de carnaval se transformava brutalmente. Escolhia as fantasias mais improváveis para cair na folia. Teve um ano, que saiu de bebê! E daí? Nos anos sessenta, não era nada comum que uma senhora , nos seus cinquentas anos, lançasse mão de tamanho empoderamento. Alvo da língua ferina dos vizinhos da vila, ela não estava nem aí.

Alguns condomínios de casa, da emergente Barra da Tijuca, se assemelham, de certa forma, às antigas vilas. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, mora num condomínio da Barra, o “Vivendas”.

Espécie de vila moderna, reúne 150 casas de veraneio da década de 60. Provavelmente, repleto de moradores egressos de bairros da zona norte. Muitos tijucanos, quando melhoram de vida, logo compram um apartamento, ou casa, perto do mar, na Barra da Tijuca.

Segundo a revista Veja, “Bolsonaro desembolsa 1100 reais por mês de condomínio. Convive com milionários? A única vizinha conhecida(famosos são praticamente um fator de valorização dos imóveis da Barra) é a veterana cantora Rosemary. Nome que só diz mais aos idosos”, afirma a reportagem de onde extraí essas informações.

Na plenitude dos meus 58 anos, me incluo no grupo, identificado pela revista, capaz de reconhecer a vizinha do presidente.

Não acompanhei a carreira de Rosemary como cantora da jovem guarda. Entretanto, sempre achei incrível a desenvoltura com que a “Fada Loura da Juventude”, desfila (sim, ela ainda desfila) como passista defendendo as cores de sua querida Mangueira.

Há quem considere a cantora como a “primeira estrela a desfilar como destaque no chão de uma escola no carnaval carioca”.

Pois é, a animadíssima Rosemary é vizinha do “mito”.

No condomínio, o capitão sempre se comportou de maneira discreta, a única exceção foi quando resolveu lançar rojões na direção do gerador de um hotel, ao lado do seu condomínio, cujo barulho o incomodava, afirmam na mesma matéria, as jornalistas Fernanda Thedim e Luisa Bustamente.

O hotel instalou um gerador de energia. Faltava luz toda hora. Bolsonaro reclamou do barulho. Disse que ninguém conseguia dormir na casa dele. O capitão acendeu morteiros que disparam fogos de artifícios e mirou em direção ao hotel. A gerencia desligou o gerador na mesma hora.

Mas há outros momentos surpreendentes do futuro morador do planalto, e isso todo o Brasil teve a oportunidade de presenciar, Bolsonaro já foi flagrado dando uma coletiva com microfones colocados sobre uma prancha de bodyboard, comendo pão com leite condensado, fazendo discurso com um varal de roupas ao fundo, ou com uma bandeira do Brasil colada com fita crepe na parede, nem um pouco apegado ao protocolo, me pergunto: será que o disruptivo Bolsonaro tem uma convivência pacífica com a passista vizinha ? Será que ele gosta de samba? Será que acompanha as peripécias da já setentona cabrocha?

Não importa. A única certeza que temos é que dona Adélia vive, e dona Adélia é quem sabia viver – era livre.

Obs1. Na foto de 1971, Rosemary desfilava o enredo: “Modernos Bandeirantes”, uma homenagem, da Mangueira, a Santos Dumont e aos pioneiros da aviação brasileira. Em 2018, o enredo foi “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco”.

Obs2. Recentemente, um outro vizinho do presidente ganhou projeção na mídia. Ronnie Lessa, acusado de assinar a vereadora Marielle Franco e seu motorista.

Quem queima seu filme?

Em 2018, os políticos não foram bem vistos nas passarelas do samba. Sobrou para o então prefeito de São Paulo, João Doria. Ao tentar tirar uma foto com Zeca Pagodinho, no sambódromo do Anhembi encontrou resistência por parte do sambista carioca.

Zeca, um dos principais convidados do Bar Brahma, teria tentado ao máximo não tirar fotos ao lado do alcaide. A assessoria do sambista informou que ele não tem por hábito associar sua imagem à de políticos. Na verdade, parece que a história não foi bem essa: na verdade a resistência foi dos assessores, não do cantor.

Independente da sua equipe, Zeca declarou para a coluna da Monica Bergamo: “Eu tiro foto com um monte de gente que não conheço. Eu não peço documento pra ninguém”. Eu nem conheço ele (Doria). Foto é foto. Apoio é outra coisa. Eu não voto em ninguém. Fazer o quê? Eu não confio em ninguém!”

A resistência gerou um desconforto, mas a foto foi tirada. Doria só não conseguiu ficar ao lado do artista: amigos empurraram o ex-jogador Amaral para ficar entre o tucano e o cantor.

Aos jornalistas, Doria disse que não percebeu nenhuma saia-justa e elogiou o carnaval paulistano.

Quem quase teve sua imagem “torrada” durante a campanha foi o ex-prefeito, não o cantor.

Bombou nas redes um vídeo onde Doria supostamente participava de uma suruba. Tudo comprovadamente “fake”, pura maldade…

O episódio da passarela do samba paulista talvez tenha sido um sinal do desgosto da população para com seus representantes, prenúncio da grande depuração ocorrida nas eleições desse ano – metade do Congresso foi demitido pelo povo. O povo quis a mudança.

Nada disso, contudo, foi determinante na cabeça do eleitor da terra dos bandeirantes, o prefeito “quase” rejeitado, ganhou as eleições para governador do maior estado da federação.

A foto não deve ter contribuído em nada para o bom resultado do tucano nas urnas. Parece mesmo que a influência não é mais tão decisiva assim.

Grandes nomes da nossa música, atores e atrizes de sucesso, celebridades e subcelebridades participaram de comícios e gravaram declarações de apoio ao candidato de esquerda, que não foi bem sucedido. Com dez milhões de votos a mais, e com poucas adesões no meio artístico, o postulante de direita, foi eleito presidente da república.

Cada um no seu quadrado – e nenhum cidadão abrindo mão de ser o dono do seu voto – essa foi uma das mensagens das urnas. Pouco importa se o ídolo apoiou beltrano ou sicrano, se tirou ou não uma self com algum candidato, ninguém abriu mão de fazer a sua escolha.

Pelo visto, não só os políticos estão em baixa.