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O Carnaval – Página: 6 – Sonhos de Carnavais

Nossos ídolos continuam os mesmos

“Me diz que eu sou seu tipo/Me diz, neném, que eu acredito/Murmura baixinho que eu sou seu ideal/Coloca aquele vestido, tipo cupido/Vê se não brinca com a minha libido/Meu beija no ouvido/Nada faz sentido/Tudo arde/Me diz que eu sou seu tipo”…este é um trecho da canção, Seu Tipo, que dá nome ao álbum e ao show produzido por Ney Matogrosso, em 1979.

Não brinquem com a poderosa libido de Ney! Nos anos 70 quando os Secos e Molhados surgiram, Ney a utilizava como como instrumento de luta contra o preconceito e a ditadura. Em 1979, depois de anos de maquiagem pesada, roupas provocantes, pulseiras e adereços, Ney Matogrosso queria provocar os caretas de cara limpa e provar que conseguiria fazer sucesso. Fez.

Enquanto, o cantor tirou a fantasia para se apresentar, Gal Costa, ao seu lado na foto, se exibia sofisticadíssima no show Gal Tropical.

A baiana brilhava, Aos trinta e quatro anos, num dos shows mais importantes da história da MPB. Um divisor de águas, pois Gal abandonava o visual hippie e assumia uma postura de diva. O repertório do espetáculo era constituído de um resgate de pérolas esquecidas do nosso cancioneiro. Gal revirou o baú de Emilinha Borba, Carmem Miranda, Dolores Duram e apresentou um grande painel da nossa cultura musical.

Guilherme Araújo que idealizou e dirigiu o espetáculo da cantora era o produtor do baile de carnaval do morro da Urca, Sugar Loaf Carnival, onde os dois ícones da MPB foram fotografados, no exato momento em que a orquestra do maestro Zezinho executava a marchinha “Balancê”, sucesso do citado LP de Gal:… Eu levo a vida pensando/Pensando só em você/E o tempo passa e eu vou me acabando/No balancê, balancê…Entretanto, as músicas mais tocadas foram os sambas-enredos das escolas para o carnaval daquele ano, e “Vou Festejar”, sucesso na voz de Beth Carvalho.

O baile do Pão de Açúcar criado por Guilherme Araújo abriu o carnaval, durante quinze anos, na sexta feira que antecedia a folia. Debruçados sobre a baía de Guanabara, gays, socialites, celebridades do mundo artístico nacional e internacional usufruíam de um dos eventos mais bonitos da história dos bailes da cidade do Rio de Janeiro.

Na foto do post, Ney Matogrosso aparece trajando um exuberante índio estilizado, fantasia que se integrava perfeitamente ao tema da decoração. O cenógrafo e carnavalesco Fernando Pinto procurou reproduzir uma taba. Havia muito bicho de papel de estanho, madeira e palha.

Quatro décadas se passaram, Gal Costa e Ney Matogrosso, na casa dos 70 anos de idade, continuam produzindo shows e CDs transgressores.

Se na política o rei esta nú, e duvidamos de tudo e de todos, na música popular podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que nossos ídolos continuam os mesmos!

Almir Guineto na Furiosa

Convocados para homenagear o mestre de bateria Almir Guineto os 240 ritmistas do Acadêmicos do Salgueiro, imediatamente, atenderam ao chamado.

Mesmo os que não estão mais aqui atenderam ao convite. Envergando a fantasia que homenageava “Dona Beija, a feiticeira de Araxá”, a Furiosa rufou os seus tambores, em homenagem a mais um grande valor, nascido no morro do Salgueiro.

Guineto dirigiu a bateria da vermelho e branco em 1968,1969,1970,1972 e 1973. Era irmão de Lourival Serra (Mestre Louro), que foi o maior diretor de bateria da escola tijucana. Filho do Iraci Serra, violonista e integrante da ala dos compositores do Salgueiro e sobrinho do seu Geraldo do Caxambu. Sua mãe, a célebre “Dona Fia”, era compositora, costureira e uma das personagens principais da Acadêmicos, uma dinastia de sambistas.

O Salgueiro abrigava uma pluralidade de manifestações culturais que se fixaram na região no final do século XIX. Como o Jongo, o Calango e a Macumba. Os negros bantos trouxeram para o Salgueiro uma gama de danças e ritmos que influenciaram decisivamente o estilo de compor de Almir Guineto.
Em 1978, fundou com Jorge Aragão, Bira, Noeci, Sereno, Sombrinha e Ubirany o grupo Fundo de Quintal, que o levaria à fama. Sua composição mais conhecida é Coisinha do Pai, feita com Jorge Aragão e Luiz Carlos.

Após a revolução do Estácio nos anos 30, Guineto e seus comparsas do Cacique de Ramos constituíram-se no final dos anos 70 como os grandes arquitetos, renovadores e experimentadores do samba. “(Jornal FSP)

Introdutor do banjo (afinado como se fosse cavaquinho) , inspirado melodista e grande versador nas rodas de partido-alto, tornou-se, na década de 80, um dos formatadores do samba moderno.

Celeiro de bambas, o morro do Salgueiro, e sua furiosa bateria, desceu para homenagear o filho ilustre, que sai da vida para entrar na história.

Volta Belchior!

Boa parte do que aprendi, em minha adolescência, foi através das músicas que ouvi em uma pequena vitrola. Caetano, Chico, Gonzaguinha, Ivan Lins, Milton, Elis, Bethânia, foram fundamentais na minha formação. Cresci acreditando “que uma nova mudança em breve irá acontecer…E o que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo e que precisamos todos rejuvenescer…

Um dos responsáveis por parte do que penso e sou, Belchior, de 70 anos, morreu na madrugada deste domingo (30/4) em Santa Cruz do Sul (RS).
Belchior apareceu no Festival Universitário da TV Tupi, em 1971, com a música “Hora do Almoço” que acabou ganhando o primeiro lugar do concurso.

O cantor e compositor consolidou sua carreira com três discos geniais, lançados de 1974 a 1977.

Há dez anos sumido da vida pública, foi um artista, que para alguns, optou em viver a liberdade que cantava. Músico de sucesso na década de 70, ficou recluso, se ausentando dos palcos. Abandonou tudo.

Há outros intelectuais, não muitos, que optaram pela misantropia: J.D. Salinger de “O apanhador no campo de centeio”, rompeu com o mundo e foi se esconder no interior dos Estados Unidos. O Poeta francês Rimbaud parou de escrever e passou o restante da vida viajando.

Na onda dos blocos temáticos, no carnaval deste ano, 2017,os fãs do cantor cearense criaram em Belo Horizonte o “Volta Belchior.”

De acordo com o idealizador do bloco, Kerison Lopes, o cordão tem por objetivo homenagear o “filósofo da música popular brasileira”. “Ele é um dos principais compositores que trata de questões sociais em suas letras. Não tem uma letra que não ensina algo, cada verso dele é carregado de poesia e de significado“, afirma.

Ao ser perguntado o que achava do sumiço do cantor, Pedro Martins, outro fundador da agremiação, respondeu: “Achamos espetacular. Numa época que todos estão super expostos, com redes sociais e selfies banais, um artista respeitado, como o Belchior, decide se isolar, fugir do mainstream e viver a vida dele é um exemplo. A vontade sincera nossa era ir junto com ele. Alguns até brincam que o bloco deveria chamar “me leva, Belchior”.

Entretanto, uma outra versão sobre o desaparecimento do bardo de Sobral circula: saídas disfarçadas em hotéis sem pagamentos de diárias, malas retidas, inadimplência no pagamento de pensões aos filhos, mais fugas, dívidas milionárias, roupas e materiais de trabalho abandonados às pressas passaram a ser a rotina do cantor e sua nova companheira no sul do Brasil.

Misantropia? Um pensador que quis romper com seu passado ou a louca escapada de um mau pagador? Em dias onde uma narrativa criada vale mais que a verdade propriamente dita, prefiro ficar com a memória do ídolo dos tempos da adolescência que se apresentava como um rapaz latino americano, sem dinheiro no bolso sem parentes importantes…e que se recusava a envelhecer, guardado por Deus, contando o vil metal..

Obrigado pelas belas canções. Valeu Belchior!

Os atabaques da Ilha

Um dos momentos mais sensacionais do desfile de 2017 foi o toque dos atabaques da União da Ilha. A bateria de mestre Ciça (Estandarte de Ouro) enlouqueceu as arquibancadas com uma paradinha em que os ritmistas se abaixavam e o samba era sustentado por um grupo de atabaques.

Com o enredo “Nzara Ndembu -Glória ao Senhor do Tempo”, do carnavalesco Severo Luzardo, a escola insulana trouxe uma mensagem poética sobre o passado, o presente e o futuro da humanidade. A cosmogonia Banto/Angola pela primeira vez desfilou na Sapucaí.

Os trabalhos foram abertos por uma sensacional comissão de frente, comandada por Carlinhos de Jesus, que ganhou o estandarte de Ouro, encenando o ritual Macurá Dilê. Em sequência, uma impactante ala, “Os povos Bantos”, apresentava a nação de Angola.

Um dos melhores sambas do ano deu chance ao puxador, Ito Melodia, a dar um show de carisma e competência, mais um Estandarte de Ouro .

Infelizmente, num desfile marcado por graves acidentes com carros alegóricos , a Ilha teve dificuldade para colocar um dos seus na avenida: “O Fogo de Uiangongo”. Um buraco se formou entre a ala anterior e a alegoria. Erro que prejudicou, sem dúvida, a agremiação, que terminou em oitavo lugar.

Mas a imagem que vai ficar na memória de todos, são os Ogãs, “Tocadores de Atabaque”, incendiando as arquibancadas com toque do reino de Samba Kalunga.

Sagrado nas religiões africanas, o atabaque é utilizado para enviar e receber mensagens espirituais. Aquele que toca o tambor é um orador e um comunicador de mensagens sagradas. E os deuses da África ecoaram : Êh êh no girê, êh no gire/ Macurá dilê no girá/ É o tempo de fé, união/ O tambor da ilha a ecoar

Parabéns Ilha pelo grandioso desfile de 2017.

Jerry Adriani no colorama alucinante -1971

Colorama Alucinante é um nome que não quer dizer nada, mas foi assim batizada a decoração do Baile do Copacabana Palace no ano de 1971. Quatro mil foliões , em seis salões, animados por seis orquestras sambaram durante seis horas.

Muitos artistas compareceram ao baile, dentre eles Jerry Adriani, que faleceu, ontem, dia 23 de abril, em decorrência de um câncer, aos 70 anos de idade.

O Cantor paulista foi um dos ídolos da jovem guarda. Seu verdadeiro nome era Jair Alves de Souza; o pseudônimo foi adotado para o lançamento do LP italianíssimo, em 1964.A inspiração veio do comediante americano Jerry Lewis e do cantor italiano Adriano Celantano.

O sucesso, porém, só chegaria em 1965, quando passou a interpretar canções em português, no disco Um grande Amor. Com ar de bom moço, Jerry transformou em hits baladas românticas como Querida. Além de cantor, ele foi apresentador de TV e ator de cinema.

O sucesso estrondoso da Jovem Guarda durou três anos, os três últimos anos da década de 60 do século passado. Coincidiu com o auge da ditadura militar. Quem fazia oposição era a MPB.A Jovem Guarda era alienada. Jerry já era cantor antes da Jovem Guarda e trilhou um caminho próprio depois do movimento.

Publico uma imagem feliz, de um dos muitos carnavais do ídolo pop dos anos 60.

Em 2016, a Igreja aprovou o São Jorge da Estácio

Em 2016, pela primeira vez, uma escola de samba se apresentou com tema religioso aprovado pela Arquidiocese do Rio. A Estácio de Sá apostou em São Jorge, tratado como mártir cristão.

Em reunião com o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, uma sinopse do enredo, Salve Jorge! O guerreiro na fé, foi mostrada. A Estácio de Sá pediu a autorização alegando que não haveria confronto com a Igreja, nada depreciativo. A ideia seria homenagear o santo católico, sem sincretismo com a Umbanda, onde o santo guerreiro tem como espelho Ogun.

São Jorge suportou as maiores torturas e até um dragão venceu. Derrotou inclusive o poder da Igreja onde foi rebaixado, por Paulo VI, em 1969, a uma terceira categoria de santos, tornando opcional a festividade em homenagem a seu dia. Um equívoco sem tamanho! Como desprezar a devoção a um santo tão popular? A Santa Sé recuou e a divindade da Capadócia foi reconduzida, por Joao Paulo II ,em 2000, ao seu status anterior.

Será que em algum momento as autoridades religiosas perceberão, também, que uma procissão pagã em louvor aos seus santos e tradições pode ser entendida como uma forma de evangelização? Que a apresentação respeitosa de símbolos sagrados, nos cortejos carnavalescos, pode aproximar mais do que afastar os fiéis? Seria um avanço.

O dragão vencido por São Jorge, fazia parte das lendas das culturas celta e saxônica, e foi incorporado à narrativa católica. Os cruzados ingleses reescreveram o mito de acordo com a sua cultura. Por que não incorporar a São Jorge elementos dos cultos afro-brasileiros?

Lamentavelmente, uma política confusa, ora contra a exibição de qualquer referência, ora repudiando o sincretismo, vem marcando as atitudes da maior instituição cristã do Brasil.

O caso mais emblemático foi em 1989, quando a Beija-Flor desfilou com seu Cristo mendigo coberto por plástico preto após mandado judicial expedido em deferimento à uma solicitação do Cardeal. Este ano, mais uma vítima, a Mangueira , que pressionada, aceitou o pedido para que o tripé Cristo/Oxalá não fizesse parte do desfile das campeãs .

Em 2016, infelizmente, a abordagem católica do santo guerreiro perdeu feio para entidades africanas. É importante ressaltar que referências à manifestação umbandista do santo guerreiro não foram completamente descartadas no desfile da Estácio, há citações ao culto do senhor do ferro e da guerra, na letra do samba, por exemplo.

Entretanto, a vitoriosa, Iansã, da Mangueira e o Exu, do vice-campeão, Salgueiro, dominaram o terreiro do samba.

Nem a bênção do bispo livrou a pioneira, do morro de São Carlos, de ser a grande injustiçada, do desfile da série especial, ficou em 12º lugar, caindo para série A.

Será que Ogum não gostou de ter ficado de fora?

O ocaso de Eduardo Paes

Fã de carnaval, torcedor da Portela, o ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (PMDB), que governou a capital fluminense de 2009 a 2016, está morando nos Estados Unidos com a família, veio ao sambódromo para acompanhar o desfile das campeãs, que reúne as seis escolas de samba mais bem colocadas no concurso.

Sobre a fama de pé-frio, já que a escola ganhou justamente no primeiro ano em que Paes não estava, após oito anos de mandato sempre marcando presença no desfile, o ex-prefeito levou com bom humor: “É bom que tenha sido assim, porque se tivesse sido durante meu governo iriam dizer que eu armei o resultado”. Faltou ao desfile oficial, mas estava presente no consagrador desfile da campeã de 2017!

Em clara campanha para o governo do Estado, sua visita à passarela do samba, no ano em que o atual alcaide se recusou a abrir os festejos de momo, pouco repercutiu.

De barba e mais gordo, antes de desfilar pela Portela, Paes acompanhou os desfiles das escolas que se apresentaram antes da azul e branco de Madureira, acompanhado por Pedro Paulo, seu candidato (derrotado) na última eleição para prefeito, em outubro passado.

Pleito precedido por “infortúnios” (desabamento da ciclovia),revelações surpreendentes (grampo telefônico divulgado pela Operação Lava-Jato) e atitudes arrogantes (humilhou uma médica que atendeu seu filho),que deram a Eduardo Paes a chance de contribuir para o insucesso de seu preferido.

Duas semanas após a divulgação do resultado oficial, a Liga das Escolas de Samba optou em dividir o primeiro lugar no pódio, até então, exclusivo da Portela, com mais uma agremiação, a Mocidade. Teria sido a malfadada presença do ex-prefeito?

Crendices à parte, o que realmente vem ocupando espaço na mídia é a citação do nome de Paes na lista de investigados pela Lava-Jato. Um obstáculo aos planos do nosso portelense em Nova Iorque.

O inquérito aberto para apurar o repasse de valores pela Odebrecht ao ex-prefeito Eduardo Paes e ao deputado federal Pedro Paulo, candidato derrotado à sucessão municipal indica que a Odebrecht desembolsou R$ 16 milhões, interessada na facilitação de contratos relativos às Olimpíadas de 2016.

Os repasses teriam sido feitos em 2012, quando Paes disputou a reeleição. O pemedebista seria o “Nervosinho” que aparece em planilha de doações da empreiteira.

Como tudo que está ruim ainda pode ficar pior, o atual prefeito, Crivella, também questiona a situação financeira da prefeitura do Rio de Janeiro , e acusa o seu antecessor de ter escondido da população a situação falimentar que a mesma já se encontrava. É o ocaso de um político que chegou a ser cotado para disputar a Presidência da República.

Obs:Se você é supersticioso e portelense, bata na madeira e peça ajuda aos santos, pois Eduardo promete voltar à passarela do samba em 2018.

O Bafo da Onça não botou o bloco na rua em 2017

Quinhentos e trinta blocos pediram autorização para desfilar em 2017,curiosamente, número inferior a 2016.Entretanto, houve aumento de público. Só Bola Preta, Favorita e Sargento Pimenta levaram nada menos do que 5.982.700 foliões às ruas, entre os meses de fevereiro e março. O recorde anterior era de 5,4 milhões de pessoas.

Infelizmente, o Bafo da Onça, deixou de desfilar no centro do Rio após 60 anos.

Um dos mais bem sucedidos blocos de embalo(ou empolgação-estruturado seguindo o modelo de bloco simples, sem variações de fantasias, alegorias e enredos)do Rio de Janeiro, deixa de desfilar no momento de inequívoca retomada do carnaval de rua no Rio de Janeiro. Retomada essa que reconfigurou os cordões.

A linha evolutiva das manifestações de momo ao ar livre aponta para uma multiplicidade de propostas. Blocos de todos os tipos expressam os mais diferentes segmentos, minorias e gostos. Marcante, também, é o acesso democrático. Não há cordas ou cercadinhos, nenhum tratamento especial para os que compraram camisetas(ou abadás). Ninguém paga nada para pular, só a bebida que compra.

A latinha de cerveja embala os foliões. Cervejarias patrocinam os grandes blocos(Os ambulantes nos blocos só podem vender a marca patrocinadora), onde gigantescos carros de som animam a turba de trocistas embriagados.Pela primeira vez, Sebastiana e Zé Pereira, duas ligas de blocos cariocas, deram as mãos, . Negociaram juntas um contrato de patrocínio com uma marca de cerveja para custear as despesas.

Aos poucos, ao distanciar-se dos trios elétricos, o cortejo vai se transformando numa procissão de pinguços sem nenhuma trilha sonora ao fundo. Trilha que quase nunca é composta por sambas ou marchinhas, vale tudo, nos chamados blocos temáticos: funk, sertanejo, Beatles, música brega, axé, Sertanejo universitário, MPB, Raul Seixas, Chico Buarque, Michael Jackson, Roberto Carlos. Esse ano, inclusive, muitas das tradicionais marchinhas, foram expurgadas sob a alegação de perpetuarem graves preconceitos.

Pequenas agremiações, para evitar reunir os milhões de foliões dos mega blocos, anunciam, em cima da hora , nas redes sociais, o local e hora do seu desfile, quase sempre não autorizado pela prefeitura. Levam pequenas caixas de som, onde a música eletrônica faz delirar a tribo dos descolados .

Moderninhos organizam pequenos cortejos em torno de performances corporais, brincam com o culto ao corpo, vestidos com roupas de malhar. Outros estimulam os seus seguidores a trazerem luzes de leds em suas indumentárias. Há ainda os que capricham nos looks inspirados no Egito Antigo. Feministas, nerds cinéfilos, também têm vez na folia carioca . Entretanto, o Bafo da Onça perdeu o seu espaço.

Nos anos 60/70, o Bafo reunia em torno de 6 mil figurantes, número maior do que muitas Escolas de samba, hoje em dia. Segundo, Ricardo Cravo Albim,“O bloco sofreu um esvaziamento desde a urbanização do bairro do Catumbi, principalmente com a construção do Elevado Trinta e Um de Março e da abertura do túnel Santa Bárbara, que dividiram o bairro em dois, demolindo casarões centenários e removendo quadras inteiras de moradores de famílias tradicionais do bairro, que mantinham como referência cultural os diversos blocos de empolgação, dentre os quais o próprio Bafo da Onça.”

Fundado em dezembro de 1956 pelo folião Tião Carpinteiro, o bloco resiste graças à insistência de Serginho Maria, filho de Tião Carpinteiro, que toca o Bafo da Onça junto ao fiel escudeiro Roberto Capilé e outros poucos abnegados.

“A situação está difícil. Tivemos problemas junto à prefeitura e ficamos sem dinheiro, sem patrocínio. Tudo ficou regularizado na quinta-feira antes do Carnaval. A gente não tinha mais tempo de montar o Carnaval, ” lamentou, Serginho Maria, em depoimento publicado pelo jornal, O Dia. O custo de colocar o Bafo na rua é de pelo menos 20 mil reais. A prefeitura, espero, deve entrar com cerca de 15 mil. O restante a gente precisa arranjar com amigos e patrocinadores”, completa.

Indubitavelmente, a destruição da bairro do Catumbi, base geográfica do Bafo , representou o mais importante fator de esvaziamento da agremiação, que sem patrocínio dos grandes financiadores, não teve alternativa, enrolou bandeira em 2017.

O aporte financeiro da prefeitura será fundamental para trazer o bloco de volta. Há espaço para todos. A estética, a tradição musical e a proposta do bloco do Catumbi permanecem contemporâneas. Talvez os antenados percebam que não há nada mais hipster do que foliões envoltos em panos printados de onça. Salvem o Bafo !

A Mocidade de vice a campeã de 2017

“Nas narrativas das mil e uma noites o uso do número 1001 sugere que podem aparecer mais histórias, ligadas por um fio condutor infinito. Usar 1000 talvez desse a ideia de fechamento, inteiro, que não caracteriza a proposta da obra”…

A milésima segunda história acabou de ser acrescida ao clássico persa, aqui no carnaval, do Rio de Janeiro. Os presidentes das agremiações do Grupo Especial decidiram dividir o título de 2017 entre Portela e Mocidade, com sete votos a favor e cinco abstenções. Somente a Portela foi contra a medida.

A Mocidade, vice-campeã, virou campeã. Entenda: a agremiação ficou apenas um décimo atrás da Portela, que somou 269,9 pontos. Se o julgador Valmir Aleixo tivesse dado 10 para a Mocidade, ela empataria com a escola de Madureira. No desempate, seria a vencedora pelo quesito comissão de frente, em que a Portela perdeu um décimo, somando 29,9 pontos. Nesse item de desempate, a agremiação de Padre Miguel teve nota máxima:30 pontos.

Para a Mocidade a nota do julgador foi injusta e impediu que ela vencesse a disputa. Valmir teria feito o julgamento baseado nas informações da primeira edição do livro Abre Alas, recebido pelo corpo de jurados, no qual constava que haveria a participação de um destaque num determinado trecho da apresentação. Mas, numa segunda edição do material, a informação foi retificada, sem que nenhuma errata alertasse para a troca.

O julgador subtraiu um décimo em sua nota, sob o argumento de que a Mocidade não apresentou o destaque de chão citado na primeira versão do calhamaço, em que ficam registrados todas as fantasias e alegorias da escola.

A conjuntura que vivemos, hoje, em nosso país, nos leva a desconfiar de tudo e de todos. Entretanto, a atuação do avaliador foi irrepreensível. Agiu com extrema correção e zelo. Atento aos detalhes, cumpriu a sua função.

Um processo complexo como o julgamento da nossa ópera carnavalesca exige um detalhamento de regras igualmente sofisticado. A percepção, por parte da LIESA, de que é preciso aprimorar os protocolos foi sábia e madura. O diretor da LIGA, Jorge Castanheira, demostrou um elevado senso de justiça e equilíbrio na condução do tenso desdobramento dos fatos.

Em recente episódio, na entrega do Oscar, os envelopes que deveriam indicar o vencedor da categoria de melhor filme foram trocados: o filme vencedor era Moonlight: Sob a Luz do Luar e não La La Land como o anunciado. O funcionário responsável em passar o sobrescrito para os apresentadores estava no celular e distraiu-se! A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood renovou uma série de procedimentos para evitar uma eventual repetição do fiasco de 2017. Celulares serão proibidos nos bastidores da premiação, por exemplo.

Apesar do equívoco, o 89º Oscar de melhor filme foi concedido ao real vencedor.

A Mocidade não poderia ficar prejudicada e a decisão em dividir o pódio com a Portela, que fez um desfile espetacular, foi salomônica. O desfile da verde e branco foi repleto de momentos espetaculares.

O sobrevoo espetacular do tapete mágico, parte dos truques ilusionistas da comissão de frente, arrancou da plateia um uníssono ohhhh!!! Um dos momentos mais inesquecíveis do desfile de 2017.

O voo de Aladim abriu caminho para um abre-alas impactante repleto de camelos e beduínos, tudo em reluzente dourado.

Baianas fantasiadas de vendedoras de chá e espirrando essências de hortelã, caravanas de mercadores, Ali Babás escondendo o ouro em cavernas, vendedores de lâmpadas com uma belíssima fantasia em verde e dourado, e o samba? uma das melhores composições do ano.

No milésimo segundo conto do clássico persa, não foi necessário evocar o gênio da lâmpada, a “reconsiderada” vitória da Mocidade Independente de Padre Miguel foi conquistada pela garra dos seus componentes e beleza do seu espetáculo. Parabéns Mocidade!

A genitália desnuda que quase derrubou um presidente

Nunca se sabe como pode acabar um governo em Pindorama! Muitas vezes um presidente nem toma posse: Rodrigues Alves e Tancredo Neves foram eleitos mas morreram antes de assumir! Afonso Pena, menos ousado, morreu durante o mandato. Enquanto Deodoro foi forçado a renunciar por medir forças com fazendeiros de café, Jânio Quadros alegou que forças ocultas o fizeram desistir do cargo. Outro que também renunciou foi Getúlio. Voltou ao poder nos braços do povo, mas saiu dele de forma dramática: se suicidou! Washington Luiz e João Goulart caíram motivados por golpes que se diziam revoluções. Collor sofreu um impeachment e a presidente Dilma outro.

O substituto do Collor , Itamar Franco, por muito pouco não deu motivo para acrescentamos a essa lista uma motivação inusitada: um presidente ser derrubado por uma genitália desnuda.

Nunca se sabe como pode acabar um governo em Pindorama! Muitas vezes um presidente nem toma posse: Rodrigues Alves e Tancredo Neves foram eleitos mas morreram antes de assumir! Afonso Pena, menos ousado, morreu durante o mandato. Enquanto Deodoro foi forçado a renunciar por medir forças com fazendeiros de café, Jânio Quadros alegou que forças ocultas o fizeram desistir cargo. Outro que também renunciou foi Getúlio. Voltou ao poder nos braços do povo, mas saiu dele de forma dramática: se suicidou! Washington Luiz e João Goulart caíram motivados por golpes que se diziam revoluções. Collor sofreu um impeachment e a presidente Dilma outro.

O substituto do Collor , Itamar Franco, por muito pouco não deu motivo para acrescentamos a essa lista uma motivação inusitada: um presidente ser derrubado por uma genitália desnuda.
No carnaval de 1994, Itamar veio assistir ao desfile das escolas de samba no Sambódromo do Rio de Janeiro. “O último presidente a ir a um desfile e a ficar ao lado do povo foi Hermes da Fonseca, que esteve num entrudo em 1913”, disse o presidente aos amigos.

Desimpedido, pois era divorciado, encantou-se por uma modelo cearense, que brilhava fantasiada de Princesa da Pérsia, num carro alegórico da escola de samba Viradouro. A única infanta com os peitos (96 centímetros) à mostra! Era Lilian Ramos.

A musa foi levada pelo deputado Valdemar de Costa Neto, líder do PL na câmara, para o camarote presidencial. Vestia apenas um camisão! No mais estava como viera ao mundo. Desavisado, Itamar deixou-se fotografar debaixo para cima ao lado da acompanhante, sem saber que a perspectiva do click exibia a genitália desnuda da consorte. A imagem correu o mundo. Infelizmente para ambos, as cenas do camarote provocaram inquietações nos quartéis.

Em recente publicação do terceiro volume dos Diários da Presidência o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirma que, por causa do episódio, ele foi procurado pelo general Romildo Canhin, então ministro da secretaria de Administração Federal. O general contou que os chefes militares se reuniram e queriam saber se FHC aceitaria continuar no Ministério da Fazenda, caso houvesse substituição do presidente da república. O ministro Cardoso contava com um imenso prestígio por ser o responsável pela elaboração do Plano Real .

Pela Constituição, o presidente da República é o comandante em chefe das forças armadas. E os ministros fardados avaliavam que , depois de posar em público ao lado de uma genitália sem camuflagem, esse preceito constitucional parecia revogado. Para eles a dignidade do cargo do presidente fora, por assim dizer, carnavalizada. Os ministros discutiram a sério a possibilidade de substituição do presidente.

A revista Veja(edição 2523) publicou em sequência a citação do ex-presidente: O general Canhin faleceu em 2006. Seu filho Marcelo Canhim diz que nunca ouviu do pai comentário sobre o assunto. ” Não estou desmentindo Fernando Henrique que era muito próximo de meu pai. O que posso assegurar é que meu pai saiu com muita admiração por Itamar.”
O ex-senador Pedro Simon também reagiu: — Nunca ouvi falar nisso. Fui líder do governo o tempo todo. Em que momento aconteceu isso? — questiona Simon.

A turbulência durou algumas semanas, mas foi esquecida quando, cinco meses depois, Itamar lançou o plano econômico, o Plano Real, o mais bem-sucedido plano de controle inflacionário da Nova República. O sucesso da implantação do Plano gerou uma controvertida disputa pela sua paternidade.
Fernando Henrique também publicou no seu diário que o Itamar tinha colocado obstáculos à implantação do Plano Real.

O ex-senador Pedro Simon nega que ele tenha colocado obstáculos à implantação do Plano Real, como FH dá a entender no livro. O tucano era ministro da Fazenda, na época.

— Da onde ele tirou isso? Onde tem uma palavra do Itamar contra o Plano Real? O Fernando Henrique é um brilhante sociólogo e nunca foi economista. Teve o mérito de coordenar os economistas. Daí dizer que o Itamar não conhecia o plano, que não leu, é querer desmerecer. Foi o Itamar que determinou que as coisas acontecessem — diz o ex-senador.

O Presidente de Juiz de Fora terminou seu mandato com grande índice de popularidade. Elegeu seu sucessor, o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (1994). Morreu, aos 81 anos, vítima de um AVC, em 2011. Lilian Ramos vive há vinte anos na Itália. Hoje, diz que o traje (ou a falta dele) “foi um acidente” e reclama de ter sido “julgada sem ter tido direito a defesa”. Participa de programas de auditório e gravou um CD com baladas românticas.