Kevin Spacey, o passado te condena

Estreante no Carnaval carioca,no ano de 2009, o ator norte-americano Kevin Spacey chegou à Sapucaí acompanhado por um amigo e três assessores.

Spacey foi direto assistir ao desfile das escolas de samba. Kevin passou cinco dias no Brasil, foi sua primeira e única visita ao País.

Foi direto do aeroporto para o camarote da Brahma, na Marquês de Sapucaí. Levado à varanda para conferir a passagem da Grande Rio no sambódromo, “ele ficou visivelmente boquiaberto com a performance dos sambistas.”

Depois de observar a apresentação, foi atrás de uma cerveja e seguiu para o restaurante para jantar. Lá, pediu para não ser incomodado.

O ator, duas vezes vencedor do Oscar muito assediado durante sua passagem pelo carnaval carioca, foi acusado de ter assediado, sexualmente, o ator Anthony Rapp, quando este tinha apenas 14 anos de idade, há 30 anos atrás. Spacey, então com 26 anos, convidou o menor de idade, para uma festa em sua casa, esperou que os outros fossem embora e tentou seduzir o jovem à força. O jovem trancou-se no banheiro e nada aconteceu. Uma grave denúncia.

Parece muito tempo para a maioria das pessoas, mas para Rapp, não. Segundo Einstein: “A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.” Talvez para Anthony, os ditos momentos de terror, sejam recorrentes no seu pensamento, algo que ainda é presente.

A denúncia do ator de Star Trek abriu a porteira. Outros esqueletos no armário foram descobertos: Uma mãe de Massachusetts acusou Spacey, nesta semana, de ter abusado sexualmente de seu filho de 18 anos na ilha de Nantucket no ano passado. Oito membros da equipe de House of Cards afirmaram ser vítimas do ator, assim como o filho do ator Richard Dreyfuss, que revelou que Kevin o “apalpou” quanto ele tinha 18 anos. O cineasta Tony Montana disse que foi agarrado pelo ator em um bar de Los Angeles, em 2003.

Relatos semelhantes envolvendo outras celebridades hollywoodianas vieram à tona.

Dustin Hoffman foi acusado pela produtora Wendy Riss de tê-la assediado em 1991, o que teria sido para ela uma “fonte de tormentos.”

Em uma entrevista dada à revista “Times” em 1979, a atriz Meryl Streep acusou, o mesmo ator, Dustin Hoffman, de assédio no dia em que se conheceram.” Ele veio até mim e disse: Eu sou Dustin(arrotou) e colocou a mão dele no meu seio.”

A roteirista Jessica Teich acusou o ator Richard Dreyfuss de assédio sexual durante três anos da década de 1980.

Todos esses relatos são verdadeiros? Podemos inventar, também o passado. recriá-lo com conveniência. Se houve algum tipo de reciprocidade? Nunca saberemos, tudo pode ser manipulado.

Spacey soltou um comunicado pedindo “sinceras desculpas”, dizendo que não se lembrava do caso. Se desculpou por algo que não se lembrava?! E ainda buscou ajuda psicológica. Foi internado em um luxuoso centro de reabilitação na vila Wickenburg, no Arizona.

Spacey estaria pagando U$ 36 mil (cerca de R$ 118 mil) por mês no local, que seria considerado o melhor programa contra vício em sexo dos Estados Unidos. Por lá passaram celebridades como Tiger Woods, Elle MacPherson, Kate Moss.

Em janeiro de 2018, um grupo de cem francesas, entre elas, a atriz Catherine Deneuve, publicou um artigo com o objetivo de defender a liberdade dos homens de “importunar. ” O texto pretende contrapor o que chamaram de campanha de “delações” ou “caça as bruxas.”

Para Deneuve e as demais personalidades, as “delações” não servem à autonomia das mulheres, mas a inimigos da liberdade sexual, a extremistas religiosos, a reacionários e a quem vê o sexo feminino ” como uma criança que pede proteção. ”

Memórias de dor? Indenizações milionárias em jogo? Caça às bruxas? Busca de notoriedade? Passado falsificado? Qual o limite de uma abordagem?

Talvez no futuro, que assim como o passado – é uma ficção, encontremos as respostas, para as acusações que condenaram ao ostracismo um dos maiores atores da atualidade.

Minha riqueza foi para cadeia

Vemos na foto Adriana Ancelmo, primeira-dama do Estado do Rio de Janeiro, no desfile das escolas de samba do Grupo Especial em 2009. A consorte do governador posa de grande senhora da alta sociedade carioca, toda enfeitada com roupas e joias caras, que segundo a polícia federal, foram fruto de lavagem de dinheiro, ou seja, roubadas. A mulher do ex-governador é suspeita de ser beneficiária do esquema criminoso organizado pelo seu marido.

Só na joalheria Antônio Bernardo, Ancelmo totalizou R$ 5,7 milhões em compras de colares, alianças, pulseiras, pingentes, cordões e pares de brinco como o de turmalina paraíba, com diamantes de R$ 612 mil. Compraram 318 joias da grife.

Há comprovantes de pagamentos de US$ 30 mil nas lojas Van Cleef & Arpels de Connecticut e outros US$ 10 mil na Christian Dior, em Nova York. Apenas 40 peças , avaliadas em R$ 2 milhões, foram encontradas no cofre do quarto do casal, durante a operação Calicute, em meados de novembro, fato que levará a responder por crime de ocultação de patrimônio.

Semanalmente, todas as sextas-feiras, Adriana recebia uma mochila cheia de dinheiro. Os valores variavam entre R$ 200 mil e 300 mil. Eram propinas pagas à organização criminosa comandada por seu marido. Sônia Baptista, ex-secretária de Cabral, contou a polícia que as despesas corriqueiras do apartamento da família no Leblon consumiam 220 000 reais por mês.

Felizmente a grande maioria dos que frequentam as arquibancadas do sambódromo é de pessoas honestas. A massa dos que lotam a Sapucaí são cidadãos que ao longo do ano, estudam em escolas abandonadas pelo poder público, utilizam o péssimo serviço de transporte oferecido na cidade, padecem em filas de atendimento nos hospitais estaduais. Hospitais sucateados pelos mesmos governantes que agora estão sendo recolhidos às unidades carcerárias, igualmente abandonadas.

Minha riqueza, era assim que Sergio Cabral a chamava, foi presa em 6 de dezembro de 2016.Foi encaminhada para ala feminina do presídio Joaquim Ferreira, no complexo penitenciário Bangu 8, onde o marido divide cela com outros cinco presos.

No dia da prisão a Polícia Federal apreendeu mais 60 joias e R$ 53 mil em dinheiro vivo. A fatura do cartão de crédito do mês de agosto, apreendida no escritório de Adriana aponta que gastou R$ 92 mil apenas em despesas em hospedagem em um hotel em Londres. A ex-primeira-dama viajou 60 vezes ao exterior, em sete anos.

De acordo com agentes da penitenciária, quando a cela se fechou, Adriana gritou, em tom de raiva:` Eu disse que isso um dia ia acontecer`.

Adriana passou à prisão domiciliar em março de 2017. Ela recebeu o beneficio do juiz Marcelo Bretas, porque seu filho mais novo com Cabral tem menos de doze anos.

No dia 23 de novembro de 2017, Adriana, teve a sua prisão domiciliar revogada pelo Tribunal regional Federal da 2ª Região. Ela foi para ala feminina da cadeia pública da cadeia feminina de Benfica, a mesma em que está presa a ex-governadora Rosinha Garotinho.

A procuradora regional Monica de Ré sustentou à justiça que a prisão domiciliar de Adriana representava enorme quebra de isonomia `em um universo de milhares de mães presas no sistema penitenciário que não contam com o mesmo beneficio.

Para os procuradores, a prisão preventiva era necessária porque a liberdade torna altamente provável a continuidade da ocultação de patrimônio obtido ilicitamente.

A foto, de Alexandre Cassiano, flagra um falso momento de luxo de uma socialite equivocada. Elegância e requinte não podem ser medidos por grifes e joias caras. A verdadeira riqueza desfila todos os anos na passarela: gente pobre, humilde, sofrida, mas com um tesouro intransferível, dentro de si,a alegria.