Elza Soares no Salgueiro

No desfile de 2019, a presença feminina nos carros de som das agremiações de samba, do Rio de Janeiro, só fez aumentar.Surge uma nova geração de pastoras, como são chamadas as vozes de apoio aos intérpretes oficiais. Tecnicamente, elas contribuem com tons mais suaves o coro predominantemente masculino.

Júlia Alan, Cecília Preto, Rosilene Alegria, Larissa Cruz reafirmaram a importância do canto feminino para a hamonia do desfile.

O protagonismo masculino do canto, entretanto, foi quebrado há muito tempo pelo Salgueiro. Em 1969, com o enredo: “Bahia de todos os deuses”,de Bala e Manuel Rosa, a brava Elza Soares, foi convidada para ser a primeira puxadora de sambas de uma escola do Rio de Janeiro. Honrando seu lema “Nem melhor, nem pior, apenas uma escolar diferente” o Salqueiro inovou mais uma vez.

Pela primeira vez, a já consagrada sambista, desfilava numa escola de samba, “puxando” o samba enredo. Entrou pela porta da frente. Estreou de forma consagradora.

O carro de som era formado por Noel Rosa de Oliveira, Carlinhos Pepé e por Elza.Elza lembra: “Em 1969, não tinha horário para os desfiles. Desfilamos ao meio-dia, debaixo de sol forte(O calor excessivo fez a cantora passar mal), e eu estava sozinha. Eu não sabia que cantaria tantas vezes, mas dei conta. Hoje é mole puxar samba na avenida!”. Foi campeã na estreia. O Salgueiro conquistou seu quarto título.

Vale o registro de que antes de “puxar” o samba do Salgueiro na avenida, Elza, em 1967, já tinha gravado “O mundo encantado de Monteiro Lobato”, samba de Mangueira . No mesmo ano, gravou : “Portela querida” e “Palmas no Portão”, samba do Bafo da Onça.

O sucesso da ousadia salgueirense fez com que a Mocidade de Padre Miguel, escola da região onde a cantora passou a infância, a convidasse para defender os sambas enredos de 1973 (Rio zé Pereira), 1974 (A Festa do Divino), 1975( O mundo fantástico do Uirapuru) e 1976(Mãe Menininha do Gantois). A cantora, que por ter nascido em Padre Miguel, sempre foi Mocidade, assumiu de forma definitiva seu amor pela verde e branco.Amor ,inequivocamente, consagrado com a gravação de “Salve a Mocidade”, de Luís Reis, em 1974.

Ela ainda “puxou” quatro defiles. Em 1979, defendeu duas escolas: Acadêmicos do Cubango, com “Afoxé”; e Estácio de Sá, com “Das trevas ao sol, uma odisseia dos Karajas”. Em 1985, fez uma parceria com Quinho, na União da Ilha, com, “Um Herói, uma Canção, um Enredo”; e em 2000, de novo Acadêmicos do Cubango, por uma “Independência de fato”

Além da participação nos defiles, Elza gravou inúmeros sambas de enredo em discos.
Em 2020, Elza será enredo da escola da Vila Vintém. Ao longo de sua rica trajetória a cantora, uma sambista-jazzista, sempre se reinventado para sobreviver. brilhará mais uma vez no cortejo carnavalesco.

Provavelmente, as muitas “Elzas” estarão representadas na Sapucaí. Dentre elas, a intérprete pioneira de sambas de enredos, abrindo espaço num mundo, ainda hoje, predominantemente masculino.