Helena Cardoso: vedete, passista, baronesa e evangélica

Muitas vidas em uma, difícil saber por onde começar. Como ponto de partida, uma foto publicada pela revista O Cruzeiro, de fevereiro de 1969.Aliás, foi a primeira negra a estampar uma capa nessa prestigiosa publicação. Vemos uma mulata deslumbrante, vestindo um maiô branco com franjas que terminavam em pompons de filó nas cores vermelho, amarelo , azul ,verde e rosa. Na cabeça um pequeno arranjo. As sandálias eram douradas. Brilhava na passarela do concurso que escolheria, pela primeira vez, a Rainha Nacional do Carnaval. O Canecão lotado consagrou a candidata da Guanabara, Helena venceu.

Representante da Banda de Ipanema, helena ganhou o direito de concorrer ao título de Rainha do Carnaval Brasileiro, como representante do Rio, e acabou conquistando a nova coroa no dia 14 de fevereiro.

Na verdade, antes de vencer o concurso já fazia sucesso com outras três vedetes no grupo “Mulatas de Bronze”, empresariado pelo argentino Gilberto Bria.

Foi a primeira rainha negra da Banda de Ipanema.

Não parou por aí, foi modelo de Di Cavalcanti e de Heitor dos Prazeres. Eleita uma das “Certinhas do Lalau” (mulheres consideradas as mais bem despidas, na coluna de Stanislaw Ponte Preta) . Foi vedete de Carlos Machado e Haroldo Costa.

Depois disso, viveu um verdadeiro conto de fadas ao se casar com o barão alemão Werner Von Hantelmann, tornando-se baronesa. Viajou por todo o mundo, mas sempre voltando ao Rio para desfilar no Carnaval,como destaque em praticamente todas as agremiações .

Após a morte do barão, casou-se com o italiano Raffaele Lauro, Ph.D. em Economia e empresário na Suíça, onde Helena morou por 25 anos.

Há cerca de uma década, já viúva novamente, Helena, voltou a morar no Brasil. Hoje passa despercebida pelas ruas, no supermercado ou na feira, frequentemente de calça legging e camiseta, mas de porte sempre elegante.

Convertida a igreja Internacional da Graça de Deus, Helena vive uma nova fase de sua vida. Publicou uma biografia,“Helena Cardoso: vedete e baronesa – como é que foi mesmo? ” na qual relembra sua incrível trajetória e os seus muitos carnavais.

As gêmeas da banda

Vislumbro duas possibilidades de condução do meu processo de envelhecimento: O caminho mais óbvio é contabilizar amarguras,insucessos,ressentimentos e frustrações e ir me transformando em um clichê de velho. Na contramão desse imagem negativa da velhice,as irmãs gêmeas Laura e Délia, com mais de 80 anos, entraram para a história da Banda de Ipanema e do Carnaval carioca. Quem frenquentou os desfiles da Banda nos anos 80, testemunhou a alegria incontida de duas octagenárias que rasgavam a camisa de força que o tempo nos vai impondo e caíam na folia. Esqueciam a sensiblidade ao barulho, a perda da visao, empurrões, pisões,o temor da violência, o tumulto inevitável da festa e simplesmente brincavam. A postagem de hoje é uma homenagem às duas gêmeas que jamais perderam a alegria de viver!