O samba é uma criança- Viva Nair Pequena!

Mangueira no ano passado perdeu uma sambista na Avenida. Tinha quilômetros de samba na memória e nos pés. Chamava-se Nair Pequena.Caiu e morreu. Mas caiu e morreu legendária, cumprindo a sina da cabrocha e do passista. `Quero morrer numa batucada de bamba, na cadência bonita do samba` Porém a Mangueira não morreu, o samba está vivo, foi só Nair Pequena que pediu para abrirem alas, que ela estava cansada e queria dormir. Na Mangueira e no Salgueiro, na Portela e no Império Serrano o samba renasce a cada ano. Estamos falando de gente, de vida verdadeira, não se trata de alegoria. Olhem. Vejam o sambista da Mangueira com sua filhinha no colo. Reparem no sorriso dele, como transmite continuação, triunfo. e vejam como a mulatinha já abre os braços e já canta exatamente como sua mãe, exatamente como as dezenas de milhares que avançam na Avenida, chova torrencialmente ou faça um calor de rachar, tão logo as baterias anunciem a hora suprema. O pai exibe orgulhoso a própria filha e, dentro dela, como dentro dele, a própria felicidade que se exprime no carnaval e que nos fala de uma África tribal – o Brasil – de pai para filha, de família para família, sempre recomeçada e por isso imortal. Vejam! A garotinha já aprendeu o gesto, ela dança como gente grande, só que no colo paterno. Amanhã estará na Avenida mostrando a sua graça. É o que se lê no sorriso do homem. Nair Pequena morreu, viva Nair Pequena. Crônica escrita por José Carlos Oliveira. e publicada na Revista Manchete(6/3/1971)

Encontrei as seguintes informações no site: Estação Primeira de Mangueira: Nair dos Santos, a NAIR PEQUENA, uma das fundadoras da Estação Primeira de Mangueira, foi também a fundadora da 1ª ala feminina da escola, a “Ala das Cozinheiras”. Mas foi na ala das baianas que ganhou notoriedade, sendo considerada a mais famosa baiana da história da verde e rosa. Seu amor pela Mangueira era tão grande, que sua “passagem” foi em plena avenida: no desfile das campeãs de 1970, quando a escola ficara em 3º lugar com “Um cântico à natureza”, Nair Pequena “morreu de alegria, de emoção”. Toda a escola seguiu, como que num cortejo, com a bateria fazendo a marcação apenas com seu surdo de primeira.