Casório no Quintal e o Reino Encantado da Fantasia

Apesar da morte de um antigo concorrente do concurso de fantasias, Israel Roque, vítima de uma síncope pouco antes de ser iniciado o julgamento, o baile de gala do Teatro Municipal, foi novamente um enorme sucesso. A marcha-hino Pra Frente Brasil abriu o baile, pontualmente, às 11 horas e Cidade Maravilhosa, encerrou a animação, às 5 horas da manhã.

Poucas personalidades compareceram ao Teatro Municipal, não se registrando a presença de nenhuma celebridade internacional. Dentre às autoridades presentes estavam o governador Negrão de Lima, muito aplaudido quando se retirou, o ministro Alfredo Buzaid, o general Syzeno Sarmento e o diretor do Departamento de Trânsito, comandante Celso Franco.

Estamos no ano de 1970. Auge da ditadura militar. Vamos encontrar no Reino Encantado da Fantasia, forças para enfrentar a realidade nada colorida vivida pelo povo brasileiro naquele período.Elói Machado ganhou o primeiro prêmio com a fantasia Casório no Quintal e Wilza carla ficou com o segundo lugar com a fantasia citada.(Revista Mnachete,8/3/1971)

Tão perdida quanto Alice,tão louca quanto o chapeleiro.

No seu mergulho através do espelho, Alice foi parar no Baile do Municipal, no ano de 1970.Ao invés de crescer para cima, Alice cresceu para os lados. Bem mais gordinha, mas não menos interessante a musa do inglês Lewis Carroll ganhou o terceiro lugar no concurso de originalidade feminina na festa fechada mais importante do carnaval carioca. Na verdade, Wilza Carla incorporou o espírito aventureiro de uma das personagens mais importantes da literatura mundial.Todos os companheiros de Alice foram convocados para ajudar Wilza a vencer o certame: A lebre de março, o chapeleiro maluco, a duquesa,o gato de Cheshire…No momento da espera da divulgação do resultado,Entre uma marchinha e outra,Alice/Wilza divagava: Quanto tempo dura o eterno? rapidamente o coelho respondeu:as vezes apenas um segundo! apenas um segundo! Entretanto,eu que testemunhei e sou o responsável por esse relato, posso afimar que o eterno pode se estender por décadas ou séculos…A prova está na publicação dessa postagem.Apesar de não ter conquistado o primeiro lugar, a loucura de Wilza Carla em dedicar a sua existência para encantar os outros vivendo os outros, sobrevive aqui.Wilza morreu em junho de 2011, mas sua arte resistirá através dos tempos…

Cacique de Ramos

O bloco foi criado no bairro de Ramos, na Zona Norte do Rio de Janeiro.Fundado em 20 de janeiro de 1961,é ainda hoje um dos principais blocos da cidade.A foto foi publicada na revista Manchete (21/2/1970) momento áureo dos defiles dessas agremiações.Passam a constituir a face mais visível, democrática e espontânea do carnaval. Os blocos de embalo nao se submetiam a julgamentos ou a competição, brincavam o carnaval pelo gosto de brincar. Nos anos 60 e 70 o Bafo da Onça e o Cacique reuniam em torno de 4500/5000 figurantes cada um.Brilhavam também os Boêmios de Irajá, o Razão de Viver, o Fala meu louro,os Beijoqueiros da Tijuca,Vai quem quer, Filhos de Gandhi,Alegria é mato e os Seresteiros da Tijuca .

A chorus line mestiça

Observe o estilo da Chorus Line salgueirense: calças com nesga,bustiê de lamê vermelho, um charmoso chapeuzinho assentado sobre um lenço listrado com as cores da Escola,inacreditáveis scarpins com salto e as pastoras da alvirrubra tijucana !Ah..as pastoras… que elegância! Nada que possa ser aprendido em manuais de estilo.O segredo estava no orgulho em defender uma agremiação que fez o negro cantar o negro na avenida. E inovando mais uma vez, Os Acadêmicos cantaram a história do berço do samba: a praça Onze. Abre a roda meninada, que o samba virou BATUCADA !O carnavalesco Fernando Pamplona dizia na sua sinopse: Substituindo o tradicional desfile cronológico, o Salgueiro castiga o tema para mostrar abertamente, do jeito que pode, o milagre do casamento religioso,social, racial e da cultura de todas as raças que fizeram o Brasil, país único, magistralmente sintetizado no complexo cultural que explodiu na praça Onze. Algumas informações curiosas foram ressaltadas pela revista Cruzeiro (17/02/1970):..depois de vinte minutos de desfile, já conquistara o povo das arquibancadas, que fazia o coro ritmado: `já ganhou! já ganhou! Além da bateria, ganharam muitos aplausos: Paula do Salgueiro,que sambou mais rápido do que nos anos anteriores; Jorge Ben, que passou ladeado de duas pastoras, e Isabel Valença (Chica da Silva), que o povo aplaudiu de pé.Quando a Escola deixou a passarela da Presidente Vargas, eram decorridos apenas 50 minutos desde o início do desfile.No dia 8 de fevereiro de 1970, o Salgueiro foi vice-campeão, com o enredo praça Onze,Carioca da Gema (83 pontos). Perdeu para Portela,com o enredo Lendas e Mistérios da Amazônia.(88 pontos).