Eu não vim para explicar, vim para confundir

O destinos de duas agremiações do carnaval carioca, Grande Rio e Império Serrano se cruzaram com o do mais tropicalista dos comunicadores brasileiro: Chacrinha.

No carnaval de 1987, o Império Serrano, com seu enredo “Com a boca no mundo, quem não se comunica se trumbica”, sugerido por Fernando Pamplona e desenvolvido por Ney Ayan, teve o apresentador Abelardo Barbosa como uma de suas referências.

O comunicador, acompanhado de suas chacretes e Elke Maravilha, estreou na passarela do samba, como figura central do carro alegórico que encerrava o desfile. Foi sua primeira e única participação na passarela do samba. Chacrinha morreria um ano e meio após esse desfile.

Houve críticas a irregularidade da concepção dos carros alegóricos, mas de uma maneira geral a escola da serrinha mereceu a boa classificação: terceiro lugar.

Trina e um anos depois, o genial apresentador voltou a inspirar o carnaval da Sapucaí. A Acadêmicos do Grande Rio desenvolveu o enredo “Vai Para o Trono ou Não Vai?”.

Contando com a experiente dupla Renato e Márcia Lage, no seu primeiro carnaval na escola, a Grande Rio entrou para levar o título. Mas devido ao seu desfile caótico quase ganhou o troféu abacaxi, ficou em penúltimo lugar, “caindo” para a série A.

Um carro empacado na concentração destruiria os planos da escola. A última alegoria, que mostrava a infância de Chacrinha em Pernambuco, quebrou. O enredo contou de trás para frente a história de Abelardo Barbosa nos veículos de comunicação. Diante do problema os componentes pararam atrasando a evolução. Os cinco minutos do tempo estourado por conta do problema custaram cinco décimos na pontuação. E foi justamente no quesito alegorias e adereços que a Grande Rio perdeu mais pontos. Não houve nenhum 10. As notas de harmonia, alegoria e adereços, descredenciaram a permanência da agremiação no grupo especial.

A coirmã da Serrinha, que na década de oitenta, conseguiu um merecido terceiro lugar com o mesmo homenageado, ficou em último lugar. Após oito anos no grupo de acesso fez um desfile que apostava na emoção, mas que não sensibilizou muito os juízes. Além de uma profusão de notas baixas, a verde e branco foi punida pela apresentação curta, com 63 minutos, quando são 65 no mínimo.

Entretanto, Grande Rio e Império, caíram, mas não caíram! Um pouco confuso, não? Em vinte e oito de fevereiro, uma virada de mesa: os dirigentes das escolas de samba, em plenária na sede da Liesa, decidiram que as duas escolas teriam seu rebaixamento cancelado. A entidade alegou ter tomado a medida considerando as dificuldades financeiras pelas quais passaram todas as agremiações devido aos cortes nos repasses de verba pela prefeitura do Rio.

Para pedir a exclusão do rebaixamento, a Grande Rio se baseou no precedente aberto em 2017, quando a Unidos da Tijuca foi poupada do descenso devido a um acidente com uma de suas alegorias. Apenas Mangueira e Portela não apoiaram a mudança do regulamento na plenária. O carnaval de 2019, do Grupo Especial, terá quatorze agremiações.

O Ministério Público, no entanto, exigiu que a Liga assinasse um termo de ajustamento de conduta, para impedir uma próxima “virada de mesa”.

Subiu, caiu e acabou permanecendo. Confuso? Como dizia o velho guerreiro: “Eu não viu para explicar, vim para confundir”

Viagem encantada a Pindorama

…O acabamento das alegorias, o requinte ou mesmo a simplicidade do bom gosto das fantasias, a animação da Escola, puxada pela cantora Marlene formaram um todo que agradou a unanimidade dos dos espectadores…Merecem particular realce as fantasias da bateria cuja leveza contrastava com o vigor retumbante dos instrumentos. Um deficiente físico, caracterizado de Saci-Pererê, elemento componente do enredo, sambando em ritmo alucinante com uma perna só, foi outro dos motivos que empolgaram a assistência. As evoluções marcadas da famosa ala Sente o Drama, formando círculos em torno de uma bailarina para depois abrir-se em leque, constituiu talvez o maior destaque em termos de coreografia. Um pavão monstro confeccionado em acrílico funcionou como abre-alas, seguido de outra alegoria simbolizando o arco-íris que marcava o Reino Encantado de Pindorama. As cores do Império Serrano – verde e branco – compuseram maravilhosamente o cenário idealizado de um paraíso tropical, onde as vitórias-régias, esplendidamente esculpidas num verde garrafa bem vivo, se destacava na pluralidade dos verdes.Numa paleta que ia do verde escuro ao prateado, foi uma das primeiras escolas a utilizar as cores com engenhosidade.A última ala da escola,prateada, era a dos artistas,faziam uma performance:flores prateadas conversavam uma com as outras. Um dos mais felizes achados em termos de enredo de Escola de Samba, coroado pela felicidade da execução. Mas o que deu ao desfile do Império Serrano o seu maior esplendor, foi indubitavelmente a garra de seus componentes.Cada um … se entregou ao samba de corpo e alma. E todos saíram convencidos de que o bicampeonato estava assegurado.Entretanto, ganhou nota 5 em alegorias…com mais meio ponto seria bi-campeão , como todos esperavam.(texto adaptado da Revista Cruzeiro,autoria da foto desconhecida).Este era o terceiro de sete carnavais que o carnavalesco Fernando Pinto realizaria na Escola de Madureira.No ano de 1973, Mangueira sagrou-se campeã com Lendas do Abaeté e o Império ficou em segundo lugar.

Alegria Transbordante

`Alô, alô, Taí Carmem Miranda`, foi o enredo preparado pelo carnavalesco Fernando Pinto para a Império Serrano, em 1972. Com oito quadros, sendo o mais luxuoso o que representava o antigo Cassino da Urca,a Império foi a primeira escola a homenagear a cantora.Marília Pêra levou todo o elenco da peça A Pequena Notável para o desfile. Além de Marília, Tânia Sher, Leila Diniz, Isabel Ribeiro, Miriam Pérsia,Rosemary e Olegária representaram Carmem. Marlene, animadíssima, puxou o samba da Escola.Impressiona o flagrante de alegria transbordante eternizado na foto.(foto sem crédito publicada na Revista Cruzeiro).