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O feitiço da polarização – Sonhos de Carnavais

O feitiço da polarização

O pendão estava lá, mais esperançoso do que nunca. Não era verde e amarelo como de costume, mas verde rosa. Possuía um dístico inusitado: índios, negros e pobres, para não deixar dúvida de quem queria representar. A releitura da bandeira brasileira, feita pela “Estação Primeira”, foi um dos pontos altos do seu desfile.

Definido o resultado, no sábado das campeãs, a terceira colocada, Vila Isabel desfraldou o auriverde símbolo máximo da pátria. Uma clara resposta à escola vencedora.

Se o desfile da “Escola de Noel” enalteceu a princesa que dá nome a agremiação, a “Escola de Cartola” fez questão de criticar: o sangue dos escravizados manchava a imagem da redentora. Se políticos e artistas de esquerda carregavam a releitura do pavilhão pátrio realizada pela verde e rosa, o lábaro oficial, desfraldado no último dia de desfile pela azul e branco, representava um alinhamento mais conservador.

Assim temos passados os dias: ou uma coisa ou outra, sim ou não, verde-amarelo ou vermelho, esquerda ou fascismo. É o chamado pensamento binário.

Alimentamos a repulsa a quem pensa diferente. Participamos de grupos no whatsApp , onde todos pensam da mesma foram. Nos protegemos em bolhas. Você é obrigado a escolher entre duas opções.Deletamos o contraditório.

O meio do caminho se perdeu, e com ele sumiu também o bom senso, o equilíbrio, a ponderação, dentre muitas outras qualidades.

A densa fumaça do feitiço da polarização não nos permite enxergar nuances. Os adeptos, sempre fervorosos, do governo anterior, ou do governo atual, se recusam a admitir falhas dos seus “guias” políticos. Um tem a certeza que o outro é um idiota.

Mesmo que você não tenha escolhido um dos dois lados, não pense que escapará. O democrático direito de se recusar a escolher está vetado. Mesmo que você explique que não conseguiu votar útil, que repudiava as duas alternativas, você será renegado.

As eleições passaram, mas o clima de ódio continuou. O carnaval de 2019 foi prova disso.

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Muitos Carnavais

Sou um amante do carnaval e da nossa cultura popular. Não sei precisar minha memória mais antiga da folia carioca. Mas tenho recordações muito antigas: Unidos de São Carlos desfilando pelas ruas do Estácio e seus sambas antológicos, sua ala de nobres, das baianas da Mangueira, da comissão de frente do Império no primeiro desfile que assisti – Alô alô taí Carmem Miranda. O Salgueiro com seus necessários enredos afros. Lembro do bloco de piranhas (de verdade) que saía da zona de prostituição do mangue. Lembro das negas malucas, do bafo da onça, do chave de ouro. A transmissão dos desfiles de fantasias pela TV, Wilza Carla, Elói Machado, Evandro,Bornay... E os bailes do Diabo? America até no carnaval (sou america). As negas malucas, a baianas com chapéu cônico. Saber de ouvir falar do baile do Municipal, Horrores,Enxutos. As caminhadas na Avenida Rio Branco com seus blocos do eu sozinho. Não sei se por nostalgia ou por vício do ofício , sou professor de história, mas é tudo isso que dança na minha memória quando penso em carnaval.